Quantos homens não vivem do sangue e da vida dos inocentes!
Uns, como tigres, são sempre bravios e cruéis;
Outros como leões, guardam certa aparência de generosidade;
Outros, como ursos, são ávidos e grosseiros;
Outros como lobos, são raptores impiedosos;
Outros como raposas, vivem de sua indústria, têm por ofício lograr.
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Há dogues encarniçados que só o furor têm por qualidade;
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Há símios e macacas que agradam pelas maneiras;
Há pavões que só beleza têm, cujo canto desagrada e que destroem o lugar onde habitam.
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Quantos papagaios não falam sem cessar e nunca ouvem o que dizem;
Quantas pegas e gralhas não se deixam amansar para melhor furtar.
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Quantas espécies de animais pacíficos e tranquilos não servem só de comida aos outros animais!
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Há víboras de língua venenosa cujo o restante tem emprego, há aranhas, moscas, pulgas e percevejos sempre incômodos e insuportáveis;
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Há sapos que só dão pavor e veneno;
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Quantos cavalos não empregamos em tantas coisas e não abandonamos quando já não servem;
Quantos bois não trabalham a vida toda para enriquecer aquele que lhe impõe o julgo;
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Lebres que de tudo têm medo;
Coelhos que se assustam e sossegam no prisco;
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Porcos que vivem na devassidão e no lixo;
Canários domesticados que logram seus semelhantes e os atraem para rede;
Corvos e abutres que só vivem da podridão!
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Quantos crocodilos que fingem derramar lágrimas para devorar quem com elas se comove!
E quantos animais subjugados porque ignoram sua força!
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Releitura de "Máximas e Reflexões Morais" La Rochefoucauld
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