Em sentido amplo, a utopia pode ser entendida como tudo o
que ainda não foi tentado. A importância da utopia é a de mover segmentos da
população que estão insatisfeitos e não comprometidos com a ordem existente,
por isso ela é essencial na democracia. A utopia é uma condição “sine qua non”
do homem como ser, que deseja, que busca a superação, a transcendência, os
sonhos.
Ao contrário, o pragmatismo tão propalado nesta sociedade
pós – moderna comporta imensos riscos. Ser pragmático é, em miúdas palavras, ser
prático ou seguir uma praxe estabelecida. Desta forma, ao exercer esse
princípio corremos o risco da apatia, da adaptação, ou, se preferirem, do
conformismo. Este conformismo está expresso quando concordamos com o que está
posto, quando passamos a acreditar que não existem alternativas no jogo
político, por exemplo.
Segundo Mannheim: “A desaparição da utopia ocasiona um
estado de coisas estático em que o próprio homem se transforma em coisa.
Iríamos, então, nos defrontar com o maior paradoxo imaginável, ou seja o do
homem que, tendo alcançado o mais alto grau de domínio racional da existência,
se vê deixado sem nenhum ideal, tornando-se um mero produto de impulsos. (...)
o homem perderia, com o abandono das utopias, a vontade de plasmar a história
e, com ela, a capacidade de compreendê-la”.
Este “estado de coisas estático” é percebido quando ouvimos
as pessoas afirmarem que "não gostam de política", ou quando
observamos a cristalização de um conjunto de noções anti-políticas no senso
comum. Esta expressão de tendências indica fenômenos bem mais amplos do que a
simples "desinformação".
Ao sufocar a utopia e enaltecer o pragmatismo, o mundo pós -
moderno estabeleceu mecanismos de reprodução sistêmica e tornou - se autômato,
colocando em risco a própria democracia. Este pragmatismo cria sociedades
marcadamente burocratizadas com instituições políticas rigorosamente fora de
controle social o quê, por seu turno, é fonte propositiva de irregularidades,
de desvios, de crimes, e da violência.
No campo político o pragmatismo e a sua busca por resultados
imediatos tende a subordinar a concepção da ética. A ética não deve ser
reduzida como a esfera específica onde se disputam posições; não deve ser
limitada aos interesses em jogo.
Compete à sociedade introduzir a perspectiva da
universalização que ultrapasse os antagonismos da busca pelo poder e supere a
sua dispersão da ética. Compete à sociedade afirmar aquilo que ela deve ser
para além de suas fraturas.
Os defensores da ordem vigente procuram desqualificar e até
mesmo ridicularizar os contestadores utopistas. Com o tempo, muitos destes se
rendem ao discurso “realista”. As necessidades políticas para a aquisição e
manutenção do poder levam à prática de atitudes antes criticadas, mas agora
legitimadas pelo “pragmatismo”.
É muito comum a crítica ao “utopismo” dos outros, sendo que
o crítico coloca-se na posição do “realista”. Nesses casos, a crítica tende a
ser pejorativa, ou mesmo feita com certa condescendência. De qualquer forma, o
objetivo é caracterizar o outro como “irrealista”, “sonhador”, etc. Como
escreve Mannheim:
“Os representantes de uma ordem dada irão rotular de
utópicas todas as concepções de existência que do seu ponto-de-vista jamais
poderão, por princípio, se realizar. De acordo com esta utilização, a conotação
contemporânea do termo “utópico” é predominantemente a de uma ideia em
princípio irrealizável. (...)Não obstante, os homens cujos pensamentos e
sentimentos se acham vinculados a uma ordem de existência na qual detêm uma
posição definida, manifestarão sempre a tendência a designar de absolutamente
utópicas todas as ideias que tenham se mostrado irrealizáveis apenas no quadro
da ordem em que eles próprios vivem.”.
Portanto, é imprescindível que a população não perca o seu
poder de fiscalização, de controle, e de busca por uma sociedade mais justa e
mais ética, ou como diz Mannheim:
“Com efeito, quanto mais ativamente um partido em ascensão
colabora em uma coalizão parlamentar, tanto mais abandona seus impulsos
utópicos originais e, com eles, sua perspectiva ampla, tanto mais seu poder
para transformar a sociedade tenderá a ser absorvido por seus interesses em
detalhes isolados e concretos. (...)”.
O artigo é muito bem elaborado e nos leva a pensar no ambiente Utópico dos dois lados. O céticos, digamos assim, levam a UTPOPIA como um sonho irreal de pessoas aleatórias a realidade, e que só pensam em uma vida serena, e diga-se de passagem ao ver de muitos, regrada a muita droga e nada de trabalho. Por outro lado o que se pregam os que se dizem UTOPISTAS em sua maioria, é exatamente o que foi descrito acima, e por interesses próprios querem fazer suas idéias serem aceitas, quando na verdade são apenas sonhos que nunca trarão benefícios nem a eles mesmos.
ResponderExcluirQuanto ao pragmatismo, ser pragmático é ser prático, mas relevante, praticidade não quer dizer aceitação, ser prático de verdade e como nos casos citados no texto, saber que a coisa está complicada, e que apenas revoltas não irão resolver, apenas, blogs, não farão a diferença, ser pratico é pensar no que será o melhor para todos (UTOPIA), e procurar fazer, ou levantar a idéia, isso é praticidade, relevância e pragmatismo, seguindo um padrão, sempre o que é realmente o melhor para a sociedade, pois nem tudo o que o homem almeja é o melhor para ele, pois um mal para a sociedade pode vir mascarado de bem, e sendo eu só UTÓPICO, não conseguirei enxergar.
Ser pragmático no sentido de concordar com tudo, ou reclamar sempre da política, e na hora de votar escolher políticos corruptos, não irá mudar nada.
Sejamos PRÁTICOS e UTÓPICOS, se não tem político nenhum que seja de acordo com nossa utotia pragmática, não devemos ir as urnas, aí as coisas mudam. Essa é minha UTOPIA, mas sou pragmático, ou seja, estas duas palavras tem que ter seu sentido revisto de maneira correta, não apenas em uma visão esquerdista.