O mundo surpreendido pela eleição de Trump. A europa em nocaute pela aprovação do Brexit inglês. Analistas estarrecidos com a ascensão de líderes de extrema-direita, como Marienne Le Pen na França e Bolsonaro no Brasil.
Pessoas informadas com dificuldades em enxergar as consequências de um mundo que atravessa uma grave crise de identidade.
Desde Margareth Thatcher e Ronald Reagan a concentração de renda no mundo cresceu vertiginosamente; oligarquias, verdadeiras plutocracias, surgem substituindo as democracias.
Este é o motivo central de tanta desordem, insatisfação, crises, violência e ascensão de líderes radicais pela extrema direita.
Esses líderes radicais da extrema direita têm sido eleitos pelo discurso anti-sistema, anti-mercado.
Ou seja - e no dizer de uma forma muito mais clara ainda - está existindo um combate entre as populações (que ganham as eleições através do voto) e o mercado (que pressionam e chantageiam eleitos, quando não os derrubam como aconteceu com a presidente Dilma.
O recente livro de Thomas Piketty, "O Capital no século XXI", considerado o melhor livro de economia das últimas décadas pela consistência da pesquisa e profundidade dos dados extraídos de diversos órgãos governamentais de países espalhados pelo mundo, esclarece de forma inquestionável esta violenta concentração de renda no mundo.
A vitória de Donald Trump nos EUA, a necessidade de Merkel compor, para formar seu governo, com a extrema direita alemã, a ascensão de outros líderes radicais pelo mundo e mesmo o Brexit indica de forma insofismável que a população, além de aceitar as ações dos seus governos, se movimenta contra o sistema dominante do neoliberalismo, com suas leis pró-mercado.
Cada vez mais fica estampada a constatação de que a democracia nunca existiu, ou deixou de existir desde que os governos adotaram os princípios do neoliberalismo, da "Escola de Chicago",
e suas leis de mercado.
O povo elege os seus mandatários pelo discurso de que farão seus governos com formulas contrárias aos princípios do neoliberalismo, e o mercado impede que a vontade da democracia, expressa no "sufrágio universal", seja realizada. Este é um chamado preciso e claro para a explosão de conflitos.
A partir de 2008, com a crise dos EUA, vários países aumentaram seus endividamentos, quando a crise financeira de alguns setores se transformou em uma "crise de dívidas soberanas". Ao mesmo tempo, aumentavam os lucros auferidos pelo chamado mercado, notóriamente o sistema bancário e financeiro, concentrando ainda mais a renda.
O poder democrático sendo usurpado e substituído pelo poder plutocrático, depois de um longo tempo em que a mídia marginalizou tudo o que é ligado ao coletivo, ao popular, inclusive as suas representações.
O grupo restrito que detém o alto capital, domina a mídia e através dela promove pressões e chantagens contra as instituições representativas das populações; os poderes legislativo, executivo e judiciário, como afirmou o Decano do STF, Ministro Celso de Mello entrevista à jornalista Mônica Bergamo:
“Eu honestamente, em 45 anos de atuação na área jurídica, como membro do Ministério Público e juiz do STF, nunca presenciei um comportamento tão ostensivo dos meios de comunicação sociais buscando, na verdade, pressionar e virtualmente subjugar a consciência de um juiz".
O povo já não organiza a sociedade, através do executivo. O povo já não equilibra a sociedade, através da formulação de princípios legais votados pelo legislativo. O povo já não faz mais cumprir essas orientações legais, através de judiciário.
Só dessa forma é possível exercer as democracias. Todas as constituições democráticas estabelecem logo no seu início que: "todo poder emana do povo e em seu nome é exercido de forma direta ou indireta através do seus representantes". Os representantes do poder (emanado do povo) de uma nação são o legislativo, executivo e judiciário.
Por isso, é possível perceber a desorganização intensa das sociedades nas últimas décadas, o desequilíbrio institucional impera.
A equação é clara:
população desequilibrada e desorganizada = instituições desequilibradas e poder desorganizado.
Se o poder está desorganizado e as instituições desequilibradas é impossível estabelecer a ordem.
O Estado colapsa, deixa de funcionar.
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