quarta-feira, 4 de maio de 2011

Imobilismo Ecológico

Por Professor MAURÍCIO NOVAES SOUZA
Autor do Coluna, "Ambiente Sustentável" no Zwela Angola.


O grande entusiasmo provocado pela retomada do crescimento econômico nos faz pensar reflexivamente sobre o sentido e sobre o tipo de sociedade que ele estimula. A primeira questão discutida entre os analistas contemporâneos é precisamente a contradição que marca hoje nossa vida coletiva: por um lado cresce a sensibilidade na sociedade a respeito das questões ecológicas; por outro lado, percebe-se um imobilismo quando se trata de programar ações concretas, sobretudo quando tais questões envolvem interesses econômicos.

Segundo Manfredo Araújo de Oliveira, filósofo e professor da UFC, um elemento fundamental é compreender que a crise ecológica é a manifestação de uma crise maior, mais ampla e mais profunda que se concretiza nas crises econômico-financeira, alimentar, ecológica, energética e do trabalho que são profundamente inter-relacionadas. Somadas, desembocam numa crise ético-cultural que permeia a essência do sentido humano do mundo que se constroem na modernidade. Antes de tudo, mostra-se o paradoxo central da civilização que se implantam na modernidade: o desenvolvimento tecnológico vinculado à forma capitalista de configurar a vida social alargou a distância entre os seres humanos, agravou o abismo entre ricos e pobres.

Para esse autor, este modelo que provocou a destruição sistemática do meio ambiente, trouxe problemas globais que ameaçam toda a humanidade. Não seria necessário reconhecer que esta crise nos está encaminhando para um novo padrão civilizacional? A questão ecológica é muito mais do que ela revela imediatamente. Somos provocados por uma ameaça global que nos leva a retomar a pergunta pela validade dos fundamentos básicos que herdamos da cultura moderna. Assim, a crise ecológica desemboca numa crise do próprio sentido da vida humana, de sua inserção na natureza e no mundo humano.

Um dos grandes problemas da atualidade se chama consumo. Então, é preciso se pensar em um modelo de consumo mais sustentável. Para Feizal Samath, da IPS, os “Objetivos de Consumo para o Milênio”, que vão desde reduzir as horas de trabalho até aumentar o uso de bicicletas e caminhar mais, usar roupas de segunda mão e consumir menos carnes e produtos lácteos, ganham espaço nos debates via internet. Estas recomendações tomam como modelo os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio”, definidos em 2000 pela Assembleia Geral de Organização das Nações Unidas (ONU), que incluem, entre outros, reduzirem pela metade, em relação a 1990, a proporção de pessoas que sofrem pobreza e fome, até 2015. Contudo, mesmo com tamanha mobilização política, de fato, isso só ocorrerá quando se fixarem objetivos pessoais para ajudar a reduzir os hábitos que prejudicam o meio ambiente. A Educação Ambiental nas escolas, desde os tempos iniciais da infância, será fundamental.

Erik Assadourian, diretor do projeto sobre Culturas em Transformação e pesquisador do Worldwatch Institute, citado por Feizal Samath, listou cinco sugestões para os Objetivos de Consumo, na seguinte sequência:

• reduzir pela metade a obesidade e o sobrepeso até 2020, para reduzir a mortalidade, a morbidade e os custos econômicos, bem como as pressões ecológicos causadas pelo excessivo consumo de alimentos;

• reduzir pela metade a semana de trabalho, para distribuir melhor os empregos e a riqueza, promover um estilo de vida mais saudável e diminuir a atividade econômica;

• cobrar impostos dos mais ricos da sociedade;

• duplicar o uso de meios de transporte não motorizados, como as bicicletas; e

• garantir saúde para todos.

Além dessas, há diversas outras sugestões. Matthew McDermott, citado por Feizal Samath, que se dedica a temas de sustentabilidade, sugeriu duplicar a quantidade de alimentos produzidos organicamente, o que reduziria o uso de combustíveis fósseis, fertilizantes químicos e agrotóxicos, além de permitir menor uso de eletricidade em casa. Em um e-mail publicado no site de “Munasinghe”, Philip Vergragt propôs reduzir em 25% o espaço que cada pessoa utiliza para viver; também, que se cozinhe mais em casa, com ingredientes frescos e, dentro do possível, adquiri-los no próprio lugar. Outras recomendações incluem diminuir a compra de novos produtos e elaborar, a partir do lixo, adubo orgânico e reciclagem. Jeremy Williams, jornalista britânico, sugeriu em seu site “Make Wealth History” uma redução nas viagens áreas, acabar com o desperdício de alimentos e criar um sistema bancário estável.

