terça-feira, 27 de março de 2012

Pensamento Único

Por Assis Ribeiro
Em um mundo onde a filosofia, a ideologia, foram apagadas, consideradas bobagens que não levam a nada, a forma de vida pragmática do modelo, não se pode esperar nada diferente. Esse modelo matou "deus" e agora mata o "homem". Sociedade robótica de pensamento único.

É realmente incrível como no mundo moderno ideias manipuladas pelo “mainstream” e massificada pela grande imprensa transforma a “inteligência” em pensamento único.

Neste séc. XXI está sendo percebido um mundo onde governos eleitos pelas suas propostas de esquerda e centro esquerda, por eleitores defensores dos ideais de esquerda e centro esquerda, realizaram governos de centro direita. O próprio Obama em suas promessas de campanha sinalizava um governo, mesmo nos EUA, mais a esquerda. A China promove o seu admirável crescimento, mas a concentração de riqueza está igualmente nas mãos dos mesmos “players” mundiais.

Esse pensamento único foi engendrado pelo Consenso de Washington onde se busca, através do setor financeiro, ajustes macroeconômicos, visando padronizar economias e com isso permitir a “inserção” ou, em muitos casos, absorção pela “nova ordem econômica mundial” liderada pelos EUA e caracterizada pelo capitalismo tecnofinanceiro.

Neste pensamento, que se tornou único, o Estado daria lugar ao protagonismo do setor financeiro e de megas corporações forjadas a partir de sucessivas fusões empresariais, aquisições direcionadas e incentivada pelo próprio Estado, possibilitando a concentração cada vez maior, num modelo altamente nocivo à economia real e ao mundo social do trabalho. Decorrência óbvia dessa dinâmica, o consumo como gerador de cidadania e a criminalização da pobreza completam o quadro dantesco.

Algumas das medidas propostas pelo Consenso de Washington são as seguintes: – corte de gastos públicos, abolição de barreiras ao comércio exterior e ao investimento estrangeiro em economias nacionais, disciplina fiscal, reforma tributária, desregulamentação do mercado de trabalho, juros e dólar regulados pelo mercado, respeito aos direitos autorais, e privatização do Estado.

Essas ideias foram “vendidas” à população de boa parte do mundo como solução para todos os problemas: por um lado, enxugaria os gastos estatais; por outro, abasteceria os cofres públicos com a receita das vendas das empresas e dos serviços gerenciados pelo Estado. E foi assim que a mídia corporativa, em bloco, de forma incessante e sem permitir a menor dissonância massificou a proposta e a tornou “pensamento único”. Todos os que argumentam fora desses parâmetros são desprezados como chatos irrelevantes, extremistas ou membros da extrema esquerda.

E está sendo assim no Brasil desde, principalmente, o governo Collor. Com FHC a defesa destes princípios se tornou mais era direta, técnica e alvissareira: prometia trocar o inchado, letárgico e ineficaz Estado brasileiro pela eficiência implacável das gestões metódicas; relegar o ideologismo político pelo tecnicismo científico.

PT e “Concessão” ou “privatização” dos aeroportos.

A forma de transferência para a iniciativa privada tucana e petista difere, mas na essência implicam em uma premissa em comum: a crença na incapacidade do Estado (e, em decorrência, em seus servidores) de realizar, com a excelência e a presteza necessária, as obras demandadas pelo país.

Pela alegação de que o aumento exponencial de passageiros aéreos que a ascensão socioeconômica promovida pelo governo Lula engendrou, e, por outro, pelo temor de não cumprir os prazos requeridos pela Copa e pela Olimpíada, o governo Dilma Rousseff valida e corrobora a visão do Estado ineficiente, bandeira do neoliberalismo na defesa de seus dogmas.

Romper com pressupostos neoliberais é um obstáculo de difícil transposição.
A tentativa de Lula e de Dilma de romper com a articulação e a difusão dos princípios neoliberais levou os seus governos a utilizar um novo modelo que, digamos, meio neoliberal, meio social democrata, em uma tentativa de não confrontarem o establishment neoliberal.

Mas, o preço é alto e pode acabar por evidenciar o esvaziamento ideológico da política.
Este esvaziamento ideológico é, em si, um dos aspectos mais retrógrados e, a médio prazo, potencialmente mais danosos à evolução do debate público no Brasil, pois ao invés de avançar em direção contrária e para além do conteúdo programático neoliberal, os setores ditos progressistas e de centro-esquerda ora no poder preferem mimetizar o conservadorismo, endossá-lo e com ele se confundir, correndo o risco de, ao tornar-se ideologicamente indistinguível aos olhos dos eleitores, abrir caminho para a oposição conservadora.

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