terça-feira, 5 de abril de 2016

O Brasil em luta constrói a Segunda Abolição

Em conluio com a mídia, os golpistas tentam roubar novamente a alma do Povo Brasileiro - escravizando seus ouvidos, olhos e emoções.

Por Vanessa Maria de Castro e Magda de Lima Lúcio, na Carta Maior.

O Brasil que sonhamos é de todas e todos, ele  é de todas as almas, de todos os amores e todos os pendores.

O Brasil que sonhamos tem um sabor diferente de qualquer outro lugar, ele cheira a vatapá, caruru, abará, pipoca, paçoca, dendê, mungunzá, água de cheiro, alecrim, canela, cravo, doce esfriando na janela, café coado na caneca, caldo de cana e pastel na feira.

O Brasil que amamos tem todas as faces - branca, preta, amarela, vermelha, marrom, bege e azul.

O Brasil que amamos acolhe a todos com um grande sorriso e como um anjo protege a todos sob suas asas.

O Brasil de agora tem uma parte que é adolescente mimado e raivoso, incendiário, sem um ter um pai e uma mãe amorosos para acolher tantas emoções em descontrole.

Este Brasil é aquele acostumado a mandar na senzala, ver o pobre sempre no seu lugar, ou seja,  na sua cozinha a fazer o almoço de domingo para seu desfrute, seu deleite.

Este Brasil acabou.

E como uma criança malvada esperneia e machuca quem lhe tira o brinquedo. Esse brinquedo serviu para humilhar e torturar milhares e milhares de pessoas ao longo de centenas de anos.   

O Brasil está dividido, dividido pelo ódio, pelo rancor, pela raiva, pela vingança, pela ignorância, pela violência.

O outro lado diz - o Brasil é para todos e todas.

E isso tem gerado ódio de classe, ódio de cor, ódio de raiz, ódio de mulher, ódio de gay.

Ignora-se que a raiz do Brasil é indígena, é portuguesa, é africana.

Assim se construiu a grande Nação Brasileira, nessa mistura de cores, sabores, credos e odores.

O Brasil é um país multicolorido, multicultural. 

A luta hoje é para permitir que estas cores e culturas brilhem no céu brasileiro, na terra brasileira, nas águas brasileiras.

O Brasil que amamos é um país esfacelado pelas dores dos amores e sonhos perdidos na esquina do desassossego,  na qual homens egoístas e ávidos por tomar de assalto à Nação passam seus dias à espreita.

“Escusas” disse o Povo, “assim não vai mais ficar”.

O Brasil vai mudar, doa a quem doer, ele vai ter que crescer.

Crescer dói, já falavam nossos avôs. Estamos crescendo e há um lado que deseja manter suas conquistas.

Conquista em tempos modernos significa continuar roubando o fruto do trabalho alheio, para poder descansar e nada fazer. 

Roubo é uma palavra que este país, sempre conheceu.

Os brancos que aqui chegaram dizimaram os índios, ou melhor, os brancos até hoje roubam a vida dos índios.

Os brancos que para cá vieram, trouxeram em seus navios os negros, roubados de suas terras, tiveram também suas almas roubadas.

Tempos sombrios aqueles que emparedar era a arma do senhor de engenho, ainda em voga no Brasil.

Os brancos de hoje insistem que se mantenha a mesma chancela de outros tempos em que a Lei era uma prerrogativa dos que detinham o poder econômico e social.

A democracia, palavra cunhada na antiguidade, na qual a Ágora era seu palco e que somente os “homens de bem” tinham fala e podiam exercitar sua cidadania.

A era moderna lhe dá nova roupagem.

Nos dias de hoje, no Brasil, e em solidariedade vários povos ao redor do mundo, mulheres e homens, de todos os matizes, raças, orientações sexuais e credos, estão nas ruas defendendo o Brasil dos Sonhos.

Para realizar o sonho tem que ter partilha e é neste momento em que nos encontramos.

Pela via do discurso e da ação disputa-se o projeto de Nação com outros sentidos e significados para a Democracia.

Sentidos que incluem, reconhecem e apontam para o futuro.

O Povo Brasileiro foi às ruas dizer o que deseja. O povo com sua luta não mais aceita as regras estabelecidas pelos que sempre mandaram na nação. A festa acabou, o povo avisou que não irá ficar calado e não mais voltará para a senzala, tronco ou qualquer outro esconderijo para fugir de capitães do mato ou congêneres. 

Aqueles que sempre ganharam no grito, ganharam ceifando a vida de muitas  brasileiras  e brasileiros, hoje escutam -  o jogo virou e ninguém mais determina os rumos da nação sem que nós participemos.

Há mais de uma década o Povo Brasileiro decidiu fazer valer a máxima “um homem, um voto”. E hoje o grupo historicamente opressor do Povo Brasileiro quer aplicar sua própria regra: se ganho é legítimo, se perco viro o tabuleiro e o jogo não foi válido.

