sábado, 20 de dezembro de 2025

Como se tornar uma pessoa de boa energia.

Como se tornar uma pessoa de boa energia.

Quando alguém diz que você tem "boa energia", significa que sua presença é positiva, agradável e inspiradora, fazendo as pessoas se sentirem bem, confortáveis e mais leves perto de você.

Em outras palavras, seja:

    Positivo e Otimista: Tenha atitudes construtiva, não foque em negatividade e inspire os outros.
    Empático e Gentil: Demonstre simpatia, seja um bom ouvinte e se importe com os outros.
    Vibrante e Entusiasmado: Tenha disposição, vitalidade e esteja em sintonia consigo mesmo e com a vida.
    Atraia Coisas Boas: Pessoas vão gostar de estar perto, e coisas positivas irão acontecer.
    Seja um Refúgio: Seja alguém que traz conforto e faz as pessoas se sentirem seguras, como um apoio.
    Tenha bom caráter: Tenha atitudes boas. Assim você lida bem com limites e não se envolve em conflitos desnecessários. 

O que significa querer estar sempre certo, segundo a psicologia

O que significa querer estar sempre certo, segundo a psicologia
Por Larissa Carvalho 11/12/2025 

Querer ter sempre a razão é um comportamento que costuma aparecer em diferentes contextos: no trabalho, na família, entre amigos e até em debates nas redes sociais. Em muitos casos, essa postura é interpretada apenas como “gênio forte” ou “personalidade difícil”. No entanto, a psicologia aponta que esse hábito pode estar ligado a mecanismos internos mais profundos, relacionados à forma como a pessoa lida com inseguranças, críticas e com a própria imagem.

O que significa sempre querer ter razão segundo a psicologia

A psicologia descreve esse padrão como um conjunto de fatores cognitivos e emocionais. Um dos conceitos frequentemente associados a esse comportamento é a inflexibilidade cognitiva, isto é, a dificuldade de mudar de ideia, considerar novas perspectivas ou revisar crenças antigas (Hohl e Dolcos, 2024).

Nesses casos, a pessoa tende a interpretar divergências como desafios pessoais, e não como diferenças naturais de opinião. Assim, o diálogo deixa de ser um espaço de troca e passa a funcionar como um “campo de prova” em que é preciso defender a própria imagem a qualquer custo.

Quais são as principais causas de querer ter sempre a razão

De acordo com abordagens clínicas atuais, o comportamento de precisar estar certo o tempo todo costuma ter raízes em diferentes áreas da vida emocional. Em muitos casos, ele é um reflexo de experiências anteriores, modelos de relacionamento e estratégias de proteção que foram sendo construídas ao longo dos anos.

Além de fatores individuais, como traços de personalidade mais rígidos, o ambiente em que a pessoa cresceu também pode reforçar esse padrão. A seguir, algumas causas comuns ajudam a entender por que a necessidade de ter razão se torna tão intensa, como explicita o estudo de Souza, Pelegrini e Fineberg (2024).

    Medo de errar: o equívoco é visto como falha pessoal, o que gera desconforto intenso ao reconhecer um engano.
    Baixa autoestima e insegurança: confirmar que está certo funciona como uma forma de reforçar o próprio valor.
    Inflexibilidade cognitiva: há resistência em rever crenças ou aceitar informações que contrariem o que já se pensa.
    Necessidade de controle: manter opiniões firmes oferece sensação de ordem em situações que parecem imprevisíveis.

Como esse comportamento afeta relacionamentos e bem-estar emocional

Do ponto de vista das relações, a necessidade constante de ter a razão pode gerar desgaste. Conversas simples podem transformar-se em disputas, já que o objetivo passa a ser provar algo em vez de compreender o outro, o que reduz a empatia e a sensação de parceria.

No campo emocional, insistir em estar certo o tempo todo pode aumentar a ansiedade e a tensão interna. A pessoa passa a monitorar situações para garantir que não será desmentida, limita a abertura ao aprendizado e pode sentir solidão por ser vista como pouco acessível ou rígida.

