Acabou o século XX.
Por Cláudio Lembo
Por Cláudio Lembo
Quando as pessoas pensavam política, sempre dirigiam seus olhares
para a Itália e, lá, recolhiam idéias, pensamentos e formas de lutas.
Foi assim desde a queda do fascismo.
Os jovens dos anos cinqüenta aprenderam a acompanhar o embate
ideológico entre a democracia cristã e o Partido Comunista Italiano.
Eram repletos de entusiasmo e posições altamente conflitantes.
Surgiam, no comunismo italiano, figuras marcantes. Todos se
recordam de Gramsci, o ideólogo que, no cárcere, elaborou impressionante
obra de análise da sociedade.
Os seus Quaderni del carcere foram editados graças à iniciativa de
Togliati, então importante figura do socialismo real no Ocidente. A
repercussão foi intensa em todo o marxismo europeu e latino-americano.
No decorrer do tempo, muitas figuras exemplares, ofereceram
posicionamentos novos e análises precisas sobre o desenvolvimento das
sociedades contemporâneas.
Quem visitasse a Itália, naquele período – anos 40 e 50 –
impressionava-se com a presença maciça das sedes do PCI por todo o país e
de maneira intensa no norte, particularmente na região da
Reggio-Emilia.
Gerava uma verdadeira emoção conhecer as livrarias comunistas.
Apresentavam obras de todos os autores clássicos do socialismo e, ainda,
inúmeras análises de lideranças expressivas.
Grande parte da intelectualidade peninsular pertencia aos quadros
de esquerda. A sociedade encontrava-se dividida entre dois segmentos e
estes dominavam as mentes e geravam conflitos.
Foi um período intensamente criativo e cada lado acreditava ser a
sua proposta política a utopia que salvaria o mundo. Tempos em que as
pessoas acreditavam em suas lideranças.
Tudo se esvaiu. Os grandes partidos do após-guerra dissolveram-se.
Surgiram agremiações sem linha. Com programas sem profundidade social.
Uma geléia real – tal como no Brasil – surgiu no cenário
partidário. Ninguém empolga. Nenhuma idéia nova. Todo o pensamento
volta-se para o econômico.
O econômico não possui alma. Apenas a busca de rendimentos. O vazio
ocupou as mentes e o consumismo conquistou às sociedades. Vale o dia
que passa. Não interessam as gerações futuras.
Neste cenário melancólico, que levas os mais velhos à nostalgia,
vem da Itália mais uma notícia amarga. O jornal tradicional dos
comunistas italianos, L’ Unità, deixou de circular.
Teve um longo percurso – oitenta anos – e agora, neste mês de
agosto, anuncia o encerramento de sua publicação. Não resistiu aos
tempos novos.
Estes tempos de pensamento único. Eles não permitem o pluralismo.
Exigem homogeneidade de comportamentos. Todos devem agir no mesmo
sentido.
Movimentar os mecanismos econômicos sem qualquer ciência de sua
essência. A esta só pode ter acesso os iniciados. Estes são poucos. Um
grupo privilegiado que não admite contestações.
O Século XXI, até o momento, mostra-se medíocre e sem
posicionamentos antagônicos. Os poderosos podem matar sem censura. Não
há mais oposição.
Os jornais críticos desapareceram. Foram engolidos pela voragem
capitalista. Adeus a L’Unità, fundada por Gramsci, em 1924. Acompanhou a
sorte dos jornais Hoje, Notícias de Hoje e Luta Operária, seus irmãos
brasileiros.
http://terramagazine.terra.com.br/blogdoclaudiolembo/blog/2014/08/11/acabou-o-seculo-xx/
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