domingo, 15 de janeiro de 2012

“A forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível”

Lições do sesquicentenário de “Alice no País das Maravilhas”
 
Por Fátima de Oliveira (Médica)

Tenho na leitura uma companhia prazerosa. Os livros não são apenas fontes de diversão. Neles encontro pistas para solucionar problemas e vislumbrar novos horizontes. Como, não sei.

Acontece. Falo de leitura de entretenimento, como crônicas, contos de fadas e infantis de modo geral, romances, narrativas de viagens, biografias e poesias. Por aí.

Nada a ver com literatura de autoajuda, da qual não consigo gostar, pois, via de regra, mais se parece com receita de bolo. Os que já li são similares à camisa de força e, sobretudo, tolhem a minha liberdade de escolher caminhos.

Diante de problemas, recorro aos livros. Nos primeiros dias de janeiro, chocada com a MP do Nascituro (disfarçada de “cadastro de grávidas”), fucei minha biblioteca atrás de um livro que falasse algo reconfortante sobre o inesperado e o impossível. Eu havia lido em algum lugar.

Foi então que senti falta das antigas fichas de leitura. Durante anos eu, paciente e disciplinadamente, fichei todos os livros que li – nome, autoria, editora, breves linhas sobre o conteúdo e as melhores e/ou mais bonitas frases. Meu fichário se perdeu em uma de minhas mudanças de vida cigana, quando abandonei o hábito de fichar livros.

A memória tem das suas. Dei na batida que o que eu procurava estava num livro para crianças. Rememorei, como num filme, e estava certa de que era um livro de que eu gostava e que havia lido várias vezes. Dei uma olhada no que me resta de contos infantis e nada! Sem mais perder tempo, fui ao “são Google”. Bah! Em segundos estava lá: “A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível”.

Foi emocionante! A frase é de “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carroll, pseudônimo do poeta, romancista, matemático e pastor inglês Charles Lutwidge Dodgson (1832-1898). Trata-se de uma história inventada durante um passeio de barco pelo rio Tâmisa, em 4 de julho de 1862, para entreter três crianças – Lorina Charlotte, Edith Mary e Alice Pleasance Liddell -, filhas de Henry George Liddell, vice-chanceler da Universidade de Oxford, decano da Igreja de Cristo, reitor da Christ Church, onde Lewis Carroll ensinava matemática.

A história da menina Alice, que caiu numa toca de coelho e viveu aventuras fantásticas num mundo maravilhoso de bichos e coisas sábias e falantes, foi passada para o papel em 1864 e publicada em 1865. Dizem ser o livro mais citado depois da Bíblia e é a obra mais famosa do mundo do gênero literário nonsense.

Na coletânea de frases do referido livro, havia outra que, de algum modo, respondia à minha busca de entender o momento em que vivia: “Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?”.
“Isso depende muito de para onde queres ir”, respondeu o gato.

“Preocupa-me pouco aonde ir” – disse Alice.

“Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas” – replicou o gato.

“Alice no País das Maravilhas” é um conto infantil de zooliteratura, com seus fascinantes bichos falantes, mas também um livro sobre costumes da era vitoriana. Contém muito da cultura inglesa da época, incluindo gastronomia, e críticas ao modo vitoriano de ser, e entremeia sonho e vida real do tempo em que foi escrito e que nos seduz pelo que encerra de nonsense.

Eu adoro “Alice no País das Maravilhas”, mas impliquei com seu autor ao descobrir que foi acusado de pedofilia, o que abordarei em outro dia. Por fim, a história de Alice ainda diverte crianças do mundo inteiro, inspira as artes e nos ensina que “tudo tem uma moral se você conseguir simplesmente notar”.

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