- Discussões tendem a se prolongar além do  necessário.
- Erros menores ganham proporções maiores  por falta de admissão.
- Outras pessoas podem evitar conversar 
sobre determinados temas.
- A pessoa corre o risco de ser vista como 
pouco acessível ou rígida.

É possível lidar de forma diferente com a necessidade de ter razão

A psicologia indica que, embora esse comportamento possa estar bem enraizado, ele não é fixo. Com autoconhecimento e, em alguns casos, acompanhamento profissional, é possível reconhecer padrões, entender de onde vem a dificuldade em admitir erros e desenvolver formas mais flexíveis de se relacionar com opiniões diferentes.

Algumas estratégias simples podem ajudar a flexibilizar esse padrão, favorecendo relações mais saudáveis e uma postura interna menos defensiva. Entre elas estão práticas que estimulam a escuta ativa, a tolerância ao erro e a compreensão de críticas como oportunidades de crescimento:

    Perceber os gatilhos: identificar situações em que a necessidade de ter razão aparece com mais força, como em discussões específicas ou diante de certas pessoas.
    Diferenciar crítica de ataque pessoal: separar a ideia que está sendo questionada da própria identidade ajuda a reduzir a sensação de ameaça.
    Praticar escuta ativa: prestar atenção real ao que o outro diz, em vez de preparar contra-argumentos o tempo todo.
    Normalizar o erro: encarar equívocos como parte do desenvolvimento, e não como sinal de fracasso.

https://www.correiobraziliense.com.br/cbradar/o-que-significa-querer-estar-sempre-certo-segundo-a-psicologia/.

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Zygmunt Bauman, sociólogo: “Existem muitas maneiras de achar a felicidade, mas na sociedade de hoje todas passam por uma loja.

Zygmunt Bauman, sociólogo: “Existem muitas maneiras de achar a felicidade, mas na sociedade de hoje todas passam por uma loja.

A ideia de felicidade sofreu uma transformação significativa e segundo Bauman, o consumo tornou-se o novo caminho para atingir o bem-estar.

Redação O Antagonista

Em tempos contemporâneos, poucos intelectuais se destacaram tanto quanto o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que dedicou sua vida a analisar as mudanças constantes em nossa sociedade, cunhando o termo “modernidade líquida” para descrever uma realidade em que tudo é transitório, assim como a felicidade.

Nesse cenário, as relações pessoais, carreiras profissionais e até mesmo a identidade passam por transformações rápidas e ininterruptas. Em 2025, as previsões de Bauman continuam ressoando, evidenciando um futuro indefinido onde a incerteza se torna um estado perene.

Contrastando com a “sociedade sólida” do passado, que valorizava a permanência e os vínculos duradouros, a era atual se caracteriza pela volatilidade.

Antigamente, as pessoas frequentemente passavam suas vidas inteiras em um único emprego, formavam famílias estáveis e envelheciam em ambientes que pouco mudavam.

Hoje, no entanto, a mudança é a norma. Indivíduos se veem constantemente reinventando-se, mudando de emprego, parcerias e até mesmo redefinindo suas identidades pessoais.

Dados recentes do Observatório Demográfico revelam que mais de 50% dos casamentos em diversos países resultam em divórcio, espelhando a fragilidade emocional da vida moderna.

Como a busca pela felicidade foi redirecionada?
Neste panorama incerto, a concepção de felicidade sofreu uma transformação significativa. Segundo Bauman, o consumo tornou-se o novo caminho para atingir o bem-estar.

Ao invés de associar a identidade ao trabalho, valores ou contribuições pessoais, ela agora se reflete naquilo que se possui. Essa mudança de perspectiva enfatiza que não somos mais definidos pelo que fazemos, mas pelo que compramos.

Tal constatação oferece uma crítica contundente ao consumismo desenfreado, evidenciando como a satisfação através de compras é efêmera e cria uma dependência contínua em busca de novas aquisições.

A neurociência apoia as intenções de Bauman?

As descobertas na neurociência corroboram as ideias centrais de Bauman.

