segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Causas e efeitos

Por Wilton Cardoso Moreira

O individuo "de jure"  e a ideia de modernidade líquida de Bauman são uma boa descrição da situação das pessoas na sociedade atual. Antes dele, Christopher Lasch (a quem Bauman se refere algumas vezes) já tinha detectado, no final da década de 70, este individualismo frágil, que ele chamou corretamente de "narcisismo", pois o indivíduo atual é consumista, tem laços sociais frágeis e é exibicionista, obsecado por aprovação pública.

Mas este individualismo narcisista de Lasch e Bauman são sintomas da sociedade pós-moderna. Qual a sua causa?

A causa só os marxistas podem nos explicar e, mesmo assim, alguns deles, heterodoxos dentro do próprio marxismo, que são os teóricos da crítica do valor. Desenvolvida a partir dos anos 80 a crítica do valor tem Robert Kurz (falecido) e Moiche Postone como proncipais teóricos.

Esta teoria afirma, entre outras coisas, que o capitalismo é, antes de mais nada, um sistema social total (e não apenas um sistema econômico ou um modo de produção) e que o valor é uma forma socialque subjuga a todos, sem excessão, a seu único objetivo: gerar mais valor (mais valia). Se a economia é central nas análises marxistas, isto se dá porque o capitalismo tornou a economia central na sociedade moderna e obrigou as pessoas a se converterem em "homo economicus".

A crítica do valor retoma a ideia de Marx de que o capital é o verdadeiro sujeito automático e que a subjetividade no capitailismo é uma ilusão, pois todos, em última análise, são guiados (inconscientemente) pelo sujeito automático do capital.

O sujeito automático (o capital) é a causa dos sintomas descritos por Bauman e Lasch. O narcisismo, o individualismo "de jure", o consumismo, a aceitação de si mesmo como peça substitiúvel no mercado, a educação para a profissão e a obsessão pela formação contínua, a autoculpabilização de si mesmo pela perda do emprego, a transformação do eu em empreendendor, caracterísicas "normais" e até valorizadas da personalidade contemporânea, são consequências da sujeição dos indivíduos aos "valores" do sujeito automático do capital: competição desenfreada (agora também entre indivíduos) e transformação de valor em mais valor.

Segundo a crítica do valor, com a submissão das pessoas ao sujeito automático (capital) o capitalismo promove uma inversão que nenhum outro regime anteiror promoveu: a vida integral das pessoas é submetida às leis impessoais e inflexíveis do capital, ao invés da crença liberal (e até das esquerdas) de que o dinheiro/valor é que serve à vida humana.

Parece radical demais? Olhemos à nossa volta, no mundo insteiro. O capital e suas leis prevalecem em cada palmo de terra...

P.S. Discordo do autor quando ele diz que todos os partidos perderam. As agremiações que assumiram o individualismo narcisista como programa, como PSDB e os partidos fortemente evangélicos, ganharam e tem boa chance de se firmarem. Não como partidos tradicionais, mas como agrupamentos de ideias neoliberais, O parece que o Brasil deu uma guinada para a direita e o narcisismo. O problema é o mal estar que o projeto neoliberal/narcisista provoca.

Comentário ao artigo:

http://jornalggn.com.br/noticia/todos-os-grandes-partidos-foram-derrotados-por-assis-ribeiro#comment-996650

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