Por Marcio
Valley
Estudos do Worldwatch Institute (State of the
world, 2008) indicam a existência de um paradoxo da felicidade. Segundo esses
estudos, o ser humano possui necessidades básicas de natureza urgente que, se
não atendidas, acarretam a infelicidade. Assim, para pessoas que estejam na
miséria ou na pobreza extrema, ganhos de renda são imediatamente seguidos de um
notável aumento da felicidade individual. Contudo, a partir de um determinado
nível de renda o ganho relativo de felicidade passa a ser inferior e, até mesmo,
a decrescer.
Detectou-se que o limite para o ganho de felicidade
a partir do incremento da renda gira em torno de quinze mil dólares, ou pouco
menos de quarenta mil reais, por ano. Levando-se em consideração o que tais estudos
indicam, e ao contrário do que possa sugerir o senso comum, um brasileiro com
salário mensal de pouco mais de três mil reais não verá sua felicidade dobrar
exclusivamente porque seu salário foi multiplicado por dois, sendo possível até
que diminua. Veja o gráfico:
Se esses estudos estiverem corretos, e há todo um
sentido lógico e até intuitivo no que indicam, os programas do governo voltados
para o aumento da renda da parcela mais pobre da população, através de aumentos
reais do salário mínimo, da valorização das aposentadorias, do bolsa família e
pela maior oferta de empregos, acabam por resultar em outra enorme vantagem
para a população além do efeito imediato de uma sobrevivência mais digna: o
país se tornou mais feliz. Vida mais digna e mais feliz, certamente, porém
ainda falta muito a ser feito em termos de redução da desigualdade.
O que espanta é que, mesmo pela repartição de tão
pouco e com tantos benefícios evidentes, inclusive uma maior felicidade,
existam vozes divergentes que não hesitam em amaldiçoar o programa, vozes que
em geral partem de bocas muito bem alimentadas. Muitas delas expressam repúdio
ao bolsa família, ao mesmo tempo em que contraditoriamente enviam mensagens
pelas redes sociais pregando contra um mundo carente de amor e de fraternidade.
Suas mensagens deveriam ser mais honestas: terei
amor ao próximo desde que esse próximo consiga obter o próprio alimento, senão,
que morra de fome que não estou aqui para sustentar vagabundo.
O paradoxo da felicidade também explica essa
espécie de reacionarismo: são pessoas que deixaram de ser felizes há muito
tempo, desde que suas rendas superaram o limite da aquisição de felicidade. A
partir daí, seus espíritos somente foram acrescidos de amargura e arrogância.
Resta-nos desejar que um dia sejam tocados em seus
corações pelas próprias mensagens de amor que hoje mecanicamente enviam.
http://marciovalley.blogspot.com.br/2014/11/o-paradoxo-da-felicidade.html
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