quinta-feira, 18 de julho de 2013

Crescimento e desenvolvimento. PIB alto e revolta popular.

 
O caso do Chile nos últimos anos é emblemático e deveria servir de ponto de partida para todos aqueles que tentam entender os recentes movimentos sociais pelo mundo.

Michelle Bachelet, em 2006, ganha as eleições presidenciais no Chile com promessas de levar mais para a esquerda a coalizão de partidos de centro esquerda, onde confluem social-democratas e democratas-cristãos, o Concertación, após 16 anos de poder e a guinada ao centro.

Bachelet não consegue realizar reformas além das cosméticas, e em 2010, após 20 anos de poder o Concertación finalmente perde para as hostes direitistas comandadas por Sebastián Piñera.

Ambos estiveram repletos de conflitos com os movimentos sociais. Durante todo o ano passado, a rejeição ao presidente Piñera se manteve próxima aos 60%, segundo as pesquisas do país. Os protestos estudantis exigem a gratuidade da educação pública e contestam o modelo político chileno. Em agosto de 2011, o índice dos entrevistados que se dizia satisfeito com o governo era de apenas 22%.

O Produto Interno Bruto (PIB) do Chile avançou 5,6% em 2012, na comparação com o ano anterior. No quarto trimestre, o crescimento foi de 5,7% ante o mesmo período de 2011. Para 2013, a expectativa é de crescimento entre 4,25% e 5,25%.
A inflação fechou 2012 em 1,5%.

Mesmo com estes índices favoráveis o atual governo corre sérios riscos de perder as eleições, como demonstraram as pesquisas acima.

O Chile tem uma forte tradição de esquerda, sua sociedade também sempre foi uma das mais patriarcais, religiosas e conservadoras da América Latina, e assim, ao não cumprir com suas promessas de campanha permitiu que o candidato da direita incorporasse parte delas, o que agradou aos eleitores da democracia cristã.

Como é característico da direita e da grande imprensa do nosso continente, no Chile representada pelos jornais e canais de televisão Megavisión, do pinochetismo, o Canal 13, porta-voz da Igreja e a Chilevisión de Piñera, até 2010 quando a vende para o grupo Time Warner, sempre atacou não só todas as ações de governo como a pessoalidade de Bachelet.

Durante a campanha de 2005 Michelle foi acusada de fazer parte da organização guerrilheira Frente Patriótica e de ter examinado Cristián Edwards, filho do dono de El Mercurio (principal jornal da direita chilena),durante seu cativeiro nas mãos de uma facção da FPMR, em 1991-1992, mas descobriu-se tratar de uma intriga montada por um policial corrupto a serviço do comando eleitoral de Lavín, um dos candidatos presidenciais.

Parece muito com o que ocorre por aqui.

Segundo as primeiras pesquisas neste ano Bachelet alcançaria um número maior de votos do que qualquer candidato da situação no primeiro turno.

Entre as suas propostas para a disputa eleitoral, o site da campanha da socialista indica a “gratuidade na educação como direito universal” e a “elaboração de uma nova Constituição, com mais garantias e direitos para o povo”.

A direita chilena reagiu imediatamente aos primeiros movimentos da candidatura de Michelle Bachelet. Em coluna no jornal El Mercúrio, um dos mais lidos do país, o ex-ministro de Augusto Pinochet, Hernán Büchi, criticou os planos da candidata para a educação. Para Büchi, “não existe educação gratuita, pois ela tem um custo e o que (Bachelet) pretende é passar este custo a um terceiro, sem dizer quem é”. O colunista afirma que por trás das afirmações da socialista há “uma agenda oculta”, que busca “desaparecer com a educação superior privada que floresceu nos últimos trinta anos”. Por fim, Hernán Büchi conclui que as propostas de Bachelet resultariam na “diminuição da qualidade” do sistema educacional chileno.

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