segunda-feira, 13 de maio de 2013

O que é mito?

"Mito" vem do grego antigo mythos, que significa simplesmente "palavra", "narrativa", "conto" ou "discurso". Para os gregos antigos, era a antítese do logos, o termo para uma forma objetiva de descrever um evento, observadas as regras especificas da logica. Filósofos, em geral, procuram chegar a verdade por meio do logos, enquanto poetas, historiadores e artistas de qualquer tipo tentariam chegar a verdade através de mythos.
Ao longo de milhares de anos, a palavra "mito" passou por uma metamorfose etimológica e é, agora, muitas vezes usada para descrever uma mentira ou crença estúpida. "Isso é um mito" é uma forma de dizer que alguma coisa não é verdade, quando, na realidade, "mito" é "verdade". As pessoas vem contando essas historias sagradas há milhares de anos, não apenas para compreender a si mesmas, mas para compreender melhor o mundo e o significado por trás da existência.

Mito como reflexo
Mitos são muito diferentes de fábulas ou lendas. As últimas geralmente lidam com aspectos da moralidade em uma determinada sociedade ou cultura, e estão mais preocupadas com os valores intrínsecos a um determinado fato, civilização, sistema de crenças, ou era. Normalmente, estão ligados a fatos históricos ou decorrem das aventuras, obras ou realizações de uma pessoa real.
Mitos, por outro lado, são estórias que dizem respeito ao nosso relacionamento interior com o divino ou com o "desconhecido". Eles são reflexos de nossos desejos, necessidades e medos, particulares e coletivos. Como espelhos, eles nos lembram quem somos, e também de quão pouco nós, como seres humanos, mudamos desde os tempos antigos. Mitos foram relatados muito antes do advento da escrita e formam a base da maioria das religiões, filosofias, literatura e arte do mundo. Revelam a poderosa expressão da imaginação humana por meio de uma forma narrativa para criar uma linguagem universal.
Sonhos públicos
Os mitos são historias sagradas que usam símbolos para contar sua verdade. Eles não só descrevem nossa percepção do mundo, mas oferecem uma chave para perguntas como "Quem sou eu?", "Como eu me encaixo em minha cultura/sociedade?" e "Como devo viver minha vida?". Na verdade, os mitos são a expressão atemporal da imaginação, tanto coletiva como individual, e da nossa necessidade de compreender quem somos no universo. Como o famoso professor de mitologia e escritor americano, Joseph Campbell, escreveu: "Mitos são sonhos públicos; um sonho é um mito privado".

Introdução a mitologia
A maioria dessas historias sagradas foi inicialmente transmitida em forma de narrativa, passada oralmente de geração em geração, evoluindo e se desenvolvendo ao longo do tempo até se tornarem a base de muitas religiões. Os mitos que foram passados na forma escrita são normalmente encontrados em civilizações altamente organizadas. Exemplos desses registros incluem as estelas e hieróglifos dos egípcios e um pouco da mitologia mesopotâmica, os Rig-Vedas da mitologia pré-hindu, a torá judaica, bem como a vasta literatura dos antigos gregos.

Temas universais
O psicólogo suíço do século XX, Carl Jung, famoso por sua teoria do inconsciente coletivo, acreditava que a mitologia reflete as memorias e imagens compartilhadas por toda a humanidade. E revela temas comuns, como a maneira com que o universo teve inicio, explicações das forças da natureza, as origens das pessoas, buscas e comportamentos pessoais, regras sociais e crenças, bem como crescimento psicológico pessoal e coletivo. A mitologia é diversificada em seus detalhes devido à geografia local e as necessidades regionais das pessoas, mas a paridade de imagens e ideias que abrangem grandes extensões geográficas e espaços de tempo é extraordinária, também.
Por exemplo, o ovo universal ou cósmico aparece em muitas historias da criação, assim como agentes de transformação, como pássaros como o Gaio Azul; deuses chifrudos como Pã, o Minotauro e Pashupati eram todos associados com a natureza selvagem. A mitologia também responde a questões como "Como o mundo ou o universo começou?" e "Por que somos mortais?". Muitas culturas acreditavam que a mortalidade era uma punição dos deuses para as transgressões humanas ou para a nossa capacidade de ser corruptos. Temas e ideias semelhantes que aparecem em lugares muito distantes devem ter viajado através dos continentes como mercadorias, do mesmo modo que as línguas indo-europeias que se encontram na raiz da maioria de nossos "modernos" idiomas europeus.
Muitos contos e divindades, com seus vícios e virtudes, tocam-nos profundamente em um nível "mítico". Ainda encaramos os mitos antigos como paralelos de nossa própria historia de vida e podemos nos identificar facilmente com os diversos fios condutores e conceitos nas narrativas, sejam quais forem os personagens e o comportamento ou resultado do conto. Esses mitos capturam o amago do dilema humano - seja o coração solitário ou a busca para provar a si mesmo.

