terça-feira, 30 de maio de 2017

Crises do capitalismo

As crises do capitalismo sempre foram vistas como uma oportunidade para se explorar as contradições internas do capitalismo e abrir caminho para uma alternativa socialista, ou de esquerda, como foi em 1929 e o surgimento do Estado de bem-estar social. Porém, após a crise de 2008, o que se vê é o fortalecimento da direita em todo o mundo. Qual a sua explicação para o fenômeno?

Não nos enganemos, a direita também cresceu nos anos 20 do século passado e nos anos 70, após a crise capitalista dos anos 60/70. É característico desses períodos o acirramento da luta de classes. Deve-se lembrar que o surgimento do Estado de bem-estar após a segunda guerra mundial só foi possível por dois fatores. Em primeiro lugar, pelo forte ascenso da esquerda, termos sindicais e partidários, desde o final do século 19, forçando o capital a conceder certas modificações formais, até para conseguir manter o seu conteúdo. Em segundo lugar, a existência de um bloco socialista – com todos os problemas que ele de fato teve – constituiu uma contraposição, fazendo com que o Estado de bem-estar nos países capitalistas se apresentasse como uma forma de impedir o avanço socialista nesses países.

O que o atual contexto nos mostra é um forte debilitamento da esquerda, que vem desde os anos 70, justamente dentro do crescimento do pensamento neoliberal, da crise do chamado socialismo real e do avanço de ideologias conservadoras, como o pós-modernismo, por exemplo. Junto a esse debilitamento da esquerda, a direita renasce e ganha forças no terreno político e ideológico. Isso é assim em momentos de acirramento da luta de classes. O que é específico da atualidade é a crise das estratégias de esquerda. Urge reconstruí-las, ao menos para quem é de esquerda.

O que está claro no atual momento é que uma estratégia de esquerda deve ser radicalmente antineoliberal como condição necessária, mas deve ir além, deve ser anticapitalista. Um neoliberalismo reformado, com retoques de políticas sociais compensatórias não serve mais, se é que serviu em algum momento.

Trecho da entrevista ao Brasil Debate, Marcelo Dias Carcanholo, presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP)

Nenhum comentário:

Postar um comentário