Atividades simples e significativas como praticar exercícios, socializar, leitura ou até mesmo atos de caridade são capazes de desencadear reações químicas no cérebro, liberando hormônios como dopamina e oxitocina, associados à felicidade.

Infelizmente, a sociedade atual tende a subvalorizar essas experiências face à gratificação instantânea proporcionada pelo consumo e pelas telas digitais.

Estudos de prestigiadas universidades, como Harvard, demonstram que as conexões humanas são cruciais para uma vida satisfatória, mas são muitas vezes negligenciadas em nosso ritmo acelerado de vida.

Qual é o impacto das redes sociais sobre nossa felicidade?

Em um cenário ligado às interações digitais, as redes sociais emergem como vitrine das vidas pessoais, reforçando a lógica do consumismo. Nelas, demonstram-se aquisições e experiências como se fossem troféus, em uma busca incessante por validação externa.

No entanto, essa felicidade projetada é passageira e frágil. Ao sumir o brilho de um novo objeto ou a emoção de uma experiência recente, resta um sentimento de vazio.

Bauman acreditava que esse ciclo nos leva a esconder nossas emoções e nos desconectar de nós mesmos e dos outros, prejudicando nossa capacidade de enfrentar desafios emocionais de maneira saudável.

Em suma, as ideias de Zygmunt Bauman sobre a modernidade líquida permanecem altamente relevantes no contexto atual.

Ele alertava sobre os perigos de uma vida guiada pelo consumo e pela instabilidade emocional, destacando a necessidade de um retorno a formas de felicidade mais genuínas e duradouras.

À medida que a sociedade avança, cabe a cada indivíduo buscar um equilíbrio que valorize relações humanas e experiências significativas sobre as satisfações instantâneas e superficiais do consumo.

No link
https://oantagonista.com.br/ladooa/entretenimento/zygmunt-bauman-sociologo-existem-muitas-maneiras-de-achar-a-felicidade-mas-na-sociedade-de-hoje-todas-passam-por-uma-loja/

sábado, 1 de novembro de 2025

Como se formou o modo de vida que cada um de nós temos

O grito da razão

O Iluminismo, também conhecido como Esclarecimento, foi muito mais do que apenas um período histórico do século XVIII — trata-se de uma verdadeira revolução intelectual e cultural.

Inspirado pela máxima kantiana Sapere Aude! (“Ouse saber!”), o movimento representou o momento em que o ser humano passou a confiar em sua própria razão, abandonando a dependência da tradição, da fé cega e da autoridade política. 

A mudança de paradigmas de pensamento marca o nascimento da modernidade filosófica, em que o indivíduo racional e a ciência tornam-se o novo centro da organização social e do conhecimento, deixando um pouco mais de lado o tradicionalismo e a religiosidade que eram temas centrais.

O Iluminismo não significou apenas a substituição das “trevas” pela “luz”. Seu projeto de libertação racional e humana, de modo controverso, trouxe também novas formas de dominação. Ao longo do tempo, o ideal de emancipação humana deu lugar à racionalização excessiva e ao controle técnico.

Os iluministas acreditavam que, por meio da razão e da investigação científica, o homem poderia compreender o mundo e transformá-lo para melhor. Esse ideal se opôs diretamente ao dogmatismo religioso, que impunha verdades absolutas, e ao absolutismo político, que concentrava o poder nos reis e monarcas, justificando sua autoridade como de origem divina.

Com o sucesso das ciências naturais, principalmente após as descobertas de Newton, surgiu a idealização de que a história humana era uma marcha progressiva e racional.

A ideia de progresso defendia que o conhecimento científico e a educação conduziriam a humanidade de um passado conturbado para um futuro de liberdade e justiça.

Essa visão linear e otimista da história se tornou um dos pilares da Modernidade e foi usada para justificar avanços tecnológicos e a expansão econômica, mesmo que, mais tarde, também tenha servido de justificativa para o colonialismo europeu, com o argumento de levar a “civilização” até outros povos.