O proposito do mito
Basicamente, deuses e deusas tem um potencial "arquetípico" - em outras palavras: eles evocam sentimentos, imagens e situações com os quais todos nos identificamos. São sugestivos de várias experiências em nossas próprias vidas, como lutas de poder, o bem contra o mal, ou as escolhas que temos de fazer. O mundo simbólico da mitologia pode ser visto como um espelho de nossa própria paisagem interior.
Muitas culturas há muito perderam a crença em deuses e deusas desse tipo. Isso, ironicamente, tem um preço. Se formos sábios e abertos o bastante para perceber que a mitologia é um espelho maravilhoso da natureza humana, um mundo inteiro no qual projetamos nossos medos, duvidas, sentimentos, ideias e desejos, então ela pode oferecer um potente recipiente para autoconsciência individual e inspiração coletiva.

Desconexão espiritual
A perda da mitologia, particularmente na sociedade ocidental, criou uma espécie de desconexão espiritual. Estamos separados de uma parte de nós mesmos que é conectada com algo mais do que o mundo material. Como Jung destacou:
"Desde que as estrelas caíram do céu e nossos mais altos símbolos empalideceram... o céu se tornou para nos o espaço cósmico do físico".
Entretanto, décadas depois de Jung ter escrito isso, estamos retornando a essa rede simbólica como fonte de alimento tanto espiritual quanto psicológica. O que o cientista esta descobrindo agora é o que o antigo contador de historias sempre soube.
Muitos eruditos tem tentado encontrar um proposito racional para os mitos. Uma teoria defende que os criadores de mitos eram cientistas primitivos que desejavam explicar como o mundo passou a existir. Os mitos também eram usados para explicar os rituais e cerimonias relativos aos ciclos da natureza entre os povos antigos. As sociedades estabeleciam lei e ordem por meio das tradições orais da mitologia, e uma hipótese é a de que os mitos eram criados para que os seres humanos pudessem ascender, ou tentar ascender, ao nível dos próprios deuses.
Mas, provavelmente, foi a ideia revolucionária de Jung que explica a nossa redespertada consciência do proposito dos mitos. Essas estórias sagradas são simplesmente as vozes de nossos antepassados e, portanto, a nossa própria voz interior. Por meio do mito podemos nos reconectar com a natureza universal de nos mesmos. Não importa quão independentes acreditamos ser como indivíduos, é a mitologia que revela a urdidura subjacente que nos entrelaça em uma tapeçaria de totalidade que é o universo, que permeia todas as coisas.

Temas compartilhados
Morte e renascimento eram, obviamente, temas importantes, assim como a justaposição entre o mundo inferior e o mundo superior. Mitos sobre a criação satisfazem a necessidade de uma noção sobre de onde viemos, nossas raízes e origens; mitos da fertilidade foram gerados por uma necessidade de estabilidade econômica e para garantir a continuidade da vida na Terra; mitos de heróis forneciam modelos para o comportamento humano. Algumas culturas estavam interessadas apenas em mitos que explicassem seu próprio povo e cultura. Por exemplo, os iorubás tinham uma explicação estruturada para sua cidade-estado sagrada, assim como os navajos e sua jornada espiritual pelos quatro mundos.

Sazonalidade e criação
A maioria das culturas tinha mitos a respeito da natureza cíclica das estações, do desenvolvimento da agricultura ou da evolução de uma forma selvagem para uma maneira mais civilizada de vida. Os filhos do Sol foram levados para Cuzco pelos deuses incas Manco e Mama; a estória de Demeter e Core na mitologia grega é tanto uma explicação poderosa para as estações e as forças da natureza como um mito cíclico altamente complexo. Parece que a mente antiga e a moderna caminharam para as mesmas conclusões sobre como tudo começou. Seja o ovo universal que eclodiu, o homem cósmico que se dividiu em muitas partes ou a teoria do Big Bang dos cientistas, o cosmos foi colocado em movimento de alguma maneira. Mitos da criação oferecem respostas básicas a questões fundamentais, mas profundas. Deuses criadores criam outros deuses, surgem conflitos e isso da origem a heróis e suas aventuras. Historias de amor dramáticas e missões heroicas definem a natureza da humanidade, tanto para o coletivo como para o individuo.
Deuses e divindades pelo mundo todo, quer sejam representados em forma humana ou animal, são "antropomórficos" - em outras palavras, agem, pensam e falam como seres humanos. Alguns deuses são solidários ou preocupados com o progresso dos mortais, como na Grécia, índia, Egito e América do Norte. Ao passo que outros são indiferentes ao destino humano, como nas mitologias da Babilônia e da Suméria.