E esbraveja:  Vamos começar de novo. Agora sob as regras por e para ele, os opressores de sempre.

Querem ganhar no grito, na ameaça, ou matando se for preciso, como sempre fizeram.

Assim está o Brasil.

Tentam hoje, sob a roupagem, não mais de capitães do mato ou de jagunços, mas sob chancela da tinta da legalidade, ao arrepio da Lei Maior. Em conluio com a mídia tentam roubar novamente a alma do Povo Brasileiro – escravizando seus ouvidos, olhos e emoções, no limite escravizando seus filhos.

Mas o que importa para o Povo é a vida no seu dia-a-dia.

É a labuta diária, amores vividos e perdidos.

Amores esses que lhe saíram das entranhas e tiveram suas vidas roubadas, como nossos jovens negros no Brasil, que estão encontrando os sete palmos de terra prometida.

São Mulheres, as Severinas, que gritam a morte destes filhos ausentes, que não mais aceitam esse Brasil sedento  por se embranquecer a qualquer custo.

Pode-se ouvir o grito dessas mulheres nas ruas de todo país. São gritos por liberdade.

O Povo Brasileiro não é  mais escravo da casa grande e aprendeu a reclamar por seus direitos, por sua vida, por sua liberdade.

Essa conjuntura nos levou à Segunda Abolição, ainda em curso, por isso em disputa.

A primeira abolição nasce da era moderna na qual a mercadoria – escravo – não trazia mais vantagens econômicas.

Hoje se inaugura a Segunda Abolição.

Se antes tínhamos as senzalas, hoje temos o chão de fábrica, a cozinha e o quartinho na casa dos senhores.

O Povo Brasileiro avisou à casa grande: o seu reinado acabou.

E seguiu-se uma recuperação das raízes do Brasil, raiz de amor e respeito à Terra, à Nação e a seu povo, seja ele qual for.

O Povo Brasileiro ama esta Nação e nunca fugiu da luta para construi-la e fazer cumprir seu ideal.

Não terá mais chicotes ou troncos que tolham este processo profundo de transformação dizendo não à senzala, não ao tronco, não ao roubo de suas almas, não à escravização de suas filhas e filhos.

O Brasil acaba de virar uma página de sua história de segregação, de humilhação, de subordinação, de discriminação, de machismo e repulsa.

A pequena parcela branca que sempre reinou aqui, mas que nutre uma profunda vergonha de ser brasileiro, que para entrar no jogo internacional deveria antes de mais nada entregar o Brasil como um espólio, que sua vergonha de ser brasileiro, filho de índio, negro escravo e europeus pobres, lhes deu o único papel possível neste jogo perverso: carcereiros da Nação.

Infelizmente este grupo não percebe que também é mais uma peça no tabuleiro gigante que é o planeta. Prefere ignorar para manter seus privilégios.

Nos últimos anos o Povo Brasileiro compreendeu e disse um sonoro não. Mas somente um não, não seria suficiente. 

E assim, por meio da negação, da ação e da luta,  o Brasil não permite que sua história se reduza a dores e torturas. 

A colonização acabou e é isso que o Povo Brasileiro está a celebrar nas ruas.

Não existe mais o dono do Brasil.

Este pretenso dono que mandou no Brasil, durante séculos, se debate ensandecido.

A colonização acabou.

Precisamos fazer valer essa máxima. Novos tempos estão sendo tecidos e desenhados e um nova roupagem irá cobrir o Brasil de amanhã. Faremos desta Terra o que a ela foi destinada – Uma grande Nação para os povos de todo o mundo.

Dos pretensos donos foram retiradas as chaves dos céus e das terras brasilis.

Nada poderá conter a determinação do Povo Brasileiro.

O Brasil mudou. Jamais será o mesmo.

Neste momento lembramos Darcy Ribeiro, em seu livro - O Povo Brasileiro - ao indagar porque o Brasil não deu certo? Darcy respondeu: Porque a elite brasileira nunca deixou.

Dizemos hoje a Darcy - Querido Mestre, O Povo Brasileiro venceu  o medo, venceu o terror, venceu o horror, venceu a escravidão, venceu a humilhação, venceu o preconceito, venceu o machismo, venceu a opressão. 

Embalado pelo espírito da vitória construirá a Grande Nação Brasileira, multicolorida, multiétnica.

Seja o que vier, o Povo Brasileiro sabe que tem  força e garra, que mudará tudo se preciso for, porque sabe que é vigoroso e guerreiro.

O Povo Brasileiro teceu sua história com fios de amor e respeito ao Brasil. Nunca se comportou como aventureiro, como adolescente mimado dando birra. Aqui sempre esteve e sempre estará.

Tá feito! O povo ocupou o seu lugar na grande democracia moderna, as ruas.

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