Para os iluministas, se a razão é universal, os direitos também o são. Assim, nasceram as ideias de direitos naturais: vida, liberdade e propriedade, segundo John Locke. Tais direitos não dependem da vontade do rei ou da igreja, mas pertencem a todos os seres humanos. Locke via o Estado como resultado de um contrato social, criado para proteger esses direitos.

O pensador Jean-Jacques Rousseau, porém, ofereceu uma visão mais democrática: a liberdade verdadeira está na participação política, e a soberania reside na Vontade Geral. Esses conceitos fundamentaram o liberalismo político e inspiraram revoluções, como a francesa e a americana.

A Sociedade Moderna

Os pensamentos iluministas não se restringiram somente à filosofia, os ideais se transformaram em projetos aplicados na sociedade moderna.

Política

Para evitar que o poder político se transformasse em tirania, Montesquieu propôs, em O Espírito das Leis, a divisão dos poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Cada poder deveria limitar o outro, garantindo equilíbrio e liberdade. Essa estrutura institucional é, até hoje, a base das democracias modernas e das Constituições brasileiras, inclusive a de 1988.

Economia

O pensador Adam Smith, em A Riqueza das Nações, estendeu a ideia de liberdade individual para a esfera econômica. Ele defendia que o mercado funcionava de acordo com leis naturais e que o Estado deveria interferir o mínimo possível.

O interesse individual de cada pessoa, ao buscar o próprio lucro, seria guiado por uma “mão invisível” que promoveria o bem-estar coletivo. Dessa forma, o Iluminismo forneceu a base teórica para o capitalismo liberal, associando a razão à eficiência e ao progresso econômico.

Ciência

No campo científico, o Iluminismo consolidou a ascensão do método experimental e empírico. A física de Newton tornou-se o modelo do saber racional. O universo passou a ser entendido como uma máquina regida por leis matemáticas, substituindo explicações metafísicas e religiosas. O homem, pela ciência, acreditava poder dominar a natureza e construir um mundo mais previsível e controlado.

As Críticas à Modernidade Iluminista

O otimismo iluminista foi fortemente questionado no século XX, quando guerras, genocídios e crises ecológicas mostraram o lado obscuro da racionalidade moderna. A questão central foi “como o projeto da razão, criado para libertar o homem, pôde gerar tamanha destruição?”

Filósofos como Theodor Adorno e Max Horkheimer, tecendo críticas da Escola de Frankfurt, na obra Dialética do Esclarecimento, afirmaram que o Iluminismo acabou por se autodestruir. A razão, antes crítica e libertadora, transformou-se em razão instrumental, preocupada apenas com a eficiência e o controle.

Essa forma de racionalidade passou a dominar tanto a natureza quanto o próprio ser humano, reduzindo tudo a instrumentos e números. Na sociedade moderna, essa lógica se expressa na burocracia, na tecnocracia e na indústria cultural, que padronizam o pensamento e limitam a autonomia crítica.

Já filósofos como Michel Foucault foram além, questionaram a própria ideia de uma razão universal numa visão pós-estruturalista. Para eles, o Iluminismo representou a imposição de um modelo eurocêntrico de racionalidade, baseado no homem branco, europeu e proprietário.

Essa visão “universal” excluiu as vozes femininas, indígenas, africanas e populares, definindo-as como irracionais ou inferiores. A partir disso, surgiram as críticas à violência epistêmica (a dominação de um tipo de saber sobre os outros) e à forma como o discurso da civilização justificou o colonialismo, o racismo e o patriarcado.

O legado e o desafio contemporâneo

Apesar das críticas, seria um erro considerar o Iluminismo um fracasso. Muitos de seus ideais permanecem como pilares do mundo contemporâneo: os direitos humanos, a liberdade de expressão, o pensamento científico e até mesmo o ideal democrático são frutos deste projeto.

A própria crítica ao Iluminismo só é possível porque herdamos dele as ferramentas da razão e da reflexão crítica. O DESAFIO ATUAL NÃO É ABANDONAR A RAZÃO, MAS REDEFINI-LA. A filosofia contemporânea busca uma razão mais autocrítica e plural, capaz de dialogar com diferentes culturas e saberes, reconhecendo seus próprios limites.

