A metáfora da dança cósmica encontrou sua expressão mais bela e profunda no hinduísmo, na imagem do Deus dançarino Shiva.
A dança de Shiva simboliza não apenas os ciclos cósmicos de criação e destruição, mas também o ritmo diário de nascimento e morte, visto no misticismo indiano como a base da existência.
Ao mesmo tempo, Shiva lembra-nos que as múltiplas formas do mundo são "maya" - não fundamentais mas ilusórias e em permanente mudança - na medida em que segue criando-as e dissolvendo-as no fluxo incessante de sua dança.
Nas palavra de Heinrich Zimmer:
"Seus gestos selvagens e cheios de graça precipitam a ilusão cósmica; seus braços e pernas ondeantes e o balanço do seu torso produzem - na verdade, são - a continua criação-destruição do universo, a morte equilibrando exatamente o nascimento, o aniquilamento como fim de tudo aquilo que veio à existência.
Os artistas indianos do século X e XII representaram a dança cósmica de Shiva em magnífica esculturas de bronze de figuras dançantes, com quatro braços, cujos gestos soberbamente equilibrados e, não obstante, dinâmicos expressam o ritmo e a unidade da Vida.
Os diversos significados da dança são transmitidos pelos detalhes dessas figuras através de uma complexa alegoria pictórica.
A mão direita superior do deus segura um tambor que simboliza o som primordial da criação; a mão esquerda superior sustenta uma língua de chama, o elemento da destruição.
O equilíbrio das duas mãos representa o equilíbrio dinâmico entre a criação e destruição do mundo, acentuado ainda mais pela face calma e indiferente do Dançarino no centro das duas mãos, no qual a polaridade entre criação e destruição é dissolvida e transcendida.
A segunda mão direita ergue-se no gesto que significa "não tenha medo", expressando manutenção, proteção e paz; por sua vez, a mão esquerda remanescente aponta para baixo, para o pé erguido e que simboliza a libertação da fascinação de "maya".
O Deus é representado dançando sobre o corpo de um demônio, símbolo da ignorância do homem e que deve ser conquistado antes que seja alcançada a libertação. A dança de Shiva é "a imagem mais clara da atividade de Deus de que se pode se vangloriar qualquer arte ou religião". A dança de Shiva é "o universo que dança", o fluxo incessante de energia que permeia uma variedade infinita de padrões que se fundem um nos outros.
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