"Mito" vem do grego antigo mythos, que significa simplesmente "palavra", "narrativa", "conto" ou "discurso". Para os gregos antigos, era a antítese do logos,
o termo para uma forma objetiva de descrever um evento, observadas as
regras especificas da logica. Filósofos, em geral, procuram chegar a
verdade por meio do logos, enquanto poetas, historiadores e artistas de qualquer tipo tentariam chegar a verdade através de mythos.
Ao longo
de milhares de anos, a palavra "mito" passou por uma metamorfose
etimológica e é, agora, muitas vezes usada para descrever uma mentira ou
crença estúpida. "Isso é um mito" é uma forma de dizer que alguma coisa
não é verdade, quando, na realidade, "mito" é "verdade". As pessoas vem
contando essas historias sagradas há milhares de anos, não apenas para
compreender a si mesmas, mas para compreender melhor o mundo e o
significado por trás da existência.
Mito como reflexo
Mitos
são muito diferentes de fábulas ou lendas. As últimas geralmente lidam
com aspectos da moralidade em uma determinada sociedade ou cultura, e
estão mais preocupadas com os valores intrínsecos a um determinado fato,
civilização, sistema de crenças, ou era. Normalmente, estão ligados a
fatos históricos ou decorrem das aventuras, obras ou realizações de uma
pessoa real.
Mitos,
por outro lado, são estórias que dizem respeito ao nosso relacionamento
interior com o divino ou com o "desconhecido". Eles são reflexos de
nossos desejos, necessidades e medos, particulares e coletivos. Como
espelhos, eles nos lembram quem somos, e também de quão pouco nós, como
seres humanos, mudamos desde os tempos antigos. Mitos foram relatados
muito antes do advento da escrita e formam a base da maioria das
religiões, filosofias, literatura e arte do mundo. Revelam a poderosa
expressão da imaginação humana por meio de uma forma narrativa para
criar uma linguagem universal.
Sonhos públicos
Os mitos
são historias sagradas que usam símbolos para contar sua verdade. Eles
não só descrevem nossa percepção do mundo, mas oferecem uma chave para
perguntas como "Quem sou eu?", "Como eu me encaixo em minha
cultura/sociedade?" e "Como devo viver minha vida?". Na verdade, os
mitos são a expressão atemporal da imaginação, tanto coletiva como
individual, e da nossa necessidade de compreender quem somos no
universo. Como o famoso professor de mitologia e escritor americano,
Joseph Campbell, escreveu: "Mitos são sonhos públicos; um sonho é um
mito privado".
Introdução a mitologia
A
maioria dessas historias sagradas foi inicialmente transmitida em forma
de narrativa, passada oralmente de geração em geração, evoluindo e se
desenvolvendo ao longo do tempo até se tornarem a base de muitas
religiões. Os mitos que foram passados na forma escrita são normalmente
encontrados em civilizações altamente organizadas. Exemplos desses
registros incluem as estelas e hieróglifos dos egípcios e um pouco da
mitologia mesopotâmica, os Rig-Vedas da mitologia pré-hindu, a torá
judaica, bem como a vasta literatura dos antigos gregos.
Temas universais
O
psicólogo suíço do século XX, Carl Jung, famoso por sua teoria do
inconsciente coletivo, acreditava que a mitologia reflete as memorias e
imagens compartilhadas por toda a humanidade. E revela temas comuns,
como a maneira com que o universo teve inicio, explicações das forças da
natureza, as origens das pessoas, buscas e comportamentos pessoais,
regras sociais e crenças, bem como crescimento psicológico pessoal e
coletivo. A mitologia é diversificada em seus detalhes devido à
geografia local e as necessidades regionais das pessoas, mas a paridade
de imagens e ideias que abrangem grandes extensões geográficas e espaços
de tempo é extraordinária, também.
Por
exemplo, o ovo universal ou cósmico aparece em muitas historias da
criação, assim como agentes de transformação, como pássaros como o Gaio
Azul; deuses chifrudos como Pã, o Minotauro e Pashupati eram todos
associados com a natureza selvagem. A mitologia também responde a
questões como "Como o mundo ou o universo começou?" e "Por que somos
mortais?". Muitas culturas acreditavam que a mortalidade era uma punição
dos deuses para as transgressões humanas ou para a nossa capacidade de
ser corruptos. Temas e ideias semelhantes que aparecem em lugares muito
distantes devem ter viajado através dos continentes como mercadorias, do
mesmo modo que as línguas indo-europeias que se encontram na raiz da
maioria de nossos "modernos" idiomas europeus.
Muitos
contos e divindades, com seus vícios e virtudes, tocam-nos profundamente
em um nível "mítico". Ainda encaramos os mitos antigos como paralelos
de nossa própria historia de vida e podemos nos identificar facilmente
com os diversos fios condutores e conceitos nas narrativas, sejam quais
forem os personagens e o comportamento ou resultado do conto. Esses
mitos capturam o amago do dilema humano - seja o coração solitário ou a
busca para provar a si mesmo.
