sábado, 5 de julho de 2014

Afinal, você é de esquerda, de centro ou de direita? Descubra a sua posição.

Por  Eduardo Ayres Soares

Qualquer um que tenha um hábito de leitura na internet, especialmente com um gosto voltado à política, já deve ter se deparado com indivíduos ignorantes que não sabiam diferenças ideológicas básicas, chamando de esquerdopata/comuna ou reacionário/coxinha qualquer um que cruzasse o seu caminho.
Visando um melhor entendimento destas ideologias, achei necessário pontuar as diferenças entre direita política (centro-direita, direita e extrema direita) e esquerda política (centro-esquerda, esquerda e extrema esquerda), mas sem conceitos muito intelectualizados.

Diferenças básicas
A esquerda e a direita se diferenciam em muitas questões, mas dentre elas destaco três: a ação do estado, a hierarquia e o progresso. Entretanto, há que se salientar que estes três conceitos se mesclam dentro das duas ideologias dependendo da vertente de pensamento. Pretendo abordar a direita e a esquerda por um viés mais popular e menos teórico.

A Ação do Estado
O governo é a liderança de um estado que tem o poder de criar regras e exercer autoridade.
Dentro da visão direitista, o estado tem que exercer o mínimo poder baseado na liberdade do individuo, diminuindo impostos e gerando uma liberdade econômica. Um bom exemplo é a arrecadação de impostos para a área da saúde. Este dinheiro arrecadado poderia ser melhor aplicado pelo próprio indivíduo no plano de saúde que lhe melhor convir. O estado não teria o direito de forçar o cidadão a pagar, seja por manutenção de estradas ou saúde, podendo ele escolher como melhor aplicar os seus recursos. Não tendo este direito, também não poderia impedir que pessoas possuam armas, pois se o estado não pode oferecer segurança, o cidadão tem o direito de se defender. Acreditam no mercado livre, que não significa uma ausência de regulamentação, mas sim, sem a interferência maciça do governo. Assim um comerciante poderia colocar o preço que quisesse em suas mercadorias atraindo clientes por melhores preços, gerando concorrência e favorecendo o consumidor. Em outras vertentes, o estado não deveria possuir empresas, deixando que o mercado se moldasse sozinho, permitindo que a concorrência gerasse qualidade — incluindo serviços básicos como água, luz e educação. Possuem seu foco no indivíduo, ou seja, na propriedade privada e na liberdade individual, conceitos que definem o capitalismo.
A esquerda defende que há a necessidade de uma intervenção do governo na economia e na vida do indivíduo para a diminuição da pobreza e das injustiças. O controle do capital (dinheiro, mercadorias, serviços) é controlado em parte — ou todo — pelo estado para garantir o bem estar geral. Tomemos como exemplo o imposto direcionado à saúde. Considerando que há indivíduos que não podem pagar por um plano de saúde, esquerdistas consideram justo que a sociedade como um todo pague para que todos possam usufruir deste serviço. O estado também tem a função de criar um comércio justo. Se uma empresa com alto poder aquisitivo puder colocar o preço que quiser em seus produtos, poderá levar a falência seus concorrentes, gerando desemprego e um futuro monopólio. A intervenção do estado serviria para proteger o pequeno e médio empreendedor. Em outras linhas de pensamento mais extremas (comunismo), o estado deveria controlar todos os meios de produção, para que assim pudesse ocorrer uma distribuição igual de capital. A visão esquerdista possui foco na sociedade, na influencia do estado sobre o mercado, na racionalização da economia e intervencionismo.

