sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Fabíola

Do blog Texticulosdojari

Ô Fabíola! Veja só, estás na boca do povo. Falada, injuriada, malfadada, e, por pouco, não apedrejada.

Há milênios gostamos de jogar pedras, normalmente em mulheres, sejam elas Madalenas ou Genis.

Tenha piedade, Fabíola! Sempre fomos inúteis coletivamente e ainda temos esse Q de pilantragem religiosa; buscamos a remissão nos pecados alheios.

Sim, eu também vi o curta mais popular das últimas semanas e, acredito que o sucesso não seja por causa da trama: “Marido pega mulher com outro no motel”. Nem, tampouco, pelo enredo: filme de adultério que não rola sexo. Além da violência das imagens e a narração moralista do câmera punheteiro (Pleonasmo: todo moralista é contumaz punheteiro) resta apenas o que não foi mostrado, o que ninguém viu. É essa elipse, que permite às pessoas a oportunidade de imaginar o que teria supostamente acontecido, o segredo do sucesso de público.

Veja, quanta gente sem imaginação, carregados de pedras na mão e há tanto tempo sem tesão pôde, por fim, exercitar a criatividade e completar essa narrativa? E a imaginação é algo que pode desvendar nossos desejos e segredos mais íntimos.

Deve ter saído cobras e lagartos das cabeças mais puras dessa sociedade cristã. Por isso, nos perdoa Fabíola! Até porque, quantos que hoje te chamam puta, mesmo inconscientemente, não queriam estar no teu lugar? Quantos que zombam e debocham não guardam consigo esse anseio como recôndito inimigo? Quantos, te pergunto, não arriscariam tudo; carreira, dinheiro, canudo (casamento) por um momento único que valesse pelos anos de mediocridade?

Não jogamos pedras pra te matar, jogamos pedras pra te tirar a vida que não temos.

O mundo sempre se une na caretice e hipocrisia, cuja disposição daria para fazer uma revolução (somos inúteis, lembra?). Ninguém quer saber dos teus bem feitos, teus enfrentamentos ou acertos, porque isso seria inveja explícita. No teu pecado, essa inédita transgressão matrimonial - que tu acabou de inaugurar - há inveja insuportável e cobiça irresistível; implícita. Então apedrejamos esse mal secreto que tanto enfeitiça e nos atrai.

Por tudo isso, Fabíola, te desejo forças. Tu vai precisar!

Somos implacáveis na arte de apontar o dedo e cuidar da vida alheia. Afinal, nossa vida nem sempre é algo mais do que um lento desfile de visões sob a muda quietude de uma alma dolorosa.

Gostaria de te mandar flores...
te mando, com todo meu carinho, um beijo e um abraço bem apertado.

Nenhum comentário:

Postar um comentário