O proposito do mito
Basicamente,
deuses e deusas tem um potencial "arquetípico" - em outras palavras:
eles evocam sentimentos, imagens e situações com os quais todos nos
identificamos. São sugestivos de várias experiências em nossas próprias
vidas, como lutas de poder, o bem contra o mal, ou as escolhas que temos
de fazer. O mundo simbólico da mitologia pode ser visto como um espelho
de nossa própria paisagem interior.
Muitas
culturas há muito perderam a crença em deuses e deusas desse tipo. Isso,
ironicamente, tem um preço. Se formos sábios e abertos o bastante para
perceber que a mitologia é um espelho maravilhoso da natureza humana, um
mundo inteiro no qual projetamos nossos medos, duvidas, sentimentos,
ideias e desejos, então ela pode oferecer um potente recipiente para
autoconsciência individual e inspiração coletiva.
Desconexão espiritual
A perda
da mitologia, particularmente na sociedade ocidental, criou uma espécie
de desconexão espiritual. Estamos separados de uma parte de nós mesmos
que é conectada com algo mais do que o mundo material. Como Jung
destacou:
"Desde
que as estrelas caíram do céu e nossos mais altos símbolos
empalideceram... o céu se tornou para nos o espaço cósmico do físico".
Entretanto,
décadas depois de Jung ter escrito isso, estamos retornando a essa rede
simbólica como fonte de alimento tanto espiritual quanto psicológica. O
que o cientista esta descobrindo agora é o que o antigo contador de
historias sempre soube.
Muitos
eruditos tem tentado encontrar um proposito racional para os mitos. Uma
teoria defende que os criadores de mitos eram cientistas primitivos que
desejavam explicar como o mundo passou a existir. Os mitos também eram
usados para explicar os rituais e cerimonias relativos aos ciclos da
natureza entre os povos antigos. As sociedades estabeleciam lei e ordem
por meio das tradições orais da mitologia, e uma hipótese é a de que os
mitos eram criados para que os seres humanos pudessem ascender, ou
tentar ascender, ao nível dos próprios deuses.
Mas,
provavelmente, foi a ideia revolucionária de Jung que explica a nossa
redespertada consciência do proposito dos mitos. Essas estórias sagradas
são simplesmente as vozes de nossos antepassados e, portanto, a nossa
própria voz interior. Por meio do mito podemos nos reconectar com a
natureza universal de nos mesmos. Não importa quão independentes
acreditamos ser como indivíduos, é a mitologia que revela a urdidura
subjacente que nos entrelaça em uma tapeçaria de totalidade que é o
universo, que permeia todas as coisas.
Temas compartilhados
Morte e
renascimento eram, obviamente, temas importantes, assim como a
justaposição entre o mundo inferior e o mundo superior. Mitos sobre a
criação satisfazem a necessidade de uma noção sobre de onde viemos,
nossas raízes e origens; mitos da fertilidade foram gerados por uma
necessidade de estabilidade econômica e para garantir a continuidade da
vida na Terra; mitos de heróis forneciam modelos para o comportamento
humano. Algumas culturas estavam interessadas apenas em mitos que
explicassem seu próprio povo e cultura. Por exemplo, os iorubás tinham
uma explicação estruturada para sua cidade-estado sagrada, assim como os
navajos e sua jornada espiritual pelos quatro mundos.
Sazonalidade e criação
A
maioria das culturas tinha mitos a respeito da natureza cíclica das
estações, do desenvolvimento da agricultura ou da evolução de uma forma
selvagem para uma maneira mais civilizada de vida. Os filhos do Sol
foram levados para Cuzco pelos deuses incas Manco e Mama; a estória de
Demeter e Core na mitologia grega é tanto uma explicação poderosa para
as estações e as forças da natureza como um mito cíclico altamente
complexo. Parece que a mente antiga e a moderna caminharam para as
mesmas conclusões sobre como tudo começou. Seja o ovo universal que
eclodiu, o homem cósmico que se dividiu em muitas partes ou a teoria do
Big Bang dos cientistas, o cosmos foi colocado em movimento de alguma
maneira. Mitos da criação oferecem respostas básicas a questões
fundamentais, mas profundas. Deuses criadores criam outros deuses,
surgem conflitos e isso da origem a heróis e suas aventuras. Historias
de amor dramáticas e missões heroicas definem a natureza da humanidade,
tanto para o coletivo como para o individuo.
Deuses e
divindades pelo mundo todo, quer sejam representados em forma humana ou
animal, são "antropomórficos" - em outras palavras, agem, pensam e
falam como seres humanos. Alguns deuses são solidários ou preocupados
com o progresso dos mortais, como na Grécia, índia, Egito e América do
Norte. Ao passo que outros são indiferentes ao destino humano, como nas
mitologias da Babilônia e da Suméria.
Heroi
Os
heróis e suas missões são enormemente importaçõs e se tornaram ícones
sagrados em todas as culturas, fornecendo uma base útil ou formula para a
perpetuação de costumes e crenças. Geralmente, eles ensinam a
humanidade a pescar, curar e caçar, ou como destruir os demônios e
monstros que ameaçam suas comunidades. Os heróis conduzem seu povo a um
maravilhoso mundo novo ou lhes dão fogo e demonstram novos rituais.