Hierarquia
Tem-se por hierarquia uma ordem de importância e poder, de grupos de acordo com aspectos econômicos, sociais e ideológicos. A diferença de classes é um exemplo de hierarquia. A classe alta tem mais poder que a classe baixa, o presidente da companhia é superior ao estagiário, e assim por diante. Porém, o cerne da questão se encontra na importância e poder de certos grupos sobre os outros.
Segundo a direita, a desigualdade social é algo inevitável dentro da sociedade. Porém, todo o indivíduo tem a oportunidade de transformar a sua condição através de esforço próprio. A culpa do fracasso ou do sucesso de um indivíduo cai somente sobre seus ombros. A crença social se resume a “sobrevivência do mais forte”, daqueles que fazem por merecer (meritocracia). De acordo com este pensamento é que políticas de assistencialismo não são aceitas pela direita. Se um indivíduo é carente financeiramente, é por que não se esforçou a mudar a sua condição. No entanto, a direita não ignora estes problemas, mas propõe outras soluções como “ensinar a pescar ao invés de dar o peixe”. Acreditam que todos os homens são iguais e por isso devem ser julgados na mesma medida. Por isso, o estado não deve intervir favorecendo certos grupos, como no caso das cotas raciais ou leis de proteção aos homossexuais, pois isto seria privilegiar um grupo sobre outro. Como acreditam que o trabalho engrandecem o homem e que a terra foi dada ao homem para produzir, questões ligadas as povos indígenas e ao meio-ambiente não ganham força entre os de direita, geralmente compondo a bancada ruralista. Como o foco se encontra na escolha e vontade do cidadão, conclui-se que mendigos e criminosos estão nestas condições por escolha própria, o que os leva a apoiar a pena de morte e a diminuição da maioridade penal.
Ao contrário da direita, a esquerda ideológica acredita que a desigualdade social é fruto do capitalismo e que o estado deve intervir para que haja igualdade. Acreditam que não há oportunidades iguais para todos, tanto financeira como acadêmica. Um exemplo são os filhos de famílias ricas. Estes têm condições de pagar por uma educação de qualidade, e assim terão melhores chances de conseguir um bom emprego. Ao contrário, um indivíduo que cresceu em uma comunidade carente, onde seus pais nunca lhe ensinaram o valor do estudo ou do trabalho justo, provavelmente não terá as mesmas oportunidades. No caso das cotas raciais, um exemplo: o afrodescendente carente vem de uma família empobrecida a gerações, onde muitos de seus parentes não tiveram acesso a educação e a oportunidades, consequentemente foram marginalizados. As cotas surgem como uma solução para séculos de humilhação e desfavorecimento impostos sobre este grupo. O mesmo se dá com leis de proteção aos homossexuais. Apesar de sermos todos iguais, de todos corrermos os mesmos riscos de morte e assalto enquanto caminhamos na rua; o gay tem mais um risco pelo preconceito que vive, e como ninguém é morto ou mal-tratado por ser heterossexual, conclui-se que há um ódio especifico por este grupo, que não consegue se defender sozinho. O mesmo se da com as mulheres, no qual a violência contra a mulher por parte do homem (estupro, assedio sexual, violência doméstica) é substancialmente superior a violência da mulher contra o homem. Estes casos é que fazem leis especificas de proteção e assistencialismo necessários. O mesmo serve para com criminosos, estes que seriam vitimas do sistema pela falta de oportunidade ou educação. Entretanto, à esquerda não propõem perdoar ou ignorar os crimes cometidos, mas sim, a aplicação de uma medida eficaz que venha a reintegrar o individuo na sociedade. São a favor de aplicação de penas como forma de reeducação e não de punição. Tem seu foco na diminuição da desigualdade social criada pelo capitalismo. Não acreditam que a meritocracia seja justa em uma sociedade sem oportunidades iguais, pois “como ensinar a pescar se o rio esta seco?”

Progresso Social
O terceiro ponto diz respeito a mudanças na sociedade, como elas devem ocorrer e por que ocorrer ou não.
O capitalismo é um plano imperfeito, porém que pode ser aprimorado com calma. Mudanças devem ser muito bem pensadas, tendendo a respeitar o status quo. Assim a direita opta pela preservação ao invés da renovação, priorizando o respeito ao passado e a tradição, buscam razão na religião para dar suporte, ou não, as mudanças. Por estas restrições é que são denominados conservadores. Temas como casamento homoafetivo, aborto e eutanásia, geralmente tendem a se manter na esfera religiosa. O modelo familiar tradicional cristão é a base da sociedade e tudo que diverge dele não é aceito. Isto inclui o ativismo LGBT (pois família é = homem+mulher+filhos) e o feminismo (pois a mulher tem o seu papel pré-definido na sociedade). Pela sua alta influencia religiosa, a direita basea-se na moral e disciplina como forma de construir caráter, relacionando-se com o outro através do respeito ou medo, tendo forte senso individual. Seus ícones são modelos de sucesso e individualismo, pessoas que mostraram o seu valor pelo próprio esforço: Margaret Thatcher, Reagan, Churchill, Rockefeller e empresários de renome. Também possuem forte senso nacionalista, acreditam que o certo e errado são absolutos e optam por profissões como: militares, policiais, economistas, engenheiros, advogados e empresários.
O progresso é essencial em uma sociedade desigual. Segundo a esquerda, ela se despoja de conceitos e filosofias consideradas ultrapassadas, incluindo tradições e a própria religião, que não favorecem mais a sociedade. Apoiam a separação do estado e da igreja, criando um estado laico, não permitindo que a esfera religiosa interfira com assuntos para o bem geral. Na sua maioria não são contra religião, mas não lhe conferem valor político, mas somente valor cultural. Baseam-se na ciência e estudos acadêmicos para dar suporte as mudanças. Discussões como casamento homoafetivo, aborto e eutanásia, são dirigidos no nível de evidencias cientificas e o respeito a diversidade. Prezam por uma sociedade multicultural e inclusiva baseada na ética, relacionando-se com base em cooperação e empatia. Sua preocupação se estende dos seres humanos ao meio ambiente, tendo do seu lado ambientalistas e defensores dos direitos dos animais. Seus ícones são modelos de empatia que lutaram pelos pobres e oprimidos seguindo seus ideais: Simon Bolívar, Nelson Mandela, Che Guevara, Marx e filósofos de renome. Escolhem profissões como: arquiteto, professor, cientista e voltadas para a comunicação.

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