O mundo em sacolejos por todos os poros, lados e cantos,
enquanto os formuladores, pragmáticos, se limitam a procurar soluções na
economia.
Há décadas vem sendo impregnada em nossas mentes, pelo
imperialismo neoliberal de consumo, a noção de que tudo é mercadoria, e por
isso com valoração pecuniária.
Dentro deste conceito estão as características de
competitividade e meritocracia, daí surge o "espírito animal" em
estado bruto.
Tais características, pelo caráter seletivo e primário,
torna a sociedade excludente e segregacionista, consequentemente injusta e
desequilibrada.
Nestas condições, como se procurar o indivíduo ético e moral
entre os normais?
Sem ética e moral, e com valor pecuniário à prêmio, o
indivíduo tende a se isolar em meio à multidão, onde são encontrados
concorrentes e não "irmãos" em solidariedade. O homem como
"animal social" deixa de existir para dar lugar ao homem animal
predador.
Uma sociedade assim se torna um aglomerado de medo (a partir
do seu próximo) e obsessão (por qualquer forma de segurança).
Por outra linha de raciocínio, dentro da mesma abordagem,
Bauman define a sociedade atual como líquida; portanto, fluida, efêmera,
amorfa, formada por cidadãos que terminam por se sentirem supérfluos e
descartáveis.
Uma sociedade assim se torna um agrupamento em solidão, com
sensação de não pertencimento, e desesperançada.
Esse choque de valores leva à crise existencial, de vazio,
medo e solidão, que não tem nada a ver com a economia.
Como nos alerta o Papa Francisco, o problema é sistêmico, de
modelo. Não serão apenas ajustes, como muitos propõem, que resolverão a crise.
Qual(ais) governante(s) terá(ão) força moral para liderar o
desafio ao sistema, aglutinar os desejos difusos de uma população em crise, e
apresentar as sementes de um novo mundo?
A história nos mostra que da omissão da classe dirigente em
momentos de crises sistêmicas, os (não) representados se unam para à pau e
pedra promoverem as mudanças. Que escolham, ou a solução dada aos manifestantes
das décadas de 50/60, cedendo direitos e aprimorando a democracia, ou a
solução, tomada à força, como ocorreu com a Queda da Bastilha.
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