EM VEZ DE UMA RAZÃO QUE DOMINA, atualmente se busca UMA RAZÃO QUE EMANCIPA E RECONCILIA O HUMANO COM A DIVERSIDADE e com a natureza. O projeto iluminista, portanto, não está encerrado: continua até hoje vivo em nossa tentativa de construir uma sociedade mais justa, livre e consciente, uma sociedade que ainda ousa saber.

Artigo completo: 
https://vestibulares.estrategia.com/portal/materias/filosofia/iluminismo-e-modernidade-sombra-da-razao-e-a-sociedade/

sábado, 25 de outubro de 2025

Que fazer quando o mal-estar com a sociedade já não decorre da proibição, mas do excesso?

Diálogo com a psicanalista Clotilde Leguil, sobre novo livro. Que fazer quando o mal-estar com a sociedade já não decorre da proibição, mas do excesso? E quando a exigência de superar limites invade o pessoal, ecológico e político? Quais saídas?

Do site "Outras Palavras" 

Clotilde Leguil em entrevista a Amador Fernández-Savater, no CTXT | Tradução: Rôney Rodrigues

“Todos estamos em perigo”, disse Pasolini em sua última entrevista, poucas horas antes de ser assassinado. Esta frase me vem à mente ao ler o último livro da psicanalista Clotilde Leguil, A Era do Tóxico – Ensaio sobre o novo mal-estar na civilização [sem tradução para no Brasil]. Todos estamos em perigo não apenas pela ameaça externa de poderes destrutivos para a vida, mas também pela possibilidade de que o veneno da destrutividade atue e se espalhe a partir do nosso próprio interior. Nós somos parte do perigo.

É isso que Leguil se propõe a pensar, escutando o que diz uma palavra-sintoma que circula hoje por toda parte: o “tóxico”. Com o auxílio da literatura, do cinema e da psicanálise, Leguil interpreta o tóxico como um novo imperativo de gozo, a compulsão por uma satisfação bruta e imediata, uma voracidade que não pode ser saciada de forma alguma. O mal do ilimitado. O regime do hiper (hiperatividade, hiperestimulação, hipersexualização).

O filósofo Félix Guattari propôs, há vinte e cinco anos, pensar interligados três “ecossistemas”: o íntimo, o relacional e o planetário. O ensaio de Leguil reflete sobre o “veneno” que hoje ameaça desertificar os três, esgotando o corpo individual, social e terrestre. E propõe uma ética do desejo, da responsabilidade perante o nosso desejo, como resistência e limite.

Apesar de Heidegger, que afirmava que a fala corrente é uma fala “inautêntica”, repleta de clichês, a senhora decide escutar o mal-estar na linguagem ordinária e fixa-se numa palavra de uso corrente hoje: o tóxico. Um exercício de escuta analítico, poderíamos dizer, de um sintoma de época. Quais possibilidades e riscos tem este exercício de escuta? A senhora teme ter contribuído para legitimar uma palavra que provém do âmbito da autoajuda, do coaching, da educação sentimental das redes sociais?

Interessei-me por este significante do “tóxico” a partir do seu novo uso, que me fez levantar questões. Apostei em levar a sério esta extensão do termo, própria da nossa época. Hoje em dia, o tóxico já não designa apenas as substâncias em si, mas uma modalidade de relação com o outro, que se assemelharia a um veneno. Partindo desta constatação, tentei interpretar esta nova metáfora do nosso mal-estar, uma nova metáfora que capturei primeiro através da linguagem, do discurso concreto, da forma como os sujeitos falam do seu mal-estar. Não se trata apenas de usar esta palavra para legitimá-la, mas de interpretá-la e tentar ver o que ela abrange, de que é sintoma.

O tóxico, diz a senhora, fala-nos de um novo mal-estar, do mal-estar específico da nossa época. Já não estamos na época em que o mal-estar tinha a ver com a proibição e a lei, com um esmagamento do desejo através da repressão, mas houve uma mudança. Do que se trata?

