segunda-feira, 25 de abril de 2011

Tropicalismo

O movimento propunha uma nova postura moral e estética contra o pensamento da época.

Tem origem nos baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil com as músicas Alegria, Alegria e Domingo no Parque, no Festival de MPB da TV Record em 1967. Acompanhadas por guitarras elétricas (uma novidade), as canções causam polêmica em uma classe média universitária nacionalista, contrária às influências estrangeiras nas artes brasileiras. O disco Tropicália ou Panis et Circensis (1968), manifesto do movimento, vai da estética brega do tango-dramalhão Coração Materno.

Além da música (cujos maiores representantes foram Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Torquato Neto, Os Mutantes, Tom Zé), manifesta - se nas artes plásticas (destaque para a figura de Hélio Oiticica), no cinema (o movimento sofreu influências e influenciou o “Cinema Novo” de Glauber Rocha), no pensamento de Luiz Carlos Maciel e no teatro (sobretudo nas peças anárquicas de José Celso Martinez).

Os Tropicalistas criticam os valores estabelecidos através do jeito de se vestirem, pela incorporação de elementos estrangeiros e de elementos da cultura de raiz das diversas regiões do Brasil, misturando manifestações tradicionais brasileiras com inovações estéticas radicais. Critica também à esquerda intelectualizada, a não-aceitação de qualquer forma de censura, a sedução dos meios de comunicação de massa, o retrato da realidade urbana e industrial, a exploração do ser humano, tudo isso, todos esses elementos montado com uma colagem de fragmentos do dia-a-dia, eram, de fato, os princípios norteadores da arte tropicalista.

O Tropicalismo era visto por seus adversários como um movimento vago e sem comprometimento político, comum à época em que diversos artistas lançaram canções abertamente críticas à ditadura. De fato, os artistas tropicalistas fazem questão de ressaltar que não estavam interessados em promover através de suas músicas referências temáticas tradicionais à problemática político-ideológica, como feito até então pela canção de protesto: acreditavam que a experiência estética vale por si mesma e ela própria já é um instrumento social revolucionário. A esquerda tradicional considerava os tropicalistas reacionários, pela incorporação de elementos estrangeiros nas suas criações.

Mas, Caetano faz a critica, como na letra de “É Proibido Proibir”, onde questiona:
·         as restrições sexuais da família (“a mãe da virgem diz que não”);
·         a manipulação das consciências pelo capitalismo de consumo (“e o anúncio da televisão”),
·         a liberdade artística  (“e o maestro ergueu o dedo”);
·         ao policiamento da classe dominante (“e além da porta há o porteiro”);
·         e ele conclui: (“e eu digo não / e eu digo não ao não / e eu digo é proibido proibir”);
·         e depois ele provoca: (“me dê um beijo meu amor”);
·         convoca uma reação ao sistema quando evoca às manifestações estudantis na França (“eles estão nos esperando / os automóveis ardem em chamas”) e;
·         propõe uma reformulação radical  de todos os valores estabelecidos (“derrubar as prateleiras / as estantes / as estatuas / as vidraças / loucas / livros”);
·         nega a cultura burguesa (“derrubar...livros sim!”).
E isso com o inovador arranjo do maestro Rogério Duprat que mesclava vários elementos e o acompanhamento livre, alegre, solto e debochado de “Os Mutantes”.

Um comentário:

  1. A Bahia sempre possuiu uma grande matriz cultural, inclusive consegue manter até os tempos atuais as ricas manifestações da "cultura de raiz".

    No início da década de 60 o então reitor da Universidade Federal da Bahia, Edgar Santos, promoveu uma revolução nas artes, trazendo para compor o quadro de professores a arquiteta italiana Lina Bo Bardi, o músico alemão Hans-Joachim Koellreutter, o antropólogo e fotógrafo francês Pierre Verger, o músico suiço Walter Smetak, a bailarina polonesa Yanka Rudzka, o filósofo português Agostinho da Silva, entre outros.

    Esses renomados pensadores se juntaram aos nativos como o geógrafo Milton Santos, o artista plástico Mário Cravo, o crítico de cinema Walter da Silveira, do já baiano-argentino Karybé, o antropólogo Vivaldo da Costa Lima, do diretor de teatro Martim Gonçalves e tantos outros brasileiros.

    Nesta época Salvador que geograficamente é uma cidade pequena, tinha uma população em torno de trezentos mil habitantes. Desta forma o entorno de todos os locais do movimento cultural distava menos de cinco kilômetros o que facilitava a convergência dessa massa de intelectuais.

    Caetano Veloso e Gilberto Gil chegam, neste período, à Salvador, vindos de cidades do interior de riquíssima diversidade. Caetano Veloso passa a sua infância e adolescência na cidade onde nasceu, Santo Amaro da Purificação, onde o sincretismo religioso, a cultura negra, indígena e portuguesa se mesclam, formando o "samba de roda", tombado pela UNESCO, os famosos candomblés da região e tantas outras manifestações culturais. Gilberto Gil, embora nascido em Salvador, passa a sua infância e adolencência em Ituaçu, cidade da Chapada Diamantina, também de rico patrimônio artistico e onde nasceu o também compositor e cantor Moraes Moreira.

    Neste clima efervescente de Salvador é que surge um novo movimento que visava romper as amarras de uma cultura, embora muito rica, provinciana. Os espíritos inquietos dos jovens artistas se apresentam. Surge Gláuber Rocha criando o "cinema novo" que revoluciona todos os fundamerntos da arte cinematográfica. É inaugurado o Teatro Vila Velha formado por um grupo de dissidentes da Escola de Teatro da UFBA., liderados pelo diretor João Augusto, pelo ator Othon Bastos e outros brilhantes. A idéia era criar um espaço alternativo, de contra-cultura, de contestação, que albergava vários movimentos sociais e quartel general de lutas estudantis.

    A inauguração é com o show "Nós, Por Exemplo", formado por nada menos que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, entre outros.

    Assim começa o Tropicalismo, que, embora com propostas semelhantes ao movimento de 20, "Semana da Arte Moderna", igualmente "antropofágico", se distancia em outros aspectos.

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