domingo, 19 de novembro de 2017

Verdades e mentiras dos leviatãs

As mentiras que nos contam para nos ludibriar e nos tornar os próprios defensores dessas "verdades" estão sendo desmascaradas pelas fluidez da vida moderna.
Foi assim com a bolinha de papel na cabeça de Serra, que levou o candidato a fazer uma tomografia para medir possíveis danos. Tão grave quanto a encenação foi a massiva cobertura da rede globo tentando corroborar a ideia de uma grave agressão por parte de baderneiros. Enquanto a Globo se ocupava em se solidarizar com Serra a internet rapidamente comprovou, com uso de tecnologia simples de análise de trajetória  do objeto, que se tratava de papel e não de algum tipo de petardo.

Situações são construídas ou desconstruídas pela mídia, independentemente da veracidade fática; quem não sabe disso?

Conto isso, para apresentar uma matéria (abaixo) que nos traz uma outra verdade, diferente da que nos contaram sobre a disputa de poder e as correntes econômicas de cada grupo, desde a época dos governos militares...

O tema bombástico é sobre um livro americano que fala de como os governos dos EUA criam políticas de aparência solidária, mas o real objetivo é manter os países periféricos dependentes, favorecendo as empresas americanas e consequentemente a economia do país, afinal tudo é "it's the economy", como disse dois ex-presidentes.

Trata-se das duas correntes (e os generais de 64 já sabiam disso) do pensamento econômico.
Uma a da total liberdade do capital, o "laisser faire,...", o "mercado desregulamentado".
A outra corrente a que traz o pensamento de que o Estado tem que proteger as empresas nacionais e a economia interna contra o "espírito animal" da concorrência predatória, nas quais empresas de menor porte (de capital, tecnologia ou lobby) não têm  chances de crescimento, ou mesmo de sobrevivência frente às leviatãs.
Briga antiga, desde da conhecida história de que dois grupos antagônicos de militares na época da "revolução" se degladiaram...

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"Novas Confissões de um Assassino Econômico", do economista americano John Perkins, conta como  os EUA  saquearam a América Latina.

O livro é a continuidade de  "Confissões de um Assassino Econômico", autobiografia de Perkins publicada em 2004, onde ele relata a sua carreira de "economista principal e consultor econômico" em uma grande empresa de consultoria. Ele fazia parte de um grupo de colaboradores cujos estudos ajudaram os EUA a pôr os países latino-americanos em dependência através de empréstimos do Banco Mundial e outras formas de dominação.

"Meu trabalho consistia em identificar países com grandes jazidas de petróleo, objetivo de nossas empresas norte-americanas. Depois, através do Banco Mundial e de seus parceiros lhes concedia enormes empréstimos. Mas o dinheiro nunca chegava a esses países, era transferido a empresas norte-americanas, incluindo construtoras como a Halliburton ou fornecedores como a General Electric", disse ele.

Segundo Perkins, posteriormente, "as empresas norte-americanas iniciavam projetos de infraestrutura nesses países, que traziam benefícios apenas ao negócio dos EUA e a famílias ricas locais, enquanto os países ficavam com enormes dívidas que faziam sofrer a população pobre e a classe média".

O escritor lembrou o caso do Panamá, onde deveria ser construída uma rede elétrica no território de todo o país. Os EUA concederam ao país um grande crédito para esse projeto.

"Mas o nosso objetivo real no Panamá era desacreditar o líder Omar Torrijos, ou seja, suborná-lo e fazer com que ele nos devesse uma grande quantidade de dinheiro para chantageá-lo e controlá-lo", confessou Perkins à Sputnik.

Entretanto, Torrijos tentou com que o seu país recuperasse o canal de Panamá, sublinhou Perkins. "O político de um pequeno país conseguiu opor-se ao grande poder dos EUA", acrescentou ele.

"Mas não se tratava apenas do controle do canal por parte dos EUA, Torrijos também se opôs ativamente ao imperialismo norte-americano. Se converteu em uma figura líder a nível mundial, tanto política como ideológica", afirmou Perkins.

Em 1977, Torrijos firmou um tratado com os EUA que previa que, a partir de 1999, o Governo do Panamá teria o controle total sobre o canal.

Em 1981, o líder panamenho morreu em um acidente aéreo. Nesse tempo Perkins trabalhava ativamente com a América do Sul. No seu livro "Novas Confissões de um Assassino Econômico" ele escreveu que Torrijos foi assassinado pela CIA.

Entretanto, o caso panamenho "foi uma exceção, porque se tratava de política". Havia "muitas outras maneiras de aproveitar-se dos empréstimos".

"Os melhores exemplos são o Equador, a Indonésia e a Colômbia, onde buscávamos o petróleo [...] Conseguimos que os Governos desses países aceitassem nossos enormes empréstimos e dessem em penhor suas reservas de petróleo", disse Perkins.

Foi assim que as empresas norte-americanas "receberam acesso a seu petróleo a preços muito baixos e boas condições de mercado sem ter que cumprir todas as normativas de regulamentação ambiental", disse ele.
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Perkins destacou que é "uma maneira muito antiga de estabelecer o controle sobre outro país, que tem sido usada por muitas potências mundiais, incluindo pela União Soviética"."

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Se os que falam que a liberdade total favorece o capital internacional e dilapida a economia nacional, o grupo contrário ao de Castelo Branco parece que estava certo, tanto que conseguiram fazer a economia brasileira crescer a níveis recordes e neste mesmo período grandes empresas nacionais foram criadas e prosperaram.

Essa proteção às empresas nacionais se dava nos subsídios dos empréstimos via BNDES, na criação de leis que criavam a obrigatoriedade do conteúdo nacional (dois princípios utilizados recentemente e que o "mercado" atravéz da mídia tanto criticou).

A preocupação dos governos militares em proteger as empresas brasileiras da fúria da concorrência externa chegou ao ponto do presidente Costa e Silva criou o decreto presidencial 64.345, de 10 de abril de 1969, e fechou com uma canetada as portas para empresas estrangeiras em obras de infraestrutura no Brasil.

Sem essas políticas de proteção, empresas nacionais - principalmente as que geram conteúdo de conhecimento e tecnologia - de grande porte, não conseguiriam prosperar. Sem esse protecionismo não teríamos empresas como EMBRAER, EMBRAPA, a tecnologia nuclear própria desenvolvida pela Obedrecht em conjunto com a Marinha, não teríamos empresas brasileiras com potencial de vencer concorrências no exterior.

Sobre protecionismo, é suficiente ver a forte interferência americana em tudo o que se refere à proteção de sua economia, inclusive a atuação intervencionista de Obama frente à crise de 2008.

E, viva o nacionalismo protetor da economia interna e que por ele um dia todos nós gritamos "o petróleo é nosso".

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