terça-feira, 22 de março de 2016

Casa Grande e Senzala

"Os velhos senhores de terra, seus feitores e capatazes permanecem sordidamente escondidos por trás de ternos e gravatas, diplomas e títulos, e suas inequívocas taras de dominação e exploração, de reprodução da intolerância e da injustiça, e seguem escondendo o seu principal segredo: desejam o fim da democracia, pois a soberania popular é o único caminho para refrear seus assanhamentos autocráticos. 

A estratégia de esconder a vontade de perpetuação da desigualdade (de mercado) por trás do suposto combate à corrupção (do Estado) tem obedecido a três procedimentos: a inversão das ideias, a infantilização dos símbolos e o sequestro das palavras. Como já se disse, patentes corruptos se colocando na condição de paladinos contra a corrupção, patos de borracha, bandas covers, groupies de torcida, comparação da política com desenhos animados, tudo culminando em setores golpistas se autonomeado de “revoltados”, de “indignados” e afins. Enquanto isso o país se desmonta em um clima de desagregação do tecido social.

O estranho consórcio entre grande imprensa, sistema judiciário e policias saiu do controle até das próprias cúpulas dos três poderes. Mais do que um golpe em curso e um Estado desgovernado o que estamos assistindo é a composição de uma sociedade descontrolada. É certo que a sociedade brasileira sempre teve a violência entranhada em todos os seus poros, como evidenciam nossos traços colonialistas, escravagistas, patriarcais, patrimonialistas, privatistas, machistas, racistas, homofóbicos, entre tantas outras patologias sociais presentes na estrutura social do país, mas na atual conjuntura tamanha intolerância e ódio tem feito emergir todas essas distorções da pior forma possível, a forma da arbitrariedade e do desejo de eliminação moral e física do outro, daquilo que é diverso e por isso diverge. "

William Nozaki

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