O carnaval de Salvador é um evento onde a partir dele se poderia fazer um estudo profundo de como o modelo neoliberal se propõe a privatizar tudo, criando um apartheid, excluindo o próprio espaço público, ruas, praças, praias, do povo.
Não são artistas A, B, ou C responsáveis por retirar da população os seus espaços públicos e sim os próprios órgão públicos.
Por conta disso o carnaval de Salvador se tornou uma festa de não baianos, onde uma parcela expressiva dos moradores da capital baiana – 77,9% – preferem mesmo é escapar do Carnaval, segundo uma pesquisa realizada por órgãos governamentais(abaixo disponibilizo o link).
Não é verdade que não haja resistência a esta privatização do carnaval.
Muitos artistas, o ministério público e outros setores da sociedade reagem a este apartheid, como já foi objeto de vários Post aqui no blog.
O grupo Armandinho, Dodô e Osmar desfila sem cordas desde a sua formação e criticam este formado de exclusão. Carlinhos Brown já fez uma crítica ácida e agressiva em frente a um camarote de autoridades, onde estavam presentes governador, prefeito e outras autoridades.
Ele próprio desfila sem cordas e ao contrário de outros se apresenta, na maior parte do tempo, no chão, no asfalto, e não em cima do trio.
Carlinhos Brown também criou o carnaval de protesto ao que está ocorrendo quanto resolveu criar o "arrastão da quarta feira", que é o carnaval sem cordas, que há conta com a adesão dos famosos Olodum, Timbalada, Ivete Sangalo, e outros menos famosos também já aderiram.
O Ministério Público tem tomado a iniciativa de algumas ações questionando este formato de concessão de espaços públicos.
A reação da sociedade é muito grande e este movimento tem ganhado corpo. Ano passado Saulo Ramos cantor do fortíssimo bloco Eva desfilou um dia sem cordas. Este ano o próprio Chiclete (independente do seu motivo) desfilou, ontem dia 17/02, sem cordas, até a Praça Castro Alves. Outra banda que desfilará na Avenida num trio sem cordas é Jammil e Uma Noites. O grupo sairá no domingo, com a campanha “Pipoca Solidária. É Chique Ser do Bem”.
Margareth Menezes, Luiz Caldas, Moraes Moreira criticam este apartheid e defendem uma outra formatação para o carnaval de Salvador, objeto de alguns Post aqui no blog.
A própria prefeitura de Salvador minimamente cede ao trazer de volta o "Encontro de Trios" da Praça Castro Alves.
Muitas músicas criticam esse apartheid, como a atualíssima "APARTHEID DA ALEGRIA" de (Luiz Caldas e César Rasec)
Chuva de grana, carnaval com capilé
A festa acabou sendo o que é
Estica e puxa na fila pra desfilar
E a pipoca já não brinca sem gastar
No apartheid da alegria
O trio que passa traz a massa
E no camarote, segurança e muito mimo de graça
Dentro do bloco a beijação não traz pirraça
Do outro lado o Pitt Bull só quer brocar
Não se volta no tempo sem respeito à praça
Careta agora é só pra se enfezar
Agora é o abadá, mortalha nunca mais
Pois quando tudo é free sempre se quer mais
E atrás de espaço fica o nobre cidadão
Maluco pra tirar o pé do chão
Ei você aí do camarote, toma uma aí por mim
Porque aqui embaixo é bico seco, agora é assim (bis)
Ei você que tá nessa pipoca, pula um pouco aí por mim
Porque dessa mordomia eu só vou sair no fim
Foruns de discussão são criados, programas de Tv propõem o debate, como a matéria, que incluo no final, exemplifica.
"O modelo atual deu resultado" diriam alguns. Mas, a verdade é que o carnaval de Salvador é sucesso desde a sua origem, como demonstra um Post aqui no Blog "De Pierre Verger, 'Carnaval Brasil Anos 40'"
Matéria indicada:
"Nos bastidores da gravação do programa "Aprovado", da TV Bahia (afiliada da Rede Globo), em janeiro, a cantora Daniela Mercury fez intervenções cruas sobre o carnaval de Salvador, ao defender sua posição mais próxima ao que se convencionou chamar de Axé. Câmeras desligadas, a conversa correu na informalidade, com divergências claras sobre o modelo da festa. Participavam do debate os músicos Luiz Caldas, Durval Lélys e Saulo Fernandes, o professor Paulo Miguez e o apresentador Jackson Costa.
O estúdio da TV Bahia estava repleto de técnicos e assessores dos músicos. Terra Magazine apurou os bastidores com três dos presentes.
Fora do ar, o professor do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Ufba, Paulo Miguez, prosseguiu a discussão e afirmou que o Axé Music só teria sido possível com a evolução do trio elétrico nos anos 70, com Moraes Moreira introduzindo o ijexá e com a existência da Tropicália. Nessa hora, Daniela o interrompeu e se declarou de "saco cheio" dessa história. "Caetano (Veloso) e (Gilberto) Gil são do passado", opinou.
