Por Ernani Pereira
  Em 60 anos de  “laissez-faire”,  a cidade acumulou índices assustadores de compactação  demográfica e  veicular, concentração de pobreza, insegurança e  destruição do meio  ambiente, que apontam para seu colapso em curto  prazo. 
Seu  déficit habitacional é de 100 mil  habitações, das quais 80% são de  famílias fora do mercado imobiliário.  Para satisfazer aos 10% dos  candidatos com renda superior a cinco  salários mínimos, o novo PDDU  consentiu que o setor imobiliário  devorasse as entranhas verdes da  cidade, a orla e os bairros  consolidados.
Cerca de 35 mil novos automóveis e o dobro de motos são licenciados a cada ano. O metrô de Salvador, cuja construção dura 10 anos, é dos mais caros do mundo. Terá 6 km , 6 trens e custará R$ 1,16 bilhão, se inaugurado em 2012. 
No Recife, o metrô foi construído em dois  anos, tem 34,7 km  , 25 trens, transporta 180 mil por dia e custou R$  750 milhões, segundo  H. Carballal (A TARDE, 23/3/09). Isto para não  falar no impacto  ambiental e déficit operacional.
As duas saídas rodoviárias da cidade, a  Paralela e a BR-324, estão no limite e ainda se fala em construir uma  ponte para Itaparica para trazer os caminhões da BR-101 para o nó do   Iguatemi, em vez de construir um arco rodoviário. Isto quando Manhattan e   cidades europeias cobram pedágios e proíbem a construção de novas   garagens para evitar a entrada de mais carros. 
Em  Salvador, alguns apartamentos centrais  têm até seis vagas.. Não há  planejamento nem qualificação dos projetos  públicos, que são oferecidos  pelas empreiteiras interessadas, vide a  ponte de Itaparica e o parque da  Vila Brandão. 
A Sedham funciona como uma Defesa Civil,  mais que um órgão de planejamento. As licitações são feitas em função do  menor preço, ou seja, do pior projeto e menor tempo.
O desperdício é grande, viadutos são construídos e não servem para nada, as ruas são refeitas a cada inverno. O Pelourinho é recuperado todo ano. Os conjuntos habitacionais, sem serviços, são novas favelas, estão se desfazendo.
Implodiram  o parque olímpico da Fonte  Nova, cujo laudo da Politécnica dizia ser  recuperável, para construir  uma nova arena menor e um shopping, para  dois dias de festa.
O  que acontecerá com a Copa, se chover,  com a cidade alagada e parada  como se viu há pouco? As questões  ambientais têm o mérito de nivelar  todos. Os condomínios fechados da  Paralela foram invadidos por  barbeiros, dengue, sapos, lagartos e  cobras.
O  senhor prefeito teve de mudar de casa e  gabinete, mas prefere trocar  postes cinzas por azuis do que rever um  PDDU aprovado com 180 emendas de  última hora. 
A  classe média já não suporta os  engarrafamentos e se tranca em torres e  condomínios mistos de vida  monástica, com celas, refeitório, oficinas,  botica e orações  televisivas no mesmo lugar. 
Considerada patrimônio da humanidade,  Salvador mergulha hoje na mediocridade imobiliária. Fernando Peixoto  lamentou a “paulistização” da cidade. Arilda Cardoso denuncia a perda de  patrimônio histórico e verde.
Neilton Dórea constata:  “Hoje, há uma arquitetura dependente... A maioria (dos  arquitetos) é  desenhador de uma vontade empresarial” (Muito, de 29/3).
Mas não devemos ser pessimistas. A sociedade civil se organiza em movimentos como “A Cidade Também é Nossa”  e “Vozes da Cidade”, os ministérios públicos, federal e estadual, assumem o papel que lhes cabe. 
Não  é desmatando, segregando e  verticalizando que se vai resolver os  problemas de Salvador, senão  pensando grande e democraticamente,  compreendendo que Salvador só tem  saída na região metropolitana.
São estas questões que cidadãos, ricos e pobres, de Salvador querem discutir, antes que a cidade entre em colapso completo. 
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Texto de Paulo Ormindo de Azevedo - doutor  pela  Universidade de Roma, professor titular da Universidade Federal da   Bahia e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil - Deptº Bahia
isso também se deve ao fato de uma emigração grandiosa de varios estados para cá, devido a mão de obra qualificada não ser em um número satisfatório aqui..
ResponderExcluirbasta vermos todas as empresas, quantos sotaques nós vemos... lá no day hospital mesmo, a maioria dos medicos não são nem baianos..
acrescentado á verticalização da cidade como diz o texto, e a concentração em pituba + rio vermelho + paralela, tornou este caos q vemos.
CADE A REVITALIZAÇÃO DO COMERCIO SR PREFEITO ???? E O PELOURINHO VOLTANDO A SER COMO ANTIGAMENTE,,,
L.R
errata: migração
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