Efetivamente, interpretei esta influência do tóxico nas relações humanas a partir da psicanálise. Na minha opinião, ela testemunha uma nova figura do Super-eu, aquela que Lacan definiu em seu escrito Kant com Sade em 1963. Estaríamos nos encontrando perante uma inversão do Super-eu da proibição, do Super-eu freudiano. E esta inversão revelaria também a verdadeira função do Super-eu, que é sempre da ordem da forçatura, do forçamento. Este novo Super-eu é aquele que força a gozar cada vez mais. Produz o que Lacan chamou a busca de um plus de gozo, que se impõe a cada um. O termo “tóxico” poderia dar testemunho dos efeitos deste “excesso” de gozo, não no sentido de “excesso” de prazer, mas no sentido de “excesso” de forçamento do prazer, de exigências pulsionais que aniquilam o desejo.

O tóxico, no uso corrente do termo, faz-nos pensar sempre que é um problema do outro. O outro é a pessoa tóxica da qual convém afastar-se, o tóxico vem de fora, etc. No entanto, a senhora complexifica o termo para nos dar a entender que o tóxico está em nós mesmos. O “fora”, o que vem de fora, articula-se ou ativa algo “dentro”, no nosso próprio interior. Como é essa dialética dentro-fora?

Sim, a experiência tóxica, tal como a interpreto, é da ordem de uma nova dialética entre o exterior e o interior. Algo do outro vem tocar o nosso corpo, como uma flecha envenenada que nos fere, mas, antes disso, também nos embriaga. É o lado anfibológico do tóxico: por um lado, a experiência tóxica faz experimentar uma forma de prazer estranho e novo; por outro lado, conduz a derivar para um gozo mau e destrutivo.

A marca do excesso no nosso interior, diz a senhora, é a “pulsão”. O mandato de época impele à satisfação pulsional total. Mas, o que é a pulsão? É biológica, é cultural? É ontológica, é histórica? Um cruzamento de ambas?

A pulsão, tal como a define Freud, é uma força libidinal que se situa entre o somático e o psíquico. Direi com Lacan que a pulsão é também o que responde no corpo a uma angústia perante o desejo do outro. É a forma como o vínculo com o outro pode suscitar uma espécie de exigência pulsional, à qual o sujeito não consegue dizer “não”. A dimensão da hýbris, do excesso, poderia ser a que evoca o termo “tóxico”. Há algo que é “demasiado” e que provoca angústia.

No gozo, no tóxico, o outro, o diferente, desaparecem. Desaparece o vínculo, desaparece o tempo como duração, desaparece o mundo compartilhado. Evaporam-se como simples instrumentos ou ocasiões de gozo. Isso tem efeitos terríveis sobre o que Félix Guattari chamava de “as três ecologias”: o ecossistema pessoal, o ecossistema social e o ecossistema terrestre. Em todos os três casos, um tipo de forçamento ameaça chegar até o colapso e o esgotamento (da energia, da atenção, dos vínculos).

Sim, no meu ensaio interessei-me por estes três campos: o campo íntimo, o campo ecológico e o campo político. Porque o interesse deste termo “tóxico” é que se situa na encruzilhada dos três. Em cada um deles, o que se denomina “tóxico” é o que põe em perigo a vida, o que obriga os seres vivos a suportar uma estimulação que vai além do suportável.

O tóxico articula-se com a linguagem. Há uma palavra que envenena. Como entender isto?

Situo a experiência tóxica no nível de uma modalidade do discurso que exige uma forma de forçamento pulsional que coloca o sujeito em perigo: uma frase tóxica seria uma frase que envenena o sujeito, injetando em seu corpo uma forma de crença, mas também transgredindo uma fronteira. Penso nos discursos tóxicos como aqueles que te fazem abandonar toda ética
(....)