Contudo, para Maurício Gomide, o problema se resume no exclusivismo humano - em economia, pensamento racional; ou seja, antropocentrismo (atributo natural e útil para o homem primitivo que lutava para sobreviver). Para melhor entendimento do assunto, julga-se necessário fazer ligeira divagação sobre o instinto animal. A natureza toda está inserida no planeta de uma forma perfeita, harmoniosa e sábia. Aos seres vivos tais forças outorgaram o instinto, agregado à genética, que lhes guia o comportamento na dinâmica da vida por meio de um código. Em face aos fatores de evolução das espécies, por ação de algum agente de mutação no homem, aconteceu uma rápida evolução do cérebro. Até esse período, o exercício da inteligência determinava as ações. Com o passar do tempo os instintos, que era feito sem conhecimento de causa e efeito, foi substituído pelo pensamento racional.

Ocorre que alguns instintos permanecem no comando de certas ações do homem. Dentre eles, destaca-se o de agregação – por necessidade de segurança, é ser complementar aos cuidados convergentes na preservação da espécie. Esse instinto sobrepõe-se à razão. É por esse motivo que se estão sempre agindo e reagindo em função dos interesses do homem, obscurecendo uma percepção mais ampla do meio vital, tornando-se responsável direto pelo antropocentrismo, instinto natural no homem biológico, mas altamente prejudicial aos interesses do meio ambiente, conforme deduz o homem pensante. O antropocentrismo é atributo natural e já foi muito útil para o homem primitivo que lutava para sobreviver, mas que não faz nenhum sentido nos dias atuais.

Para Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), é preciso que se mudem os padrões de desenvolvimento e meio ambiente. Para ele, o tema da sustentabilidade ambiental ganha maior dimensão e profundidade quando relacionado ao padrão de desenvolvimento, especialmente no momento presente de transição da sociedade urbano-industrial. Antes disso, em plena sociedade agrária, seja pela dimensão da população global abaixo de um bilhão de pessoas, seja pelo padrão de desenvolvimento, o meio ambiente não acusava, por exemplo, impactos climáticos significativos frente à baixa concentração de dióxido de carbono na atmosfera e à estabilidade na temperatura global. No sistema de produção e consumo generalizado globalmente pelo modelo estadunidense, especialmente a partir da Segunda Guerra Mundial, a oferta de energia não-renovável cresceu rapidamente, com forte impacto na elevação da temperatura do planeta.

De acordo com esse autor, a expansão econômica na sociedade urbano-industrial pressupõe a inexorável ampliação do consumo de energia, pois do contrário pode haver estagnação econômica combinada com a regressão social. Assim, nota-se que o padrão de desenvolvimento capitalista tem implicado elevação mais intensa da renda per capita que os países não desenvolvidos. Até o presente momento, em geral, o aumento da renda individual traz consigo a maior expansão do consumo de energia por pessoa. Ademais, constata-se também que a composição da energia no mundo encontra-se fortemente associada ao carvão (41%) e ao gás (20%). Carvão, gás e petróleo respondem conjuntamente por quase 70% da oferta mundial de energia. Nos países da OCDE, a matriz energética encontra-se em quase 2/3 dependente do carvão, gás e petróleo; ou seja, continuando esse modelo, riscos de aumento da temperatura do planeta persistirão.

Citando Aldous Huxley, talvez a maior lição da história seja a de que ninguém aprendeu com as lições da história. A solução correta seria adotar uma visão participativa na Natureza, a fim de evitar atitudes individualistas. Em um cenário maior, onde o tema não seja apenas consumo sustentável, mas onde se vislumbre a sustentabilidade ambiental, ganha maior dimensão e profundidade quando se relacionam todas essas questões ao padrão de desenvolvimento, especialmente no momento presente de transição da sociedade urbano-industrial.

Professor MAURÍCIO NOVAES SOUZA , é Engenheiro Agrônomo, Mestre em Recuperação de Áreas Degradadas, Economia e Gestão Ambiental, e Doutor em Engenharia de Água e Solo. É professor do IF Sudeste MG campus Rio Pomba e Diretor Geral do IF Sudeste MG campus São João del-Rei. Ele é Autor do Coluna, "Ambiente Sustentável" no Zwela Angola. Visite o Blog to Prof. Novaes Souza

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