domingo, 24 de janeiro de 2016

Psiquiatra explica episódio de pânico vivido por Ricardo Boechat

Caso envolvendo jornalista brasileiro retoma debate sobre depressão

Por Milla Oliveira

O jornalista Ricardo Boechat relatou na quinta-feira, 27 de agosto, em uma rede social que sofreu uma espécie de “apagão” minutos antes de começar o programa de rádio que apresenta na Rádio Band News FM. A doença que acometeu o âncora, na verdade, é a segunda maior causa de afastamento do trabalho no mundo: a depressão.

O episódio reacende o debate sobre a doença, que hoje atinge 15% da população mundial.  O número de mortes relacionadas à depressão no Brasil cresceu 705% no país entre 1996 e 2012, de acordo com levantamento do Datasus (Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde).

Jornalista Ricardo Boechat relata crise de depressão
Imagem: Facebook

No relato, o jornalista afirmou que, no momento do episódio depressivo, nada na sua cabeça fazia sentido. “Nenhum texto era compreensível. Os pensamentos não fechavam e uma pressão insuportável dava a nítida sensação de que o peito ia explodir. Fiquei completamente desnorteado e achei melhor me refugiar no meu camarim e esperar socorro médico.”

A médica psiquiatra Alexandrina Meleiro, da Associação Brasileira de Psiquiatria, explicou que  essa dor no peito que o jornalista sentiu nada mais é do que a descrição de uma forte angústia, de uma sobrecarga muito grande. “Ele se sobrecarregou, a coisa foi crescendo sem que ele se desse conta.”

Meleiro explica que, em um momento como o que o âncora viveu, as funções cognitivas ficam comprometidas. “A sensação é que todos os órgãos do corpo estão funcionando normalmente, menos o cérebro. É como em um carro no qual a bateria é retirada e a energia acaba.”

Segundo a médica, é fundamental para quem tem depressão descobrir o que provocou esse quadro. Não saber lidar com a pressão no trabalho (a síndrome de Burnout), falta de estratégias de enfrentamento para situações de perda como mortes e desemprego e desrespeito com os limites do corpo favorecem a evolução da doença.

A depressão é, inclusive, uma das principais causas de morte por suicídio no mundo. “A angústia vai crescendo, a pessoa vai começando a achar que tudo está difícil, vai se sentindo inferiorizada. Ela se sente incapaz e esses sentimentos levam ao pensamento negativo, que leva ao comportamento suicida”, alerta a psiquiatra.

Além de procurar atendimento especializado, mudar os hábitos alimentares, eliminar o café, o álcool, a nicotina e outras drogas são atitudes importantes para amenizar a doença, de acordo com Meleiro.

A realização de atividades físicas prazerosas também tem um papel importante no tratamento. “A atividade física tem que ser prazerosa porque a pessoa que já está estressada não quer enfrentar algo que não gosta. Quem tem medo de água não vai querer fazer natação, por exemplo.”

A atitude de Boechat de compartilhar seu estado de saúde é recomendada pela especialista, pois incentiva outras pessoas a procurarem atendimento para tratar a doença.

“Quando a pessoa compartilha, ela vai ver que existem outros semelhantes. Além de se sentir melhor, ajuda pessoas que se identificam com ela. O compartilhamento é uma via de mão dupla, a pessoa se beneficia e beneficia a outros também”, comenta Meleiro.

Dan Harris

O apresentador da televisão americana ABC News, Dan Harris, passou por uma situação semelhante a do jornalista brasileiro em 2004. O jornalista sofreu um ataque de pânico ao vivo enquanto apresentava o programa de notícias Good Morning America.

À época, Harris relatou que não conseguia respirar enquanto falava para cinco milhões de telespectadores. O coração acelerava, as mãos suavam e a boca ficava ressecada. Ele parou de falar e passou a palavra para os âncoras da atração.

Depois de passar por tratamento, o jornalista publicou o livro “10% mais feliz”, no qual relata as causas que o levaram ao quadro depressivo e também o que o fez melhorar.

Entre as causas estava o fato de se comparar excessivamente aos colegas mais experientes do telejornal, já que ele chegou à rede de televisão com apenas 28 anos.

“A minha maneira de lidar com isso foi me tornar um workaholic”, disse em uma entrevista. Ele também relatou envolvimento com drogas.

Durante o tratamento, Harris embarcou em uma busca pela espiritualidade e encontrou na meditação uma maneira de acalmar seus pensamentos, equilibrar suas emoções e transformar-se em uma pessoa melhor, mas sem perder a energia para lutar pelo que almeja.

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