Texto completo:
https://outraspalavras.net/crise-civilizatoria/era-das-relacoes-toxicas/

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Os Sete Princípios do Homem (Teosofia)

Os Sete Princípios do Homem (Teosofia)
Os sete princípios são geralmente apresentados em duas categorias: o Quaternário Inferior (mortal) e a Tríade Superior (imortal).

Nome Sânscrito Significado Natureza e Função

Quaternário Inferior (Mortal)

1º Sthūla Sharira - Corpo Físico 
O veículo denso, a manifestação mais material. É o corpo que a biologia estuda. 

2º Prāna - Princípio da Vida 
A energia vital, o sopro de vida, ou força vital que anima o corpo físico. 

3º Linga Sharira - Duplo Etérico/Corpo Astral (Original) 
O molde ou duplo sutil do corpo físico, o veículo das forças vitais. É o corpo que se desintegra após a morte. 

4º Kāma Rūpa - Corpo de Desejos / Corpo Emocional 
O veículo das paixões, desejos, emoções e impulsos. É o princípio que reage de forma mais direta às vivências do dia a dia. 

Tríade Superior (Imortal)

5º Manas Mente - Alma Humana 
O princípio pensante e individual, o "Ego Humano" que reencarna. É a sede da mente racional e da consciência individual. 

6º Buddhi Alma Espiritual - Intuição 
O veículo da Consciência Pura, da Intuição, do Discernimento e do Amor Universal. É o princípio que reflete a Sabedoria Divina. 

7º Ātman Espírito - O Eu Real
A Essência Divina, o raio do Absoluto, idêntico à Mônada Universal. É o princípio mais elevado, a fonte da Consciência. 

A Tríade Superior e o Quaternário Inferior

1. O Quaternário Inferior (Mortal)
Estes são os quatro princípios inferiores que se desintegram e se dissolvem após a morte física, sendo a parte transitória da natureza humana.
1º a 4º Princípios: São responsáveis pela nossa existência física e emocional no plano terrestre.

2. A Tríade Superior (Imortal)
Estes são os três princípios superiores, que constituem o Ego Reencarnante ou a parte imortal do ser.
5º (Manas Superior), 6º (Buddhi) e 7º (Ātman) Princípios: Eles são a nossa ligação com o Divino e carregam o "registro" das experiências e lições aprendidas de uma encarnação para a outra (Karma). O Manas (Mente) atua como a ponte entre a natureza inferior e a natureza superior.

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

O poder transformador da palavra. A sapiência do antigo Egito.

“As Máximas de Ptahhotep” servem como um alerta do poder transformador da palavra. Uma obra-prima da Literatura Sapiencial do antigo Egito.

Trata-se de uma coleção de conselhos éticos e morais, escritos por volta da V Dinastia (cerca de 2400 a.C.), por Ptahhotep, um vizir (alto funcionário, o segundo em comando) do Faraó Djedkare Isesi.

Conteúdo e Propósito:

As Máximas abordam temas atemporais e universais, sempre fundamentadas no princípio ético central Ma'at do Egito: 
Maat (ou Ma'at) era um conceito fundamental na antiga civilização egípcia, representando a ordem cósmica, a verdade, a justiça, a moralidade e o equilíbrio e harmonia. 

Alguns dos ensinamentos:

1. Respeite a Ordem Universal

2. Humildade e Sabedoria: A importância de ser humilde, reconhecer que a sabedoria não é inata ("o homem não nasce sábio") e estar sempre aberto a aprender, tanto com os sábios quanto com os simples.

"Que teu coração nunca seja vaidoso por conta daquilo que conheces. Aprende com o sábio, mas também com o simples."

A sabedoria verdadeira vem de reconhecer que há sempre algo a aprender com todos.

3. Modere Suas Palavras

“Quem domina a língua é mais respeitado do que quem domina armas.”

A fala ponderada é essencial para a convivência pacífica e para evitar conflitos desnecessários.

4. Ouça Mais do Que Fala

“Quem escuta com atenção será sábio e terá muitos seguidores.”

A habilidade de ouvir é mais valiosa do que falar constantemente, pois promove compreensão.

