Por que bem-estar e otimismo entre os jovens estão em queda
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O significado de felicidade sempre atiçou a curiosidade intelectual de pensadores, a humanidade se move pela busca de tal sensação.
Os estudos na área sempre sinalizaram que a alegria é mais recorrente na infância e na juventude e que, conforme vão passando os anos, envoltos em responsabilidades e preocupações, o bem-estar se torna mais difícil de alcançar.
Pois tudo indica que no frenético mundo que abriga a geração Z, a turma nascida entre 1995 e 2010, a curva não é mais assim.
Respeitado termômetro que afere a felicidade há mais de uma década, o World Happiness Report, conduzido pela Universidade de Oxford com apoio da ONU, mostra que, pela primeira vez, são elas, as novas gerações, que estão puxando a média geral para baixo, revelando tormentos e angústias em maior grau que os mais velhos — uma espécie de crise da meia-idade antecipada.
Uma das explicações para o cenário que o levantamento delineia reside no universo das redes sociais, no qual a turma Z está imersa no mais alto grau.
No mundo virtual, a felicidade é perigosamente idealizada, causando frustração a quem não se vê parte dela, e as respostas são muito rápidas, tudo a um clique de distância.
“É uma geração exposta a uma realidade editada e essencialmente imediatista, que cresceu habituada a ter as coisas na hora, entrando em desespero quando algo dá errado”, pontua a psicóloga Ceres Araujo.
A esse caldo soma-se o tipo de educação que predomina entre os jovens — os pais percorrem hoje uma via de mais diálogo justamente porque cresceram num contexto de maior rigor e não querem reproduzi-lo.
Eis aí um avanço, que embute, porém, uma ponderação: o exagero na dose, que deixa os seres em desenvolvimento sem freios, pode se desdobrar em um contingente com dificuldade de enfrentar as asperezas da vida real.
O recém-lançado Bad Therapy, da autora americana de best-sellers Abigail Shrier, cutucou o assunto, elevando a fervura. A autora sustenta que a superproteção dos pais é um dos motivos de os jovens de agora não conseguirem lidar com sofrimentos corriqueiros, um prato cheio para a decepção e tristeza, criando uma geração que não sabe ser contrariada.
Os estudos confirmam que a crise existencial típica dos 40, 50 anos está atingindo precocemente os jovens, que citam desilusões ao dar os primeiros passos na carreira e ansiedades sobre o futuro.
A estudante Flávia Marçal, 25 anos, sente-se frequentemente em débito consigo mesma, como se pudesse ir mais longe, sem conseguir. “Tenho a sensação de que as pessoas à minha volta sabem mais o que querem do que eu, que não tenho um propósito claro”, diz ela, que reconhece o lado tóxico das redes.
Por isso, aos poucos, está parando de acompanhar detalhes da rotina alheia, que em nada lhe acrescentam.
“Os temores dessa geração vão desde as perspectivas de carreira, que para alguns parece sem horizonte, até a saúde do planeta, receios que a pandemia intensificou”, observa a antropóloga Joanice Conceição.
As incertezas na economia são sabidamente um motor para angústias e, nessa geração marcada pelo imediatismo, elas soam ainda mais superlativas.
Sob todos os pontos de vista, a preocupação com o amanhã, intrínseca à espécie, é compreensível. O xis da questão é não deixá-la apagar o otimismo que define a juventude.
Publicado em VEJA de 5 de abril de 2024, edição nº 2887
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