quarta-feira, 16 de agosto de 2023

Entendendo o mundo das fake news.

Entendendo o mundo das fake news.

Como determinado relatos, por mais implausíveis que possam parecer, encontram multidões decididas a passá-los adiante e acreditarem neles como se fossem verdades. 

A questão aqui não é se as pessoas creem ou não nos boatos —já sabemos que sim—, mas como inferem a sua autenticidade, que recursos usam para concluir se podem ou não confiar na sua veracidade. 

Algumas décadas de pesquisa sobre boatos, e, mais recentemente, sobre esse peculiar tipo de boato que são as fake news, nos indicam pelo menos três bases para a decisão subjetiva sobre a confiabilidade de um relato. Por razões de espaço, tratarei hoje apenas da primeira delas: 

- a congruência entre o relato e as atitudes já adotadas pelo indivíduo ou seu grupo.

Atitudes são posições afetivas e cognitivas, estáveis e constantes, que supõem decisão já tomada sobre valores, princípios e preferências. 

Que atitudes já adotadas têm decisivo impacto nos juízos que fazemos é sustentado por número considerável de pesquisas. 

Preferência política, identificação, orientação religiosa, inclinações morais, tudo isso pesa na nossa percepção e no nosso juízo sobre os fatos 

e definitivamente nos inclina, de maneira mais ou menos inconsciente, para determinadas decisões que nós pensamos ser autônomas e baseadas puramente na razão.

Em suma, inclinações enviesam de forma decisiva as nossas decisões, inclusive aquelas sobre a confiabilidade do que escutamos ou lemos. 

Por isso, mesmo boatos absurdos são tomados como verdade, enquanto reportagens muito bem apuradas podem ser descartadas como mentiras deslavadas.

Conceitos e preconceitos estão tão arraigados que somos capazes de enfrentar, por eles, tanto o ambiente social quanto a própria realidade, mas não cedemos. 

Tornam-se filtros que nem sequer damos ouvidos ao que é dissonante da posição cognitiva e emocional que adotamos; menos ainda consideramos a plausibilidade do que está sendo dito. 

Assim, acolhemos integralmente o que confirma nossas expectativas e desejos, independentemente de qualquer juízo de probabilidade.

Pesquisas empíricas durante algumas décadas registraram como ondas de boatos foram, em várias ocasiões, congruentes com atitudes muito enraizadas no ambiente social, como o autoritarismo, o supremacismo, animosidades étnicas e nacionalistas, o medo de inversão do status social, a autodefesa em relação à moralidade sexual, preconceitos raciais e religiosos, o sentimento anticomunista etc. 

Há recusa de qualquer informação que desafie a crença, que contrarie as convicções arraigadas. Os aderentes aos fake News não permitem que uma malta de fatos concretos faça qualquer mal às suas lindas convicções.

Uma releitura de:

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/wilson-gomes/2023/08/por-que-acreditamos-em-fake-news-mas-nao-no-jornalismo.shtml?utm_source=pocket_mylist

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