quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O sonho acabou?


O maior problema das esquerdas é que quando chegam ao poder procuram satisfazer as bases da demanda social sem se educar com os novos valores desta alternativa. Foi o que o que ocorreu na Europa: a esquerda construiu a sociedade das classes médias, mas depois essas classes médias chutaram a escada para que os que viessem atrás não tivessem mais oportunidades. Essas classes médias se converteram em novos proprietários sem ideologia. Daí veio a derrota destes partidos nas eleições. Por isso é essencial que se mantenha os valores que eram propostos.

A emoção é o que move o debate e a esquerda não pode se afastar dela sob pena de se tornar mais do mesmo. 

Sim, é verdade que os marcadores de certeza se tornaram líquidos e por isso temos dificuldade para concretizar outras coisas em uma alternativa que tomará forma na medida em que for sendo construída.

É verdade também que nos encontramos em uma encruzilhada teórica onde os velhos elementos já não valem, não valem os velhos partidos políticos, não vale o modelo de assalto ao poder nem muito menos o modelo de gestão humanista de um capitalismo em crise como faz a social democracia. Portanto é um momento para regressar à biblioteca e tentar aportar modelos que orientem o novo.
O momento é oportuno para mudanças. 

Não sabemos se a crise do capitalismo será a última. Conhecemos bem a enorme capacidade de adaptação desse sistema. Por outra parte, observamos que cada vez que há uma crise, o leque de respostas do sistema se estreita. O capitalismo saiu da última grande crise dos anos 70 com a exploração da natureza, com a exploração dos países do Sul e das gerações futuras mediante o déficit. Esses três elementos se esgotaram, e o sistema global teve que regressar à origem e exercer a exploração dentro da própria casa.

É preciso que a esquerda não perca o foco de suas propostas originais e, afastar do poder uma oligarquia disposta a tudo para ser manter, tem que ser buscado.Alcançar o poder não representa automaticamente que o “sistema” acabou.

O leque preferencial de quem estar no poder é exercer a “gestão” como condição única de manutenção do poder, esquecendo-se que o que determina a vitória nas eleições são as emoções. A própria direita, quando afastada do poder, apela para esta condição. Berlusconi na Itália, Sarah Palin nos Estados Unidos, Esperanza Aguirre na Espanha, e quem acompanhou o posicionamento de José Serra, nas últimas eleições presidenciais, sabem do que estou falando.

Por isso a esquerda tem que entender que ao chegar ao poder tem que unir a emoção e a gestão.
É preciso compreender de forma lúcida que vivemos em um mundo de transição onde o velho não termina de ir embora e o novo ainda não acabou de chegar.

O problema reside em que os governos atuais de mudança têm que administrar o aparato estatal herdado e as pressões atuais. Aí há um conflito porque os movimentos sociais que apoiaram na América Latina os governos da transformação, frequentemente reclamavam também uma parte desse modelo passado.

Devemos procurar o novo, avaliar se o modelo de consumo será suficiente para trazer a realização, a felicidade e a justiça e democracia, ou procurar construir uma nova realidade?

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