O Brasil é um país do “faz de conta”. Por aqui se pensa o Brasil do primeiro mundo, com população entre as mais pobres e um dos lideres de pior distribuição de renda e desigualdade social. Acredita-se sermos respeitadores dos trabalhadores, com mísero salário mínimo de R$ 880,00, isso graças aos ganhos reais formulados pelos governos do PT; um dos motivos da derrubada de Dilma, exposto por economistas do PSDB que declaram ser o nosso salário mínimo insustentável. Por aqui se escreve um livro denominado 'Não Somos Racistas', de autor execrável e inominável, neste mesmo país onde o sistema carcerário tem 67% de pretos. Acredita-se sermos o país do futuro, onde 56% dos encarcerados são jovens, onde os golpistas aplaudidos criticam e prometem cortes no Bolsa Família (aqui outro motivo do golpe), programa que para se ter direito a mãe tem que apresentar certidão de frequência na escola dos filhos, cujo objetivo é evitar a evasão e crianças nas ruas e a apresentação da caderneta de vacinação, evitando gastos médico hospitalares governamentais.
O País do “faz de conta”, onde um senado formado por homens
probos que não respondem a processos de corrupção derruba uma presidenta que
responde por corrupção e participe das listas de delações premiadas como
criminosa. Perdoem-me a ironia.
Começa o novo governo e, - surpresa, os nomes são os mesmos
desde a chamada redemocratização (aliás, mais um Faz de Conta); o mesmo “centrão”
do PMDB, PP, e agora o PSB com a saída dos seus quadros dos esquerdistas. Volta
ao poder o arcaico DEM e a ele se juntam, no arcaísmo, o PPS e o PSDB. Tudo
isso pela procura do novo, de uma era de mudanças. Risível e prenúncio de
tragicomédia no ar.
No “faz de conta” acreditam que eliminando alguns
ministérios (será que vão) irão criar superávits. Pensam que cortando a
subsistência de famílias pelas tesouradas em projetos sociais irão economizar
(talvez para gastar com o aumento das despesas médico-hospitalares e prisionais
causados por desassistência social). Pensam que cortando gastos de investimento
farão a economia girar.
Toda a ladainha dos golpistas não foi suficiente para criar
otimismo no mercado (eles adoram, atenção a bolsa não disparou com a entrada
dos golpistas no poder), a farsa começa a desmoronar entre aqueles que se
iludiram, tal qual ocorreu com “o corvo”, e tantos outros, logo após o golpe de
64.
Pesquisas não foram
suficientes para demonstrar que os governos e empresas pelo mundo estão
endividados e sem mais condições dos governos suprirem os caixas das empresas,
contratando-as para serviços, cuja riqueza gerada retornava via impostos. Então
se prefere o faz de contas de que um novo mundo surgirá com a mesma política
que já afundou, mais recentemente, a Grécia e a UE.
Renovação para valer, ou para quem quer crer.
Os mesmos nomes, os mesmos partidos, a mesma imprensa
caolha, irão implementar as reformas fiscal e tributária, onerando os mais
ricos para desonerar a classe média?
Esse grupo de oligarcas vai fazer a reforma politica séria e profunda
que insira a população, insatisfeita com o modelo, nos debates do país?
As políticas que serão implementadas serão as mesmas do
governo de FHC que para sanar as contas entregou a preço de banana as nossas
lucrativas empresas; para agradar o empresariado tirou direitos e conteve o
aumento dos salários dos trabalhadores; para agradar a imprensa irrigou o bolso
dos seus verdadeiros patrões; e para agradar ao estrangeiro fará, mais uma vez,
sangrar as nossas veias como demonstra Eduardo Galeano em seu famoso livro
sobre a historia do continente; fazer o papel de mico como fez FHC em foto
histórica em que faz cara de pateta com Clinton pressionando os seus ombros e
no homérico esporro desmoralizante que o mesmo Clinton aplicou à FHC em conferencia
onde o mandatário brasileiro exercitava o seu tradicional queixume aos demais
lideres presentes.
E o que diz Thomas Piketty, em seu
magistral livro “O Capital no Sec. XXI”, aplaudido, pela consistência de dados
e conclusões do estudo, por todos da esquerda à direita (“faz de contas”)? O
estudioso afirma a crise e aponta como única solução, dentro das metodologias
conhecidas, a taxação de mais impostos entre os 1% (atenção, aumento apenas
para os 1%). E qual o político ou partido pelo mundo que conseguiu incorporar
tal informação em suas propostas e discursos?
Então, “faz de contas” que a
democracia existe, que os parlamentares representam a população, que
implementarão as reformas necessárias, que vão desonerar a classe média, que
vão fazer o mundo crescer de forma justa e equilibrada como o conceito de
democracia exige.
Para manter tudo como está - não
aceitaram a continuidade das mudanças implantadas no continente
latino-americano - derrubam-se governos e retiram parte dos avanços realizados,
estancam a melhoria da redistribuição de riqueza, aumentam a força de repressão
que nos Estados periféricos fazem das policias, inimigas do povo; e da justiça,
inquisidora.
Como novo e reformista, cria-se a
sociedade do medo para fazer com que as pessoas aceitem as maiores limitações pela
força da repressão e promessa ilusória de mais segurança.
Essa é a faceta estendida das
doutrinas americana “guerra ao terrorismo” e ”eixo do mal” que é absolvida pelo
governo deposto que defendeu a infame lei antiterrorista brasileira, e que trouxe
para dentro do conceito “eixo do mal” o próprio PT, incluso seus políticos,
seguidores e afins e o princípio de
“guerra ao terrorismo” declarado de forma clara e precisa pelo novo
Ministro da Justiça do governo Temer, quando se referiu às manifestações contra
o impeachment como "atos de
guerrilha": "Eu não diria que foram manifestações. Foram atos que não
configuram uma manifestação porque não tinham nada a pleitear. Tinham, sim, a
atrapalhar a cidade", afirmou.
Mudanças no Brasil da “casa grande
e senzala”, realizadas pelo que há de mais conservador na nossa classe
politica, extrapola até mesmo o jogo do “faz de conta”.
Como se diz, “conta outra”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário