segunda-feira, 25 de março de 2024

Reencarnação

Qual é a abordagem filosófica que nós podemos ter sobre o tema da reencarnação?

Resposta: 
- Não temos a pretensão de buscar uma resposta definitiva a respeito deste tema. 

A própria questão da encarnação às vezes acaba caindo numa questão de crença - de acreditar ou não. Só que a crença é um nível de conhecimento muito básico. Os filósofos procuram elaborar mais profundamente essas questões. Os filósofos buscam a verdade acima de tudo.  

A filosofia busca mostrar o ser humano não apenas como um ser físico, mas também como um ser meta-físico. Ou seja, do ser humano como sendo um conjunto entre algo espiritual e algo material.

Bem, aqui já temos uma ideia, de um modo geral, que o ser humano é muito mais do que o corpo.

Várias outras tradições filosóficas falam do ser humano como um ser constituído de um corpo físico, de uma energia de emoções, de pensamentos ou de uma mente concreta e de outros três elementos mais espirituais ou mais atemporais.

Ou seja, todo ser humano tem essa constituição. Uns, obviamente que mais desenvolvidos e mais conscientes dessa constituição, outros menos conscientes.  

Várias civilizações já abordaram essa temática. Na civilização oriental, o Bhagavad-Gita, por exemplo, já falava do processo da reencarnação. No diálogo entre Krishna e Ajurna há um momento em que se dialoga sobre esse processo de voltar a vida.

A temática da reencarnação era evidente não só na civilização hindu, mas entre os gregos, entre os romanos, entre os egípcios e em várias outras civilizações avançadas em suas épocas.

A partir do surgimento de religiões de origem hebraica, notadamente o judaísmo, o cristianismo e o islamismo que se passou a se formar uma cultura de não se acreditar na reencarnação.

Todas as culturas de todos os tempos sempre enxergaram essa ideia da reencarnação como algo mais natural. E não como uma crença, mas com fundamentos filosóficos. 

Ou seja, com base em estudos racionais, um trabalho de justificativas pelas investigações. Por exemplo quando você observa os ciclos da natureza - os antigos observavam muito isso - existe o inverno, a primavera, o verão, outono e o inverno... O próprio ser humano possui um ciclo diário... quando vai chegando a hora da noite você cai numa espécie de simulação da morte que é o sono. Na própria mitologia Tanatos que era o Deus da morte, era irmão de Morfeu que era o Deus relacionado ao mundo dos sonhos. 

'A essência da inteligência é ver o futuro'

'A essência da inteligência é ver o futuro e não saber das coisas': as previsões do físico visionário Michio Kaku
bbc.com | 25 de March de 2024

O físico e escritor americano Michio Kaku está convencido de que a era quântica será a que vai determinar o nosso futuro.

Kaku, 77 anos, destacou-se no campo da física teórica, mas também como um renomado divulgador científico.

Kaku analisa como a era quântica, e seus computadores, resolverão radicalmente alguns dos principais desafios da humanidade, desde erradicar doenças até alimentar uma população que só cresce.

“O futuro nos trará a cura do câncer, porque o câncer é uma doença que opera a nível molecular. Como o Alzheimer, como o Parkinson. E com a nossa tecnologia digital hoje não a entendemos”, explica Kaku.

"Mas com os computadores quânticos que estamos desenvolvendo, vamos entender como (o câncer) funciona e como podemos pará-lo", diz.

O físico de ascendência japonesa adianta que embora a inteligência artificial coloque-se como uma ameaça à humanidade, ainda há tempo para controlá-la.

Em conversa com Kaku em sua casa em Nova York, a BBC Mundo (o serviço em espanhol da BBC) buscou entender as previsões sobre o futuro trazidas em seu livro Supremacia Quântica.

BBC Mundo - Uma das coisas que mais chamou a atenção em seus trabalhos é a ideia de que o cérebro humano é, na verdade, três cérebros. Pode explicar?

Michio Kaku - Quando você analisa o cérebro humano, você percebe que existem três elementos que o compõem, tudo como parte de seu processo evolutivo: a parte de trás, que é o que chamamos de cérebro reptiliano, que é a parte que governa, digamos, os padrões de caça. Depois vem a parte média, o centro do cérebro, que conhecemos como o cérebro primata ou do macaco, que lida com a socialização, os temas de hierarquização. E depois temos a parte frontal, o córtex pré-frontal. E é aqui que surge a grande diferença: essa parte do cérebro é uma máquina do tempo. É uma máquina que pode ver o futuro, está constantemente fazendo simulações do que pode nos acontecer mais adiante.

Agora, se você não acredita em mim, convido você a fazer uma experiência: esta noite, ensine o conceito de amanhã ao seu cachorro. Não dá, é impossível. Os animais não entendem a ideia do amanhã.

E isso sempre me chamou a atenção.

BBC Mundo - Mas todos podemos ter a mesma capacidade de ver o futuro?

Kaku - Não. O que distingue um cérebro comum de um com um nível notavelmente superior? Poderíamos chamar o cérebro de uma pessoa comum de oportunista. Olha somente para as oportunidades que estão à sua frente. Nada de planejar coisas. Um ladrão ruim, por exemplo, só leva aquilo que está na sua frente. Os grandes pensadores exercitam essa máquina do tempo constantemente. Eles simulam o futuro. Conhecem as leis da natureza e são capazes de aplicá-las para projetar como pode ser o futuro.

O exército dos EUA percebeu isso durante a Guerra do Vietnã. Eles estavam tentando entender quem dentro da tropa poderia se tornar líder e estrategista e quem era apenas seguidor, cumpridor de ordens. Ao entrevistar esses soldados, depararam-se com algo que surpreendeu: que as pessoas comuns, que não se consideravam gênios, simulavam constantemente o que aconteceria depois, prevendo coisas, pensando em como escapar se fossem capturados ou como proteger a base em caso de um ataque surpresa.

O que acontece é que começamos a entender que nosso conceito de inteligência é apenas parcialmente correto. Pensamos que alguém é inteligente por saber coisas, mas isso não é a essência da inteligência. A essência da inteligência é ver o futuro. Estimular a criação de um futuro que não existe.

BBC Mundo - Dentro dessa ideia de olhar para o futuro, qual será a grande descoberta dos próximos 100 anos?

Kaku - Para responder isso, vamos pensar primeiro nas grandes descobertas do passado. Essas grandes descobertas se deram ao analisar também coisas pequenas, não apenas as muito grandes.

Quando falamos de coisas pequenas falamos de genética, do cérebro humano; por coisas grandes me refiro à teoria do Big Bang, à qual agora estamos aplicando a teoria quântica do universo, por exemplo.

Pois bem, o próximo grande passo será a união dessas duas ideias: usar a teoria quântica para entender a genética e o cérebro humano.

E é aqui que entram os computadores quânticos. A mãe natureza é de alguma forma um computador quântico. Atualmente, os processadores digitais computam em uns e zeros. Essa não é a linguagem da mãe natureza.

A mãe natureza tem uma mente quântica que entende de átomos, elétrons, fótons. Essa é a linguagem do universo. Esse será o nosso grande passo para o futuro.

BBC Mundo - E o grande passo será no campo da física, ou também em outras áreas, como a Medicina?

Kaku - Vejamos o caso da Medicina. A Medicina atual, tal como praticada, é tentativa e erro. Testamos um medicamento: se funcionar, ótimo, e se não funcionar testamos outro. Os medicamentos, de fato, são encontrados quase por acidente. Foi assim que descobrimos a penicilina e outras drogas fascinantes.

Agora, se aplicarmos a teoria quântica, você pode ver a molécula. Você pode analisá-la. Você pode ver como os átomos funcionam. As substâncias. Os medicamentos podem ser criados a partir do zero. Isso significa que não vamos mais precisar de químicos? Não.

Os químicos do futuro vão usar os computadores quânticos para entender as reações químicas. Os biólogos do futuro vão usá-los para entender como o DNA funciona. Os médicos e cientistas que usam apenas a química ou a biologia para fazer seu trabalho vão ficar no caminho, porque o futuro será a mecânica quântica para criar os medicamentos.

BBC Mundo - Nós nos tornaremos imortais... não haverá câncer então?

Kaku - Com a ajuda dos computadores poderemos curar o câncer. Antes que o tumor apareça, vamos prever a doença cancerosa do paciente. Só com uma ida ao banheiro, por exemplo, será possível ler seu DNA e como ele estará no futuro. Vai te dizer o DNA cancerígeno dentro de dez anos, antes que o tumor apareça, antes que ele se desenvolva.

Nos Estados Unidos, é possível fazer um exame de sangue para diagnosticar o câncer. Um exame de sangue desse tipo revelará se há câncer ou não de forma cada vez mais concreta. A palavra tumor desaparecerá da nossa linguagem. O mesmo acontecerá com o câncer.

BBC Mundo - Você diz, também, que a internet será algo obsoleto, que vamos nos conectar através da mente, do cérebro...

Kaku - Uma coisa é certa: a internet do futuro não será digital. O digital é muito lento, muito cru. A internet do futuro será quântica e se fundirá com o cérebro. Vamos chamá-la de "brainet" (um jogo de palavras entre brain, que significa cérebro em inglês, e internet).

Você vai pensar algo e esse pensamento será transferido pelo mundo, interagindo com outras coisas. Pode ser que não utilizemos cabos ou dispositivos. Vamos simplesmente pensar e essa brainet vai fazer o resto.

Há dois lados nesse desafio. Um bom, que é aprendermos como está conectado (este sistema), e outro ruim: vai levar um tempo.

Por exemplo, se você analisar o cérebro de um inseto, pronto, você já tem a imagem de como o cérebro funciona. Já temos o mapa: cerca de 100.000 neurônios.

Agora, o cérebro humano tem 100 bilhões de neurônios. Portanto, temos um longo caminho pela frente no que chamamos de "Projeto Conector", que conseguirá desvendar a fiação interna do cérebro humano.

Assim como temos o projeto do genoma humano, que tentou decifrar nosso código genético, esse revelará os segredos do cérebro e mudará tudo: as pessoas simplesmente vão pensar e seus pensamentos vão circular pelo mundo.

BBC Mundo - Muitos cientistas já advertiram sobre os perigos da inteligência artificial e os danos que ela pode causar...qual é a sua visão sobre isso?

Kaku - Acredito que atualmente temos três grandes perigos para enfrentar: a guerra nuclear, a ameaça das armas biológicas e o aquecimento global. E agora podemos acrescentar também a inteligência artificial.

Há duas ameaças claras que a inteligência artificial traz e que são bastante diferentes.

A primeira é imediata: por exemplo, que os drones possam reconhecer um rosto humano e que por acidente esse drone mate de forma indiscriminada dezenas de pessoas. Ou seja, que tenhamos criado uma arma para matar automaticamente. Uma máquina que também pode voar, que pode monitorar uma determinada área, identificar formas humanas. E algumas nações podem ser tentadas, em alguns anos, a usar essas armas contra as pessoas, não apenas em tanques de guerra.

Mas isso é uma ameaça no curto prazo. A maior ameaça da IA é a longo prazo.

A maior ameaça será quando a IA começar a se aproximar da (inteligência) do ser humano. Mas falta muito para chegar nesse ponto.

Por exemplo, quão inteligente é o nosso robô mais inteligente? Se você colocar um inseto em uma floresta, o inseto conseguirá se alimentar e encontrar um abrigo.

Se você colocar um robô agora, é possível que sobreviva.

Mas com o tempo nossos robôs vão ter a inteligência de um rato.

Depois disso, eles conseguirão ser inteligentes como um coelho. Nesse momento, eles serão potencialmente uma ameaça.

Não sei, talvez em cerca de 100 anos tenhamos robôs que não poderemos distinguir de humanos. E teremos que nos certificar, nesse momento, de que esses robôs não tenham consciência e de alguma forma se voltem contra nós.

Vamos ter que colocar um chip na mente deles para desligá-los no exato momento em que tiverem pensamentos assassinos. Mas realmente acho que ainda falta muito para isso. E acho que a principal ameaça é o uso de drones que podem matar de forma indiscriminada.

BBC Mundo - "Os computadores quânticos vão nos permitir decifrar os segredos da vida, do universo, da matéria", você escreveu. Como vão definir o nosso futuro?

Kaku - Atualmente os computadores são baseados em informação digital, que pode ser codificada em séries de 1 e 0. Ou seja, a capacidade é reduzida ao número de estados (de 1 e 0) que você tem no seu computador.

Os computadores quânticos são baseados em princípios que podem ser ilimitados. Por exemplo, os computadores quânticos que estão sendo produzidos (um pelo Google e outro na China) são 2¹00 vezes mais poderosos do que os supercomputadores atuais.

E acredito que com essa capacidade eles serão capazes de resolver, em algum momento, o problema do envelhecimento. No futuro, penso eu, não vamos necessariamente morrer de velhice.

O problema é que os computadores quânticos não vão nos salvar, por causa da forma como os humanos interagem entre si. Precisamos unir as pessoas de outra maneira para vivermos em paz.

Lembro-me de uma estranha conversa entre o ex-presidente dos EUA Ronald Reagan e o líder soviético Mikhail Gorbachev, em que Reagan pergunta ao colega soviético se quando chegasse o momento de os marcianos invadirem a Terra seus países seriam amigos. Ou seja, eles lutariam juntos contra os marcianos? Gorbachev achou que Reagan estava louco, especialmente por estarem lidando com armas nucleares.

Mas o que eu acho é que Reagan estava se dando conta de algo. De que podíamos estar cada vez mais unidos. Ou seja, a grande solução é que estivéssemos unidos diante de algo. Que essa seria a grande solução. E essa será a grande solução.

BBC Mundo - Considerando que a internet estará obsoleta e os computadores digitais serão inúteis, e de acordo com o que você aponta em seu livro "o mundo vai ser mais científico, não menos científico", como você acha que a educação para o futuro deve ser?

Kaku - A verdade é que algumas pessoas temem a tecnologia porque dizem que vai substituir os trabalhadores. E isso é algo que não está certo.

Mas dou um exemplo: os ferreiros foram muito importantes. Se você tivesse um cavalo, tinha que pagar um ferreiro. No entanto, com o surgimento do carro, cada vez menos os ferreiros foram necessários. E eles ficaram sem trabalho. Quem substitui os ferreiros? Bem, apareceram os mecânicos ou os técnicos que trabalham na indústria automotiva.

Um emprego é fechado. Um emprego é criado.

Agora estamos discutindo se os robôs vão substituir os humanos. Sim e não.

Acho que há três tipos de trabalhos que os robôs não poderão fazer: reparar coisas. Eles não vão ser encanadores ou jardineiros. Os robôs não podem recolher o lixo. Esses trabalhos exigem reconhecer padrões. Cada lixo é diferente, cada banheiro é diferente, então aqueles trabalhos que não são repetitivos vão sobreviver na era dos robôs.

Os outros empregos são aqueles que requerem relações pessoais, como os professores. Os robôs não entendem a natureza humana. Eles não podem ser professores de uma criança. Eles não podem cuidar de um bebê.

E a terceira classe de empregos são aqueles que requerem bom senso, como os advogados. A base do trabalho é interpretar a lei, que é basicamente compreender a natureza humana. Nesse sentido, também poderíamos falar de líderes, de papéis de liderança. As decisões corporativas ou em um grupo humano são baseadas no mesmo princípio de conhecer a natureza do ser humano.

Então a educação pode ir nesse caminho, das áreas que primam a natureza do ser humano e de trabalhos que não podem ser substituídos pelo exercício de uma máquina.

BBC Mundo - Em um tom mais pessimista, quais são os desafios que não serão resolvidos pela era quântica?

Kaku - Estou convencido de que os computadores quânticos nos ajudarão a resolver problemas como o aquecimento global - permitirão que a energia nuclear seja totalmente limpa. Eles vão criar novas formas de riqueza, é claro. Como eu disse, eles vão ajudar a curar doenças como o câncer e o Alzheimer.

No entanto, o que as máquinas não vão resolver serão temas como a guerra e a inveja.

Ou seja, vamos estar livres de câncer e Alzheimer, mas a guerra sinto que vai continuar.

E isso tem a ver com o fato de que a evolução nos dá a capacidade de proteger o que é nosso. E a evolução nos dá muitas coisas que são em benefício da humanidade, e outras que não.

A evolução só quer seres humanos que sobrevivam. E se sobreviver significa matar os outros seres humanos, assim será feito. Dessa forma, estamos cheios de imperfeições dentro da raça humana. E os computadores quânticos não vão resolver os problemas que derivam deles.

Mas não é o fim da espécie: à medida que os humanos prosperam, haverá menos necessidade de lutar pelos recursos que temos.

E, nesse sentido, os computadores quânticos vão nos dar a resposta para produzir alimento suficiente para uma população em constante crescimento. Ou seja, a capacidade de análise dessas ferramentas - a nível molecular - nos permitirá replicar efetivamente as formas como os alimentos são produzidos naturalmente no mundo. E isso é apenas um exemplo do que virá.

Article information
Author, Alejandro Millán Valencia
Role, BBC News Mundo

terça-feira, 19 de março de 2024

Apenas para você saber o que fazem com a nossa mente

Marginalizaram a política em nossa mente para que a gente não seja o determinador dos acontecimentos. Assim eles definem isoladamente o que querem. 




Hoje temos horror quando se fala política, e sequer sabemos que tudo o que envolve a gente em uma cidade é política.



Nos afastando da política deixamos os 
políticos à vontade.

Países completamente desorganizados são o que a população menos gosta de política.

Se nos ensinassem o que é a política e sua importância estaríamos muito longe do que alguns estudos preveem:

Reflita sobre isso.

sábado, 2 de março de 2024

Extremo centro x extrema direita, a atual polarização política.

Extremo centro x extrema direita
piaui.folha.uol.com.br

A crise de representatividade, aliada às crises econômicas, chacoalharam o Ocidente. A extrema-direita soube aproveitar esse caldo e trazer como resposta ao moribundo Estado-nação uma vitalidade única de nacionalismo – forma o governo de países como os Estados Unidos, Turquia, Itália, Hungria, Polônia. Cresce significativamente em países como França, Holanda, Alemanha e Suécia. 

O populismo de direita, como é chamado por analistas, se baseia sempre em algum discurso de ódio quanto a alguma minoria e em combate ao establishment e seus valores amorais (no caso, são valores liberais).

Se, no passado, a extrema-direita era essencialmente anticomunista, hoje ela é antiliberal. A figura do barbudo militante comunista do passado foi substituída pela do burguês progressista e viajado, o vencedor da globalização.

Não à toa, o inimigo nº 1 desses movimentos é justamente um financista, o senhor George Soros, aluno de Karl Popper, talvez o mais brilhante pensador liberal do século XX. 

A extrema direita de hoje é contrária ao sistema de poderes e contrapoderes e ao modo de escrutínio. Bolsonaro é contrário aos direitos humanos, em outras palavras às liberdades individuais: defende a tortura e as execuções extrajudiciais (afirma que os direitos humanos são a razão para a crise de segurança pública). E também militantemente contrário à livre associação e à livre imprensa – esta última seus aliados chamam de fake news.

Bolsonaro recusa a evidência científica como base para a ação governamental, ao negar as mudanças climáticas e querer entregar a Amazônia para o extrativismo mais primário e grotesco.

Opõe-se a uma sociedade diversa e plural, o que se nota no combate que empreende ao que, estupidamente, chama de “ideologia de gênero”. Salvini, Trump, Erdogan, Orban, Putin, também têm o mesmo discurso. Em nenhum de seus países o alvo é a esquerda, mas sim o liberalismo.

O que está em jogo é a manutenção da ordem global liberal que parecia consolidada no momento da queda do Muro de Berlim e é agora desafiada pelos movimentos de extrema direita. 

É nesse sentido que surge uma disputa muito mais profunda do que a rixa esquerda versus direita: o embate entre extrema direita e extremo centro. 

A luta não é distributiva, é de visão de mundo, e se dá entre nacionalismo e a globalização, entre a ignorância provinciana e o cosmopolitismo elitista, quer dizer, entre barbárie e civilização.

(...)
Miguel Lago
É cientista político e diretor executivo do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps). Cofundador do Meu Rio e do Nossas, lecionou na Universidade Columbia em Nova York e na Sciences Po Paris

Artigo completo:
https://piaui.folha.uol.com.br/extremo-centro-x-extrema-direita/

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

7 hábitos que você precisa abandonar para ter mais equilíbrio e autoconfiança


7 hábitos que você precisa abandonar para ter mais equilíbrio e autoconfiança
Por Juliana Peixoto, mundoemrevista.com.br.
26 de February de 2024 


Comparar-se com os outros

Constantemente medir sua vida, conquistas e aparência em relação aos demais é prejudicial para a autoconfiança e equilíbrio emocional.

Cada indivíduo possui um caminho único e circunstâncias singulares. Em vez de se comparar, focar em suas próprias metas e avanços.

Criticar a si próprio

O excesso de autocrítica pode resultar em baixa autoestima e ansiedade. Importante cultivar uma voz interna compassiva e gentil.

Exercitar a autocompaixão e aprender a se perdoar, como perdoaria um amigo.

Depender de validação externa

Contar com a aprovação externa para se sentir bem consigo mesmo é uma armadilha comum. A verdadeira confiança vem de dentro.

Aprender a se valorizar independente das opiniões alheias. Buscar aprovação interna ao invés de validação externa.

Falar impulsivamente

Reações impulsivas em momentos de emoção podem levar a arrependimentos e conflitos. 

Refletir sobre suas palavras e como podem impactar os outros. Comunicar-se de forma assertiva e respeitosa, considerando as consequências do que é dito.

Desculpar-se em excesso

Pedir desculpas sem necessidade por questões triviais pode transmitir insegurança e enfraquecer sua autoridade. Reservar desculpas para situações genuínas e necessárias.

Não conseguir dizer ‘não’

Aceitar todas as demandas e solicitações alheias pode sobrecarregar e desequilibrar emocionalmente. Aprenda a estabelecer limites saudáveis e recusar quando necessário. Definir limites, sem culpa.

Ignorar o autocuidado

Negligenciar suas necessidades físicas, emocionais e mentais pode resultar em esgotamento e desequilíbrio.

Dedicar-se ao autocuidado, reservando tempo para atividades que recarreguem suas energias, como exercícios, hobbies, meditação ou simples descanso. Reconhecer a importância de cuidar de si.

Matéria completa:
https://mundoemrevista.com.br/7-habitos-que-voce-precisa-abandonar-para-ter-mais-equilibrio-e-autoconfianca/

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Bauman examina crise da internet e da política

Redes sociais criaram redomas de pensamento único. Democracia é devastada por poderes globais. Há saídas, mas vivemos a “hora mórbida”

Zigmunt Bauman, entrevistado por Alessandro Gilioli, no L’espresso | 
Tradução: Antonio Martins

Zygmunt Bauman, o grande sociólogo teórico da “sociedade líquida” tem dedicado parte de suas reflexões recentes à internet – em particular, às redes sociais, acusadas de criar redes afetivas na verdade inexistentes. 

Professor Bauman, a sua crítica à internet é existencialista?

(...) a maior parte das pessoas usa a internet não para abrir a própria visão mas para fechar-se dentro de cercados, para construir “zonas de conforto”. 
(...) onde as pessoas vivem num tipo de mundo imaginário, sem controvérsias, sem conflitos, sem se expor às diferenças.

É claro que, graças à rede, pode-se hoje convencer as pessoas a ir às ruas manifestar-se contra qualquer coisa ou qualquer um, mas a incidência sobre o real destas mobilizações nascidas nas “zonas de conforto” é outro assunto. 

(...) segundo o senhor, não há uma relação entre a difusão da internet e os protestos anti-sistema?

Sim, há, mas a internet não é a causa, é só um veículo.  As causas dos partidos anti-sistema relacionam-se, na verdade, com a crise de confiança na democracia. 

(...), hoje os governos estão sob dupla pressão. 

De um lado, devem responder aos eleitores, que reivindicam dos políticos realizar o que prometeram; 

de outro, a realidade global interdependentes – os mercados as bolsas, a finança e outros poderes jamais eleitos por ninguém – impedem que estas promessas sejam mantidas. 

A crise de confiança nasce desta dupla pressão. Sentimos todos que agora as democracias não mais funcionam, mas não sabemos como ajustá-las ou com o quê substituí-las.

É disso que nascem os movimentos anti-sistema?

Diria, melhor, que é disso que nascem os sentimentos anti-sistema. 

As pessoas compartilham reações emotivas nas redes sociais e às vezes organizam-se, a partir dali, para ir às ruas e protestar. 

Gritam todas os mesmos slogans, mas na verdade têm interesses diversos e expectativas difusas. Depois, voltam para casa contentes pela fraternidade com os demais que se criou, mas é uma solidariedade falsa. 

Chamo-a de “solidariedade carnaval”, porque me lembra aqueles eventos nos quais, por quatro ou cinco dias, coloca-se a máscara, canta-se e dança-se junto, fugindo por um tempo limitado da ordem das coisas. 

Estes protestos permitem a explosão coletiva de problemas diversos, e de demandas individuais, por um lapso breve de tempo, como no carnaval – mas a raiva não se transforma em mudança compartilhada.

Alguns partidos, que ao menos canalizam estes sentimentos, são muito distintos entre si. Que pensa a respeito?

Também estes partidos encontram-se diante da crise da democracia da qual falávamos. 

E a esta crise respondem tanto os que buscam reforçar a democracia quanto os que propõem, em vez disso, um “homem forte”, ou qualquer forma de fundamentalismo político-religioso. 

De resto, se as democracias não são capazes de realizar as expectativas, não surpreende que se busque alguém a quem atribuir uma função salvadora, o homem “de pulso” que parece capaz de realizar o que as democracias não sabem cumprir.

Um exemplo recente é Donald Trump: hoje, muitos eleitores norte-americanos seduzem-se por quem ataca as instituições democráticas e zomba de sua representação. 

Esta ruptura de confiança na democracia explica também a característica “populista” que tem sido atribuída aos movimentos anti-sistema? O senhor está de acordo com esta definição?

“Populistas”, na política, são sempre os outros, os adversários. 

Na verdade, qualquer bom partido deveria ser “populista” – ou seja, escutar o que pensam e o que pedem as pessoas comuns, os cidadãos. 

No entanto, no debate político a palavra é usada em sentido pejorativo. Não me preocupa a suposta ameaça do “populismo”, mas a possível resposta autoritária à crise da democracia.

Mas por que em alguns países, como na França, o protesto anti-sistema derivou à direita e em outros, como a Espanha, à esquerda?

Porque estamos num interregno, para citar Gramsci. Ele dizia que “se o velho morre e o novo não nasce, neste interregno ocorrem os fenômenos mórbidos mais diversos”. Hoje, os velhos instrumentos não funcionam mais; mas os novos ainda não existem. 

Direita e esquerda eram conceitos plenos de significado há poucas décadas, mas são muito menos na complexidade policêntrica do presente.

Em que consiste esta complexidade policêntrica?

Depois da queda do Muro de Berlim, alguns pensadores levantaram a hipótese do fim da História, do fim dos conflitos políticos, no interior de um sistema liberal-capitalista pacífico e definitivo.

Erraram. O planeta está muito mais dividido e conflituoso que antes, cheio de choques locais mais difíceis de compreender, se comparados com os que ocorriam entre os dois blocos. 

Antes, o confronto era entre conservadores e progressistas, entre quem queria uma sociedade baseada no lucro e quem a queria assentada na cooperação. Hoje, os conflitos são até maiores, mas menos simples e menos puros.

(...)  muitos políticos herdeiros da esquerda apavoram-se com a ideia de irritar as bolsas, os mercados, a finança – em suma, os poderes que podem colocar um país de pernas para o ar em um dia. 

Por isso, mudam de tema. Por exemplo, autodefinem-se de esquerda os políticos favoráveis ao casamento homossexual. Bonito, justo, de acordo, mas o que tem a ver com o significado de esquerda? O que tem a ver com a justiça social, que era a razão de ser da esquerda.

Matéria completa:
1/03/2016

http://outraspalavras.net/capa/bauman-examina-crise-da-internet-e-da-politica

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

6 coisas que podem melhorar seu humor — e que não envolvem dieta ou exercício


6 coisas que podem melhorar seu humor — e que não envolvem dieta ou exercício
bbc.com | 18 de February de 2024

Embora praticar exercícios e manter uma dieta saudável sejam estratégias reconhecidas que contribuem para melhorar o estado de ânimo, elas não são as únicas ferramentas disponíveis para alcançar esse resultado.

O jornalista da BBC e médico, Michael Mosley, compartilha em seu programa de rádio da BBC Radio 4, chamado "Apenas Uma Coisa", muitas outras ações que podemos realizar para aprender a viver mais felizes. Aqui estão algumas de suas recomendações para melhorar o humor.

1. Escrever

Se você está com muitas preocupações, ficará surpreso ao descobrir que colocá-las no papel pode ser uma maneira eficaz de superá-las.

Ao dedicar apenas 15 minutos à prática conhecida como "escrita expressiva", é possível reduzir pensamentos negativos e o estresse, aprimorar o humor, o sono, o sistema imunológico e até mesmo a memória. Os benefícios podem começar a ser percebidos em apenas uma semana.

2. Afaste-se do seu telefone

Provavelmente você sabe que o uso excessivo do telefone celular pode ser prejudicial para sua saúde mental, sono e produtividade.

Um estudo realizado na Alemanha mostrou que as pessoas que reduziram o uso do telefone em apenas uma hora por dia se sentiram menos ansiosas e mais satisfeitas com a vida. 

3. Compre plantas para sua casa

As plantas de interior não apenas contribuem para deixar um ambiente mais bonito, especialmente aqueles sem vistas, mas também melhoram a qualidade do ar e podem aprimorar o bem-estar, a memória e a produtividade.

4 . Cantar

Pode ser que você aprecie cantar no chuveiro ou talvez com o rádio no carro, mas sabia que ao fazer isso também está liberando uma variedade de substâncias químicas que contribuem para os sentimentos de felicidade?

Exemplos incluem endorfina, dopamina, serotonina e oxitocina; além de endocanabinoides, compostos químicos que têm ações semelhantes às do componente ativo da planta de cannabis.

Consequentemente, cantar pode ter uma ampla gama de efeitos psicológicos significativos, ajudando a desenvolver a autoconfiança, reduzir a solidão e impactar positivamente nos níveis de ansiedade.

5. Aprenda uma nova habilidade

Quando você se concentra na tarefa em mãos, pode entrar no que é conhecido como estado de fluxo, ou a "zona", onde está completamente imerso no momento. Isso acalma a parte frontal do seu cérebro, o que geralmente ajuda a analisar e questionar menos o seu próprio comportamento, diminuindo assim o julgamento das suas ações.

6. Conte as coisas pelas quais você é grato

Isso pode até ter parecer antiquado, mas há uma base científica sólida por trás da afirmação de que cultivar o hábito de expressar gratidão não só fará você se sentir melhor, mas também pode reconfigurar seu cérebro.

Em um estudo em que as pessoas foram instruídas a cultivar sentimentos de gratidão, os pesquisadores observaram uma maior ativação na região da córtex pré-frontal, associada à tomada de decisões e recompensa social.

Para experimentar os benefícios e começar a transformar seu padrão de pensamento de negativo para positivo, tente simplesmente pensar em três coisas pelas quais você é grato em um dia, seja uma gratidão geral ou interações positivas com os outros.

Artigo completo:

https://www.bbc.com/portuguese/articles/cz9m2rldq01o.amp?

sábado, 17 de fevereiro de 2024

O preconceito — atalho para o radicalismo e o autoritarismo


Carta ao Leitor: A beleza das diferenças
veja.abril.com.br

O preconceito — atalho para o radicalismo e o autoritarismo, chagas da humanidade — foi sempre um capítulo trágico na história da civilização. Na trilha do tom de superioridade, como se uns fossem melhores do que outros, os grupos majoritários impuseram ao longo dos séculos a mão de ferro contra os minoritários, em jogo permanente de poder. 

É longa a lista de classes instadas a ficar quietas, caladas, à margem da sociedade: os negros, os homossexuais, as mulheres… 

A visão de mundo hegemônica dos que têm poder representou, desde sempre, o caminho mais curto para a opressão, as guerras e os genocídios — alguns evidentes, outros silenciosos, mas igualmente perniciosos.

Da ruína moral, depois de séculos de manutenção das coisas como elas são, brotaram nos últimos anos bandeiras saudáveis que fizeram mover as placas tectônicas. 

Nos anos 1960, as mulheres saíram às ruas exigindo isonomia com os homens, de sutiã em mãos. Os movimentos pelos direitos civis, nos Estados Unidos, iluminaram a dor contida e o pedido de espaço dos negros, que, na voz de Martin Luther King, tinham um sonho. Mais recentemente, como resposta ao assédio sexual dos tubarões de Hollywood contra as atrizes, surgiu o #MeToo, denunciando agressões. Novas legislações, inclusive no Brasil, autorizam o casamento homoafetivo. 

Nesse aspecto, o da grita contra as injustiças e os abusos, em nome de igualdade, simples assim, o mundo melhorou — embora a estrada ainda seja longa e sinuosa.

Celebrem-se, portanto, a inteligência e a força de quem se mexeu para brigar, fazendo andar a roda da sensatez. 

A diversidade é inegociável, como bem vimos no Carnaval. Contudo, e como constatação de que o ser humano é complexo, demasiadamente complexo, a bandeira de direitos justíssimos produziu exageros — e, em alguns casos, fez com que os defensores de boas posturas se comportassem como as pessoas a quem
acusam, de dedos em riste, em patrulha multiplicada. 

Não é fácil, mas convém estar atento às fronteiras — até onde devemos ir? — das necessárias posturas politicamente corretas, que apontam caminhos e sugerem inclusive um modo diferente de usar as palavras (e não é o caso de temê-las ou desdenhá-las).

Nos Estados Unidos, o termo woke (passado do verbo acordar, despertar) nasceu no seio da comunidade afro-­americana, em vigília contra a injustiça racial. Trata-se, portanto, em sua origem, de expressão cultural criada para ampliar o questionamento das normas opressoras historicamente impostas pela sociedade. 

Não demorou, contudo, para que o woke fosse adotado pelo outro lado, em forma de acusação — para essa turma conservadora, woke descreveria os supostos hipócritas que acreditam ser moralmente superiores e querem impor suas ideias progressistas aos demais. 

E então, de um rastilho fundamental e correto — o não ao racismo —, brotou o quase oposto, como se a defesa do direito de viver engendrasse um outro tipo de hegemonia, em conflito de versões intransigentes. 

Não pode ser assim. A sabedoria é não transformar o outro em inimigo, aceitar o diferente sem ódio e polarização — e não erguer na compulsória luta contra a discriminação um outro muro intransponível.

Publicado em VEJA de 16 de fevereiro de 2024, edição nº 2880