Heroi
Os heróis e suas missões são enormemente importaçõs e se tornaram ícones sagrados em todas as culturas, fornecendo uma base útil ou formula para a perpetuação de costumes e crenças. Geralmente, eles ensinam a humanidade a pescar, curar e caçar, ou como destruir os demônios e monstros que ameaçam suas comunidades. Os heróis conduzem seu povo a um maravilhoso mundo novo ou lhes dão fogo e demonstram novos rituais.
Parece que o herói se tornou um individuo distinto por conta própria apos a dissolução da adoração a Grande Mae ou Grande Deusa. Isso provavelmente ocorreu perto do final da Idade do Bronze, por volta de 2500 a.e.c. e próximo ao inicio da Idade do Ferro, cerca de 1250 a.e.c. Esses mãos de heróis aparecem em um período de ênfase patriarcal nas civilizações, durante o desenvolvimento da agricultura e também no estabelecimento de impérios e cidadelas.

Defeitos e testes
Os mitos de herói tem muito em comum. O herói normalmente é fruto da união de um ser divino e um mortal. Se não for de ascendência divina, então o herói, em geral, é criado por um deus, como no caso de Odisseu, criado por Atena, ou adquire status divino como resultado de suns conquistas e sucesso. O herói raramente e perfeito, mas deve ter sempre uma missão. Na verdade, por possuir fraquezas humanas, é mais fácil para nós nos identificarmos com ele. Suas imperfeições frequentemente são tão esclarecedoras quanto suas qualidades heroicas. Como ele é submetido a vicissitudes e provas, a jornada do herói simboliza a progressiva consciência do potencial psicológico não utilizado em nos mesmos. Também representa o desenvolvimento da consciência e o crescimento interior, e a própria jornada da vida.

Missão impossível
Quando o herói enfrenta o monstro, salva a desventurada princesa ou desce ao Mundo Inferior, ele finalmente vence o mal e ou ascende ao céu ou é endeusado pelos deuses. Hércules é um excelente exemplo de herói que enfrenta uma série de monstros no decurso de seus trabalhos. O oráculo de Delfos prediz sua imortalidade, como parte do panteão olímpico, mas apenas se puder concluir todos os trabalhos com êxito. Hércules consegue realizar suas provas, sobe ao céu e se casa com Hebe. Ironicamente Hebe é filha de Hera, que odeia Hércules porque ele é fruto do caso de Zeus com uma mortal, Alcmena; na verdade, Hera é a responsável por sua missão quase impossível.

O Grande Diluvio
Outro tema comum na mitologia do mundo é o Grande Diluvio, que geralmente destrói a raça humana para que um deus ou criador possa purificar o mundo de sua corrupção e começar do zero. Há também historias de diluvio com base em necessidade geográfica e as inundações anuais perto de rios como o Nilo e o Eufrates. Mitos de inundação são encontrados praticamente em todo o mundo, da Europa continental ao Peru, onde o deus criador inca Viracocha destroi sua primeira raça de humanos gigantes com um diluvio e transformou-os todos em pedra.
No mito grego, Deucaliao foi avisado por seu pai Prometeu, que fora acorrentado ao Monte Cáucaso, que Zeus estava prestes a destruir toda a vida por meio de um Grande Diluvio. Prometeu disse a ele que construísse um barco, enchesse-o com comida e vivesse nele até que as aguas houvessem baixado. Depois, Deucaliao e sua esposa Pirra desembarcaram no Monte Párnaso, em uma paisagem totalmente deserta e árida. Pediram a Gaia para repovoar a Terra e, de repente, surgiram arvores e pássaros começaram a cantar. Para criar seres humanos, eles lançaram a terra pedras e seixos, que viraram homens e mulheres.

Os construtores de embarcações
Utnapishtim foi um antepassado do herói Gilgamesh e o único ser humano a sobreviver ao Grande Diluvio enviado por deuses furiosos para destruir a humanidade. Prevenido pelo deus Enki, ele encheu um barco em forma de cubo com plantas e criaturas de todo tipo e, em seguida, partiu com sua família enquanto as aguas subiam. Após uma semana, ele enviou uma pomba para procurar terra seca; no oitavo dia, ele mandou uma andorinha e, então, um corvo no nono dia. Como o corvo não voltou, seguiu na mesma direção, encontrou terra seca, libertou todos os animais e plantou as plantas. Os deuses recompensaram-no por sua bondade concedendo a ele e sua esposa a imortalidade, e eles se tornaram os ancestrais da nova raça humana. Desnecessário dizer que este mito guarda mais do que uma notável semelhança com a Arca de Noé do Genesis, no antigo testamento da biblia, e mais tarde no alcorão.
Outros mitos de diluvio incluem as historias do deus chinês Yu, o egípcio Hapi, e Nu'u, no mito polinésio, que ao ouvir que o deus Tane iria inundar o mundo com uma onda, construiu uma cabana em uma embarcação e encheu-a com suínos e cocos. Ele acabou encalhando no topo de uma montanha.

http://www.mitologia.templodeapolo.net/textos_ver.asp?Cod_textos=193&value=O%20que%20%C3%A9%20mito?&civ=Mitologia%20Chinesa#topo

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