sábado, 12 de março de 2016

Foi uma noite de gala, por Vitor Marques e Jeter Gomes

O ser humano é um animal que possui a capacidade de ao longo da vida, mudar de opinião. Isso pode ser positivo ou negativo, de acordo com o sentido das mudanças. Por vezes, significa uma evolução no pensamento, na forma de enxergar os fatos. Noutras, um retrocesso, um caminhar de ré, ou simples hipocrisia, com inflexões ao sabor de interesses escusos, ora aplaudindo, ora rejeitando fatos e conceitos similares, conforme interesses culturais, financeiros ou político-ideológicos.

Hoje, o ex-presidente Luis Inácio é esquadrinhado com lupas pela Polícia Federal e pelo Ministério Público; exposto exaustivamente pela mídia;execrado em praça pública, a partir de "suposições", "indícios", "tudo leva a crer que"; em relação à razão da existência e às atividades do Instituto Lula.As acusações,em geral, dizem respeito às relações entre o público e o privado. Mas nem sempre se perseguiu ex-presidente da República por ter arrecadado recursos com empresários para montar um instituto, fato muito corriqueiro nos EUA.

Voltemos no tempo. Corria o ano de 2002, em plena vigência do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Uma matéria na revista Época, assinada pelo jornalista Gerson Camarotti, hoje na GloboNews, do mesmo grupo de mídia, intitulada "FHC passa o chapéu", iniciava  com a frase "Foi uma noite de gala".O que será que havia ocorrido de tão pomposo naquela noite, que mereceu tamanha admiração?

Aos fatos: o presidente Fernando Henrique Cardoso reuniu 12 dos maiores empresários do país para um jantar no Palácio da Alvorada (espaço público, repare bem), com o objetivo de angariar recursos para aquele que seria o Instituto Fernando Henrique Cardoso - IFHC. Entre os presentes, Jorge Gerdau (Grupo Gerdau), David Feffer (Suzano), Emílio Odebrecht (Odebrecht), Luiz Nascimento (Camargo Corrêa), Pedro Piva (Klabin), Lázaro Brandão e Márcio Cypriano (Bradesco), Benjamin Steinbruch (CSN), Kati de Almeida Braga (Icatu), Ricardo do Espírito Santo (grupo Espírito Santo).

Segundo o extasiado jornalista, "Diante de uma plateia tão requintada, FHC tratou de exercitar seus melhores dotes de encantador de serpentes.", e explicou que o Instituto a ser criado, além de atividades como palestras e eventos, abrigaria todo o arquivo e a memória dos oito anos de sua passagem pela Presidência. A instituição seguiria o modelo da ONG criada pelo ex-presidente americano Bill Clinton.

Camarotti, deslumbrado com a elegância do príncipe da sociologia, relata que o jantar foi regado a vinho francês ChâteauPavie, de Saint Émilion (cerca de US$ 150 a garrafa, à época). Orequintado cardápio preparado pela chef Roberta Sudbrack - ravióli de aspargos, seguido de foiegras, perdiz acompanhada de penne e alcachofra e rabanada de frutas vermelhas (provavelmente bancado pelos cofres públicos), talvez tenha animado os comensais, uma vez que "bateram o martelo"pela criação de um fundo de R$ 7 milhões (cerca de R$ 15,5 milhões, corrigidos), o que levaria cada empresário a desembolsar R$ 500 mil, à época (cerca de R$ 1,2 bilhão corrigido). Para aliviar as despesas, foi sugerido que cada um dos 12 presentes convidasse mais dois parceiros para a divisão dos custos, o que elevaria para 36 empresários o número total de empreendedores no IFHC.

Matéria completa:
http://jornalggn.com.br/noticia/foi-uma-noite-de-gala-por-vitor-marques-e-jeter-gomes

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