5. Respeite os Mais Velhos

“Valoriza aqueles que vieram antes, pois eles pavimentaram o caminho para ti.”

6. Seja Justo em Todas as Situações

“Aquele que pratica justiça permanece firme para sempre.”

A justiça é o alicerce de uma vida equilibrada e de relações harmoniosas.

7. Trate Bem os Outros, Mesmo os Inimigos

“Não retribuas ofensas com vingança, pois isso te torna igual a quem te feriu.”

A compaixão e a imparcialidade devem guiar todas as interações.

8. Seja um Líder Gentil

“A liderança sábia é aquela que acolhe e apoia os liderados com generosidade.”

Liderar com empatia promove respeito e harmonia da equipe.

9. Controle Suas Emoções

“A raiva destrói o coração do homem; a paciência é seu maior escudo.”

Manter a calma e a serenidade em momentos difíceis é sinal de força interior.

10. Evite a Ganância

“A ganância é um veneno para o coração, enquanto a generosidade o enobrece.”

Viver com simplicidade e desapego é o segredo para uma vida plena e respeitável.

11. Valorize a Educação e o Conhecimento

“Aquele que busca o saber é mais respeitado do que aquele que acumula riquezas.”

A busca pelo aprendizado contínuo enriquece a mente e a alma.

12. Trate as Palavras com Respeito

“A palavra tem o poder de construir ou destruir. Escolhe a tua com cuidado.”

O impacto das palavras é duradouro e pode construir ou destruir vidas.

13. Pratique a Paciência

“A pressa traz erros, mas quem espera encontrará o caminho certo.”

A paciência é uma virtude essencial para tomar decisões sábias.

14. Aja com Integridade Sempre

“A verdade é eterna, mas a mentira é como a sombra: desaparece com o tempo.”

A integridade é o maior legado que alguém pode deixar.

As Máximas de Ptahhotep” nos convidam a refletir sobre valores essenciais para a convivência humana: respeito, justiça, equilíbrio e empatia. 


A ética no antigo Egito (o que nos falta hoje)

A ética egípcia antiga estava intrinsecamente ligada ao conceito de Ma'at (ou Maat).
Ma'at pode ser entendida como:

Ordem e Equilíbrio Cósmico: Representava a ordem universal, a harmonia, a verdade, a justiça e a retidão, estabelecidas pelo deus criador no início dos tempos. Era o estado ideal do universo.

Princípio Moral e Ético: Era o modelo de comportamento humano, um conjunto de preceitos éticos que guiavam a vida dos egípcios.

O objetivo de todo indivíduo era viver em conformidade com Ma'at, opondo-se ao caos (chamado Isfet).

Justiça e Retidão: A vida deveria ser vivida com honestidade, respeito à propriedade alheia e bondade para com os outros.

Aspectos Centrais da Ética de Ma'at:

A Confissão Negativa: Os princípios morais de Ma'at são mais conhecidos através das chamadas "Confissões Negativas" presentes no Livro dos Mortos (e em outros textos funerários). No julgamento após a morte (a Pesagem do Coração), o falecido devia recitar perante os deuses 42 negações, declarando não ter cometido uma série de pecados e transgressões contra Ma'at.

Exemplos de confissões: "Eu não pequei", "Eu não roubei com violência", "Eu não assassinei", "Eu não proferi mentiras", "Eu não agi com raiva maldosa", "Eu não caluniei", "Eu não fiz sofrer", "Eu não desviei comida".

Vida Pós-Morte: O destino da alma dependia de quão bem o indivíduo havia vivido em conformidade com Ma'at. No julgamento de Osíris, o coração do morto era pesado em uma balança contra a pena de Ma'at. Se o coração fosse mais leve que a pena (livre do peso do pecado), o falecido era digno da vida eterna.

Em resumo, a ética egípcia era uma ética de responsabilidade pessoal e social baseada na manutenção da Ordem (Ma'at) e na abstenção do Caos (Isfet), visando não apenas o bem-estar na vida terrena, mas também a salvação na vida após a morte.