No país recordista mundial dos linchamentos cada vez mais gente confunde violência com justiça, opinião com fato. E muita sorte teremos se isso não acontecer de má-fé. A tradição nacional é, tristemente, de desrespeito aos direitos humanos. Admite-se serenamente a violência, desde que não nos atinja. Admitimos a extrema miséria do outro, como se de uma lei natural se tratasse.
O abismo sócio-econômico que separa larga parcela de brasileiros e assusta os estrangeiros em visita ao país está na raiz de todos os nossos problemas, mas não alcançamos compreender isso porque o outro, no Brasil, é cada vez mais o inimigo a abater e não um vizinho a acolher.
Somado à percepção de que o Estado é incapaz de prover segurança ou emprego, esse padrão de comportamento resulta numa cultura de resolução de conflitos por meio de mais violência - e daí, inclusive, os linchamentos.
Na esfera política, de uns anos para cá também se trucida gente em praça pública. O que deveria ser uma arena de conciliação por meio de debate transformou-se no circo romano em que alguém é ocasionalmente atirado aos leões para satisfação de uma plateia ignorante. Isso precisa ter fim.
Carlos Accioli Ramos
Na revista Vilas Magazine, de Lauro de Freitas, Bahia e região.
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