O excesso de positividade se manifesta também como excesso de estímulos, informações e impulsos. Modifica radicalmente estrutura e economia da atenção. Com isso se fragmenta e destrói a atenção. Também a crescente sobrecarga de trabalho torna necessária uma técnica específica relacionada ao tempo e à atenção, que tem efeitos novamente na estrutura da atenção.
A técnica temporal e de atenção "multitastasking" (multitarefa) não representa nenhum progresso civilizatório. Trata-se antes de um retrocesso.
A multitarefa está amplamente disseminada entre os animais em estado selvagem. Trata-se de uma técnica de atenção indispensável para sobreviver na vida selvagem. Um animal ocupado no exercício da mastigação da comida tem de ocupar-se ao mesmo tempo também com outras atividades. Deve cuidar para que, ao comer, ele próprio meu acabe comido. Ao mesmo tempo tem que vigiar a sua prole e manter o olhou em seu(sua) parceiro(a). Na vida selvagem, o animal está obrigado a dividir sua atenção em diversas atividades. Por isso, não é capaz de aprofundamento contemplativo - nem no comer, nem no copular. O animal não pode mergulhar contemplativamente no que tem diante de si. Não apenas a multitarefa, mas também atividades como jogos de computador geram uma atenção ampla, mas rasa, que se assemelha à atenção de um animal selvagem. As recentes evoluções sociais e a mudança de estrutura da atenção aproximam cada vez mais a sociedade humana da vida selvagem.
Os desempenhos culturais da humanidade, dos quais faz parte também a filosofia, devem-se a uma atenção profunda. Essa atenção profunda é cada vez mais deslocada por uma forma de atenção bem distinta, a hipertensão (hyperattention). Essa atenção dispersa de carateriza pé uma rápida mudança de foco entre diversas atividades, fontes informativas e processos. É a ponte para o tédio moderno.
"Sociedade do Cansaço",
Byung-Chul Han
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