quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Roleta russa

Por Cláudio Lembo
O desespero tomou conta da sociedade. A criminalidade deita e rola. Uma desgraça. Já se sofreu muito nos últimos anos. Ninguém esquece 2006, quando todos foram tomados de surpresa pela violência.
Foi uma dura lição. Parece que nada se aprendeu. O crime continua sua escalada ascendente. De todas as partes chegam relatos aterrorizantes. Informações alarmantes.
Em resposta, apenas paliativos. Um irônico já disse que a sociedade contemporânea divide-se em novas classes sociais. Já não se fala em proletariado, classe média e burguesia.
Agora, tem-se: já assaltados, futuros assaltados e, como classe dominante, assaltantes. Amargo sarcasmo, pois em jogo estão vidas e a própria liberdade individual.
Todos se tornaram reféns do temor. Em cada esquina, a preocupação com o outro ângulo. Não se sabe quem está à espreita. Um meliante ou apenas alguma vítima em potencial.
As autoridades precisam se debruçar sobre o tema segurança cidadã. É patética a leitura dos informes de consulados sobre os pontos perigosos das cidades.
Os direitos fundamentais da cidadania estão merecendo violação às vistas do Estado. Este tem a obrigação de preservar a vida e a integridade física de cada cidadão. Preservar a liberdade de não ter medo.
No entanto, sentem-se por parte das autoridades apatia. Uma indiferença com a realidade que atinge níveis absurdos. As três esferas governamentais – União, estados e municípios – precisam examinar, em conjunto, a situação.
A criminalidade avançou por todo o território nacional. Já não se trata dos antigos atos de violência tão comuns no passado. O crime passional ou o roubo de gado são apontados para mero registro.
Agora, o tráfico de drogas avança. Toma todas as áreas das cidades e a beira das estradas. Não há espaços preservados. Tudo foi ocupado pelos traficantes.
A dissolução dos costumes é consequência direta desta situação. Romperam-se antigos valores. Nada substituiu princípios caros de nossa sociedade.
Já não se respeitam mãe, professores e autoridades. Todos passaram a ser "Mané". Deu-se uma socialização das práticas dos cafajestes.
Importa beber mais que o companheiro. Fumar mais que o interlocutor. Promiscuir-se mais que uma messalina. Usufruir o momento que passa sem preocupação com o futuro.
Neste cenário – ampliado pelos meios eletrônicos de comunicação – não há esperanças. A criminalidade crescerá absurdamente. Ainda porque as autoridades a tudo assistem sem qualquer gesto.
Caminha-se para um mundo sem rumo. Os direitos humanos, tão proclamados, após 1988, vão se diluindo em um oceano de insensatos. Os velhos temem dizer a verdade.
Os jovens – muitas vezes – nem sequer procuram a verdade como em tempos passados. As antigas dicotomias, entre direita e esquerda, conservadores e liberais, esgotaram-se.
A anomia tornou-se a única realidade. Neste caos não se formam estadistas, apenas ocupantes temporários do Poder sem vontade de apontar as circunstâncias dramáticas do dia-a-dia.
Enquanto um D. Sebastião – o rei morto – não volta para nos salvar, só nos resta aguardar o próximo assalto. A vítima pode ser deliberadamente escolhida.
Ou então ser vítima da roleta russa que se instalou nas cidades de todo o País. A qualquer momento, pode-se tombar vítima do criminoso de colarinho branco ou do meliante pé de chinelo. Tanto faz.
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blog/2012/08/13/roleta-russa/
Comentário:
O sempre muito bom Cláudio Lembo. Destaco (entre todo o excelente texto) o que se segue, para reflexões: "Caminha-se para um mundo sem rumo. Os direitos humanos, tão proclamados, após 1988, vão se diluindo em um oceano de insensatos. Os velhos temem dizer a verdade.
Os jovens – muitas vezes – nem sequer procuram a verdade como em tempos passados. As antigas dicotomias, entre direita e esquerda, conservadores e liberais, esgotaram-se.
A anomia tornou-se a única realidade. Neste caos não se formam estadistas, apenas ocupantes temporários do Poder sem vontade de apontar as circunstâncias dramáticas do dia-a-dia."
O que este texto quer dizer senão um alerta para o fim da utopia e a ascensão do pragmatismo.

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