Segundo os presentes, houve outros momentos de constrangimento, depois de críticas de um dos participantes ao cantor Bell Marques (do Chiclete com Banana) por ter passado na frente do afoxé Filhos de Gandhy, na Praça Castro Alves, em 2006. Bloco tradicional, fundado por estivadores baianos em 1949, o Gandhy tem historicamente prioridade no desfile. Em respeito, os trios costumavam desligar o som e deixar o "tapete branco" passar. A atitude de Bell Marques foi interpretada como um desrespeito às tradições da festa.
Assim que Miguez terminou uma intervenção, Daniela emendou: "Isso é porque você não sabe o que é ficar seis, sete horas esperando para entrar na avenida, ouvindo aquele cara (do Gandhy) tocar o agogô!". O professor se revelou surpreso por ouvir essas palavras da cantora. "Aquele cara tocando o agogô é a história do carnaval", reagiu Miguez, segundo as fontes ouvidas pela reportagem. Além de comandar um trio, Daniela Mercury organiza um camarote no bairro da Barra.
Duas visões opostas se cristalizaram no debate. Na parte gravada, Durval Lélys se alinhou à postura dos empresários carnavalescos. Luiz Caldas, um dos criadores do Axé, vem se posicionando a favor de mudanças - e até já compôs a canção "Apartheid da Alegria".
No programa exibido em 28 de janeiro, Daniela Mercury opinou: "Na verdade, só existe carnaval por causa da iniciativa privada". "Não é verdade", rebateu Miguez. Nesta parte, o apresentador Jackson Costa interrompeu a discussão: "Nosso tempo é curto. Esse assunto não cabe num programa só. Vocês todos juntos não cabem num programa só. Então, a gente vai encerrar o programa de hoje aqui".
Após o corte, novamente em conversa informal, segundo apurou Terra Magazine, Daniela ouviu que os grandes empresários não bancam, por exemplo, a limpeza, a saúde e a segurança nos circuitos. "Então o melhor é ir embora", teria contraposto a cantora. Caldas ironizou: "Duvido que você largue o osso".
Relatam alguns dos participantes que a conversa de bastidores não foi gravada e por isso não está em nenhum dos blocos do "Aprovado", nos programas transmitidos em 28 de janeiro e 4 de fevereiro. Na TV Bahia, Daniela Mercury criticou o preconceito contra o gênero musical. "Me irrita profundamente quando as pessoas chamam o Axé de ritmo. Gente, o Axé não é um ritmo. O Axé é um gênero musical relacionado ao trio elétrico, nascido no trio elétrico (...) Fazer trio elétrico é dificílimo", defendeu.
A assessoria da cantora se posicionou a respeito da reportagem de Terra Magazine: "Não confirmamos declarações de terceiros sobre o que Daniela teria dito nos bastidores ou nos intervalos de alguma gravação. Daniela já está em parceria com o Terra para cobertura do Carnaval e gravação de entrevistas exclusivas para o Portal, quando responderá sobre questões do Carnaval, com suas reais opiniões, portanto o Terra não precisa recorrer a meios indiretos e pouco confiáveis para ter a opinião de Daniela sobre qualquer assunto."
No início da tarde desta quinta-feira (16), Daniela Mercury enviou uma segunda resposta, por meio de sua assessoria, na qual desmente as declarações atribuídas a ela nesta reportagem. "As declarações atribuídas a mim na matéria não são verdadeiras e estão completamente fora de contexto. Sempre estive disponível para a imprensa e realmente não posso me responsabilizar por declarações atribuídas a mim por terceiros", afirma Daniela no texto.
Confira a nota na íntegra.
"Em resposta a declarações inverídicas e descontextualizadas atribuídas a Daniela Mercury e publicadas no Terra Magazine, a artista declara: 'Caetano e Gil são os 2 artistas brasileiros que eu mais admiro e respeito e que reverencio no meu atual show e DVD Canibália Ritmos do Brasil. São dois grandes artistas que em vários momentos de minha carreira tive o prazer de homenagear e de quem falo sempre em minhas entrevistas.
As declarações atribuídas a mim na matéria não são verdadeiras e estão completamente fora de contexto. Sempre estive disponível para a imprensa e realmente não posso me responsabilizar por declarações atribuídas a mim por terceiros". Daniela Mercury
Terra Magazine ouviu três dos presentes durante a gravação do programa "Aprovado", da TV Bahia (afiliada da Rede Globo), em janeiro. Todos eles confirmam o teor da conversa, no mesmo contexto em que foi reproduzido na reportagem."
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI5615895-EI6581,00-Caetano+e+Gil+sao+do+passado+diz+Daniela+Mercury.html
Link com informações da pesquisa:
http://www.atarde.com.br/noticia.jsf?id=5691124
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