sábado, 23 de abril de 2016

A Construção da estupidez em massa no Brasil

É certo que antes da chegada do invasor europeu, guerras entre diversas nações indígenas nos deixaram indícios da presença de intolerância entre estes povos. Nada disso, entretanto, pode ser comparável à verdadeira chacina e ao festival de preconceito, intolerância e ódio que marcaram a chegada dos cristãos ao Brasil.

A partir disso, todo o modus vivendi das populações indígenas tornou-se alvo de forte preconceito por povos que, por dominarem certas tecnologias, consideravam-se intelectualmente superiores (eurocentrismo). Roupas, pinturas, comidas, costumes, sexualidade, agrafia, adornos, cortes de cabelo, etc. Andar nu passou a ser considerado imoral e indecente, não saber escrever passou a ser sinônimo de burrice, não constituir família monogâmica e heterossexual (ao menos na aparência) passou a ser condenável, cortes de cabelo, adornos corporais indígenas foram ridicularizados e o modo de comer e de viver dos indígenas foi considerado ultrapassado. Usaram, além disso, os mesmos julgamentos para os povos africanos que cá residiam.

Universidades? Nem pensar. Quando é que colônias precisariam de universidades, pensavam os portugueses que, por sua vez, enviavam seus filhos para estudar na Europa. Enquanto isso, todos os países vizinhos, ocupados pelos espanhóis, construíam suas universidades. Somente muitos séculos depois que a burguesia se tornou independente de Portugal, num contexto em que o Brasil encontrava-se culturalmente bastante atrasado, é que se fundou a primeira universidade brasileira.

Escolas? O processo massivo de escolarização, no Brasil, iniciou-se também muito tardiamente, uma escola excludente, elitista e racista. E como educação é coisa incrível, mesmo esta universidade recém-nascida (as europeias já tinham mais de 400 anos) e esta escola excludente foram os germes de processos revolucionários que culminaram com a organização de centenas de entidades estudantis, protestando contra a exclusão social e a pobreza, geradas pela exploração sistemática do país ao longo dos séculos por nações europeias.

Era preciso, mais uma vez, estupidicar nosso povo. Receita? Ditadura militar. Para converter uma população explorada em cordeiros servis, obedientes, era preciso uma escola de robôs, uma escola sem pensamento crítico, sem sociologia, sem filosofia. E assim fizeram, por décadas, os milicos, com a ajuda de uma TV igualmente emburrecedora. As disciplinas científicas, pautadas em conteúdos igualmente acríticos e descontextualizados, também foram fundamentais neste processo.

O ensino das ciências, na universidade brasileira, fortemente inspirada no modelo alemão, com laboratórios, jalecos, equipamentos e vidrarias, foi também fundamental para dar aos cursos superiores um caráter de “neutralidade”, de despolitização, para tentar retirar do ensino superior seu caráter formativo do ponto de vista sociopolítico e filosófico. Nas engenharias, idem, na medicina, na odontologia e até mesmo nos cursos do campo das humanidades, instalou-se a estupidez, a falta de possibilidade de produção intelectual, de crítica, de construção de conhecimento no âmbito dos cursos de graduação. A universidade passou a ser, não só no Brasil, mas em quase todo o mundo, um centro de formação profissional que visava garantir empregos e oferecer o “sucesso individual” descomprometido com um projeto de sociedade.

Nos últimos anos, a escola e a universidade já reconhecem que uma mudança estrutural é necessária, mas sua prática continua como a história de um pequeno povoado que ouvi, certa vez. Nesta, a população, depois de passar muitos anos caçando ursos, exerceu uma pressão de caça tão forte que quase extinguiu estes animais, passando então a sobreviver da pesca. A escola desta historieta? Adivinhem! É claro, prosseguiu ensinando a caçar ursos.

Outro elemento que possibilitou a reemergência de uma sociedade fascista no Brasil foi a popularização das redes sociais que, segundo Umberto Eco, “deram voz a uma legião de imbecis”. Ativistas virtuais como Leonardo Sakamoto e Jean Wyllys, além de outros militantes de movimentos sociais, tornam-se alvo de haters e de troleiros a ponto de serem obrigados a fechar suas páginas para comentários. E num contexto onde a estupidez campeia, nada mais adequado, para coroar esta ópera bufa, do que a glorificação de figuras como Olavo de Carvalho, Jair Bolsonaro e Marco Feliciano.

E a Pátria Educadora com corte de 9 bilhões para a educação? Seria a pá de cal?

Por mestre YODA
No blog de Luís Nassif

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