terça-feira, 10 de abril de 2012

Religiosidade.

Por Luana do blog do Nassif

Não é qualquer farofa que convence um baiano sobre religião, pois o sentimento religioso dele está no caráter. Ele pode rejeitar, mas depois retorna. Tinha um tio que discutia isto à exaustão, já vi várias pessoas falarem sobre isto. No fundo, no fundo, penso que eles estão mais questionando os dogmas das igrejas do que o Senhor em si. Já vi Caetano falar da rebelião dele em não ir à Igreja e, hoje, frequentar quando pode, a missa.

Com o advento do cacau, chegou também o árabe em maior intensidade, daí a presença, também, de um povo que tem uma relação bastante pessoal com um Deus eminentemente pessoal. Sem falar, claro, na presença do índio, que também tem vocação nata para crença e não abre mão dela. Seria impossível que nós, baianos, não tivéssemos algo a crer.

O que acredito é que, nós baianos, não temos uma crença dogmática estabelecida, mas a nossa fé em Deus/Oxalá/Alá/Deus, é eminentemente familiar. E nós cremos não por meio de doutrina, nós cremos a partir da percepção, da compreensão interior de que algo maior do que nós, que pode atuar em nós, e este atuar se desdobra dogmaticamente para inúmeras compreensões.

Eu creio na existência do Senhor e creio que ele é um Deus pessoal e atende as minhas necessidades interior enquanto ser humano. E penso que a compreensão sobre Deus no homem se dá através deste encontro. Enquanto ele não existir, não viveremos uma fé real verdadeira. E a Bahia é tão intensa nisto, que há inúmeras manifestações que alguns chamam de graça, outros de axé, outros de sobrenatural. Mas o fato é que estão todos falando do sagrado, de algo que Aristóteles chamou de metafísica, ou seja, acima da física. Questões neste caso, ligadas ao aspecto teleológico, acerca da compreensão do Divino, da cosmovisão. Eu compreendo o mundo através desta cosmovisão e por ser baiana, busco compreender isto além do que dizem ou afirmam, mas uma coisa vivida e experienciada em mim mesma.

Uma coisa que chama atenção é que  nascemos imbrincados e sempre fomos contra a união entre estado e igreja. Foi Ruy Barbosa que ao criar o ordenamento jurídico no país, tal qual conhecemos hoje, criou o estado laico. Foi Jorge Amado, anos mais tarde, que criou a liberdade religiosa no país. Nenhum homem será livre se ele não tiver liberdade para pensar a partir daquilo que crer, acredita, ser livre para ter compreensão sobre tudo isto a partir de seu entendimento pessoal, sobre o que é ser livre.

Eu não vejo isto nos outros lugares do Brasil que conheço, mas a Bahia é única nesta busca da compreensão da fé, do sagrado. É por isto que lá, até Mariguella que era ateu, cria em Deus. Paradoxo? Não, Mariguella era baiano.

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