Não são os empresários da mídia que devem se preocupar com a
baixa qualidade dela. O capital migra com facilidade.
A preocupação deveria ser dos seus jornalistas. Aliás,
muitos já começaram a perder seus empregos.
Os meios de informação não mais conseguem diferenciar a
informação do entretenimento.
O apelo às emoções, dramatização excessiva da atualidade, ou
mesmo a publicação de pura ficção fazem parte do jornalismo cotidiano, o que
transforma os jornalistas em recreadores públicos.
Os jornalistas e os meios de comunicação não levam mais em
conta a complexidade dos assuntos. Acham
- se na obrigação de fazer depressa e de entreter, logo, de simplificar.
Dessa forma nasce o abuso de estereótipos, a divisão em bons
e maus, a redução dos fenômenos a indivíduos pitorescos. A mídia das imagens incompletas,
frequentemente deformadas, que podem gerar sentimentos e comportamentos
lamentáveis.
A mídia promove o emburrecimento de suas matérias onde
notícias que necessitariam de mais informações são oferecidas sem profundidade
visando fixar nos seus ouvintes e leitores a matéria de forma pronta e acabada
impossibilitando qualquer reflexão.
Esse formato limita a formação de uma ideia própria e
quem consome as informações diárias realmente acredita que está em dia com a
notícia ou com a realidade nacional, quando, na verdade, está sendo levado pela
correnteza de um pensamento único, direcionado, pronto e acabado. O leitor ou
ouvinte será apenas mais uma peça articulada para o consumo, engolindo, sem
perceber, uma programação inócua a princípio, mas nefasta em longo prazo.
A mídia opta por um mosaico absurdo de pequenos
acontecimentos, deixando de explicar os mecanismos do mundo moderno e
relacionar os acontecimentos cotidianos com o jogo das forças profundas que
determinam o destino da sociedade.
Para que surja uma imprensa de qualidade seria preciso que
cessasse a agitação frequente dos meios e dos jornalistas que procuram ser os
primeiros ao invés dos melhores - a ponto de fabricarem o acontecimento.
É preciso que a mídia busque a realidade sob as aparências.
O copo meio vazio - dos meios de comunicação enfatizarem o
desentendimento, o conflito, o confronto, o drama e o insucesso, formam uma
sociedade negativista, não cidadã, alheia aos verdadeiros problemas do seu
entorno. Destacam - se os problemas ao invés das soluções; destacam - se o
bizarro e o criminoso mais do que as grandes realizações, como se os
jornalistas se deleitassem com as trapaças, os assassinatos, as falências, o
caos, mantendo a população acuada e sem esperanças. O cinismo substitui um
ceticismo necessário.
Apenas vendo o copo meio vazio, o cidadão adquire uma visão
deprimente, parcial, normalmente direcionada, e incompleta da realidade.
A força da mídia é um fato consumado. Seu poder, no entanto,
não tem origem num contrato social ou em uma delegação popular, por isso, em
qualquer democracia, é importante discutir os mecanismos éticos que devem
orientar o ciclo da informação, impedindo que este fuja do controle da
sociedade.
A sociedade deve orientar para que a mídia torne o público
mais sábio e mais civilizado.
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