Parece
que o herói se tornou um individuo distinto por conta própria apos a
dissolução da adoração a Grande Mae ou Grande Deusa. Isso provavelmente
ocorreu perto do final da Idade do Bronze, por volta de 2500 a.e.c. e
próximo ao inicio da Idade do Ferro, cerca de 1250 a.e.c. Esses mãos de
heróis aparecem em um período de ênfase patriarcal nas civilizações,
durante o desenvolvimento da agricultura e também no estabelecimento de
impérios e cidadelas.
Defeitos e testes
Os mitos
de herói tem muito em comum. O herói normalmente é fruto da união de um
ser divino e um mortal. Se não for de ascendência divina, então o
herói, em geral, é criado por um deus, como no caso de Odisseu, criado
por Atena, ou adquire status divino como resultado de suns conquistas e
sucesso. O herói raramente e perfeito, mas deve ter sempre uma missão.
Na verdade, por possuir fraquezas humanas, é mais fácil para nós nos
identificarmos com ele. Suas imperfeições frequentemente são tão
esclarecedoras quanto suas qualidades heroicas. Como ele é submetido a
vicissitudes e provas, a jornada do herói simboliza a progressiva
consciência do potencial psicológico não utilizado em nos mesmos. Também
representa o desenvolvimento da consciência e o crescimento interior, e
a própria jornada da vida.
Missão impossível
Quando o
herói enfrenta o monstro, salva a desventurada princesa ou desce ao
Mundo Inferior, ele finalmente vence o mal e ou ascende ao céu ou é
endeusado pelos deuses. Hércules é um excelente exemplo de herói que
enfrenta uma série de monstros no decurso de seus trabalhos. O oráculo
de Delfos prediz sua imortalidade, como parte do panteão olímpico, mas
apenas se puder concluir todos os trabalhos com êxito. Hércules consegue
realizar suas provas, sobe ao céu e se casa com Hebe. Ironicamente Hebe
é filha de Hera, que odeia Hércules porque ele é fruto do caso de Zeus
com uma mortal, Alcmena; na verdade, Hera é a responsável por sua missão
quase impossível.
O Grande Diluvio
Outro
tema comum na mitologia do mundo é o Grande Diluvio, que geralmente
destrói a raça humana para que um deus ou criador possa purificar o
mundo de sua corrupção e começar do zero. Há também historias de diluvio
com base em necessidade geográfica e as inundações anuais perto de rios
como o Nilo e o Eufrates. Mitos de inundação são encontrados
praticamente em todo o mundo, da Europa continental ao Peru, onde o deus
criador inca Viracocha destroi sua primeira raça de humanos gigantes
com um diluvio e transformou-os todos em pedra.
No mito
grego, Deucaliao foi avisado por seu pai Prometeu, que fora acorrentado
ao Monte Cáucaso, que Zeus estava prestes a destruir toda a vida por
meio de um Grande Diluvio. Prometeu disse a ele que construísse um
barco, enchesse-o com comida e vivesse nele até que as aguas houvessem
baixado. Depois, Deucaliao e sua esposa Pirra desembarcaram no Monte
Párnaso, em uma paisagem totalmente deserta e árida. Pediram a Gaia para
repovoar a Terra e, de repente, surgiram arvores e pássaros começaram a
cantar. Para criar seres humanos, eles lançaram a terra pedras e
seixos, que viraram homens e mulheres.
Os construtores de embarcações
Utnapishtim
foi um antepassado do herói Gilgamesh e o único ser humano a sobreviver
ao Grande Diluvio enviado por deuses furiosos para destruir a
humanidade. Prevenido pelo deus Enki, ele encheu um barco em forma de
cubo com plantas e criaturas de todo tipo e, em seguida, partiu com sua
família enquanto as aguas subiam. Após uma semana, ele enviou uma pomba
para procurar terra seca; no oitavo dia, ele mandou uma andorinha e,
então, um corvo no nono dia. Como o corvo não voltou, seguiu na mesma
direção, encontrou terra seca, libertou todos os animais e plantou as
plantas. Os deuses recompensaram-no por sua bondade concedendo a ele e
sua esposa a imortalidade, e eles se tornaram os ancestrais da nova raça
humana. Desnecessário dizer que este mito guarda mais do que uma
notável semelhança com a Arca de Noé do Genesis, no antigo testamento da
biblia, e mais tarde no alcorão.
Outros
mitos de diluvio incluem as historias do deus chinês Yu, o egípcio Hapi,
e Nu'u, no mito polinésio, que ao ouvir que o deus Tane iria inundar o
mundo com uma onda, construiu uma cabana em uma embarcação e encheu-a
com suínos e cocos. Ele acabou encalhando no topo de uma montanha.
http://www.mitologia.templodeapolo.net/textos_ver.asp?Cod_textos=193&value=O%20que%20%C3%A9%20mito?&civ=Mitologia%20Chinesa#topo
Nenhum comentário:
Postar um comentário